De acordo com o documento Economic Highlights, divulgado na manhã de quinta-feira (10) pelo Bradesco, a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aumentar para 50% as tarifas sobre importações brasileiras a partir de 1º de agosto deverá provocar redução de US$ 15 bilhões (0,6% do PIB) das exportações do Brasil, perda adicional de US$ 13,6 bilhões em relação à tarifa de 10% inicialmente anunciada. Isso equivale a 9% das exportações totais feitas entre janeiro deste ano e a primeira semana de julho. Em relação somente aos Estados Unidos, o estrago seria equivalente a 37% do total exportado a Washington no ano passado. Além disso, como dano colateral inerente haveria impacto de -0,3 ponto percentual no PIB. Trump anunciou a taxação na quarta-feira (9).
Segundo o Bradesco – que faz a ressalva de que os dados são preliminares e ainda há espaço para negociações antes que o tarifaço entre em vigor, daqui três semanas –, “para manter a conta corrente estável, o câmbio poderia ter depreciação da ordem de 6%”. Caso o real deprecie 6%, nas projeções do banco, a inflação poderia subir 0,35 ponto percentual e os impactos seriam percebidos ainda este ano, com IPCA ficando pouco abaixo de 5,5%. O problema na avaliação do Bradesco se agrava porque as consequências não são apenas as diretas. “Além dos impactos de balança comercial, uma tarifa tão elevada traz impactos de elevação da incerteza para a economia brasileira.”
Trump disse que parte da decisão se deve a déficits comerciais dos EUA com o Brasil, o que não é verdade. O Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) do Brasil afirmou que há 17 anos o fluxo de bens entre os dois países favorece os americanos. As principais exportações dos EUA para o Brasil são aeronaves comerciais, produtos petrolíferos, petróleo bruto, carvão e semicondutores. Já as principais exportações do Brasil para os EUA são petróleo bruto, café, aço semiacabado e ferro-gusa. Segundo a Reuters, o Brasil é o 15º maior parceiro comercial de Washington, com comércio bilateral total de US$ 92 bilhões em 2024 e no qual os americanos têm um raro superávit comercial de US$ 6,8 bilhões, de acordo com dados do US Census Bureau.
Mesmo tentando disfarçar como ação comercial, Trump deixou claro que sua decisão é política. No anúncio, ele afirmou que a sobretaxa será imposta, em parte, devido aos “ataques insidiosos do Brasil às eleições livres” e que a forma como o Brasil tem tratado Jair Bolsonaro é uma “vergonha”. Para Trump, o julgamento contra o ex-presidente brasileiro é uma “caça às bruxas que precisa ser encerrada”. Na própria quarta-feira (9), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o tarifaço de 50% a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos será respondido com a Lei de Reciprocidade Econômica. Isso deve elevar ainda mais o nível de estrago nas contas públicas, no PIB e na inflação.
A ação, até aqui unilateral de Trump, recebeu comentários contrários até dentro dos Estados Unidos. Brad Setser, especialista em comércio global e membro sênior do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, disse à agência de notícias Reuters que a ação de Trump pode facilmente se transformar em uma guerra comercial prejudicial para as duas democracias. “Isso mostra o perigo de termos tarifas sob o controle unilateral de um único homem”, afirmou Setser. Stephen Olson, pesquisador sênior do Instituto de Estudos do Sudeste Asiático citado pela Bloomberg, diz que é inédito que os EUA adotem uma tarifa a um país para interromper um processo judicial. “E isso sinaliza aos parceiros comerciais dos EUA que qualquer questão que chame a atenção de Trump pode se tornar uma parte problemática da agenda comercial”, afirmou.