Campos Neto diz que eleição americana pode impactar na inflação e nos juros

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Presidente do BC disse que tem receio de que as eleições americanas tenham impacto na inflação dos EUA; reflexos podem afetar o Brasil
Crédito: Raphael Ribeiro/BCB

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (13) que há um receio de que as eleições americanas e as propostas dos dois candidatos tenham impacto na inflação nos Estados Unidos, impedindo que aquele país trabalhe com taxas de juros mais baixas.

“Primeiro, quando a gente olha a eleição americana, as campanhas da eleição americana e o que tem sido dito pelos candidatos, a gente tem basicamente um conjunto de políticas que leva a crer que a inflação americana vai ser mais alta”, afirmou o presidente do Banco Central.

Campos Neto destacou falas que sinalizam uma política fiscal americana mais frouxa, impostos para a importação de produtos e políticas migratórias mais rígidas.

“Promessas de campanha nem sempre são realizadas, mas o que isso pode significar é uma dificuldade maior dos Estados Unidos a trabalhar com uma inflação bem mais baixa e, consequentemente, ter um juros muito parecido com o que tinha antes da pandemia, que é o que hoje o mundo gostaria de ver”, completou.

Campos Neto participa de uma sessão conjunta das comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação, da Câmara dos Deputados nesta terça, para a qual foi convidado para falar sobre a política monetária.

O presidente do Banco Central está no último semestre do seu mandato, que se encerra no fim de dezembro.

Desde a posse do presidente Lula, o dirigente vem sendo alvo de ataques do governo, em particular por causa da taxa básica de juros, a Selic. O mandatário indagou recentemente se Campos Neto não tinha respeito, por ter afirmado que a política de valorização salarial teria impacto na inflação.

O petista também chegou a chamar Campos Neto de “cidadão” e questionou se havia interesses por trás de sua atuação como presidente do Banco Central.

No fim de julho, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. Foi a segunda reunião consecutiva sem alteração no patamar da Selic.

Durante a sua fala na Câmara dos Deputados, Campos Neto afirmou que o Banco Central tenta “manter a taxa de juros o mais baixa possível fazendo a inflação convergir para a meta”. Na sequência, ele ressaltou que a meta de inflação é definida pelo governo e que não é verdade que taxa de juros alta é boa para os bancos.

O presidente do BC também disse que o combate à inflação tem avançado, mas “é preciso perseverança nesse trabalho”, justificando que a desinflação tem arrefecido e as expectativas encontram-se desancoradas.

Campos Neto então acrescentou que está sendo possível manter a inflação na meta, com um “custo baixo”.

“O Brasil, realmente, quando a gente olha em termos de crescimento esperado e realizado, emprego esperado e realizado, inflação esperada e realizada, dá para dizer que o Brasil conseguiu convergir com um custo baixo de emprego e relativamente baixo de crescimento”, afirmou.

Campos Neto também defendeu a proposta de autonomia do Banco Central, em tramitação no Congresso. Sem citar nomes, disse que as pessoas vão entender que o Banco Central atua de maneira técnica.

“A autonomia está passando pelo seu primeiro teste, eu tenho certeza que o processo vai amadurecer. E as pessoas vão entender ao longo do tempo que o Banco Central é técnico, trabalha com horizonte diferente e que trabalha de forma a atingir o mandato que é determinado pelo governo”, afirma.