[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O setor de material de construção iniciou o ano esperando atingir mais de R$ 240 bilhões em faturamento, o que representaria crescimento de 2,65% em relação a 2024. Uma estimativa que refletia “a confiança gradual do consumidor e o retorno do investimento”, segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Veio 2025, e com ele a alta da taxa básica de juros, que saltou de 12,25%, em janeiro, para 15% ao ano agora. A projeção se mantém, mas as margens dos lojistas estão cada vez mais apertadas, diz o presidente da entidade, Cassio Tucunduva. “Rentabilidade é o grande problema hoje”, afirmou. Segundo ele, há notícias de redução de mão de obra. A Anamaco prevê fechar o ano com estabilidade no número de funcionários ou “um pouco menos” – atualmente, são 824 mil empregos diretos. De qualquer forma, o movimento de alta foi interrompido. 
                        
                                                                    
Mas a expectativa para 2026 melhorou com o anúncio do programa Reforma Casa Brasil, um braço do Minha Casa, Minha Vida. “Pode ser um fator muito interessante”, disse o presidente da Anamaco. Com o impulso do programa, que na prática começa em novembro, ele acredita que o setor terá crescimento de 4% ou 5% no próximo ano. O empresário atua no ramo desde 1992, quando abriu uma atacadista (Metrópolis) na cidade de Campinas (SP). Em 2010, abriu uma varejista (Construção Livre). Paulistano, formado na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Tucunduva tem 65 anos. 
                        
                                                                    
Conforme o dado mais recente, relativo a agosto, 42% dos comerciantes disseram que as vendas ficaram estáveis, enquanto 30% apontaram queda e 28%, crescimento. E 59% acreditam em aumento das vendas no último trimestre, segundo o Termômetro do Varejo da Construção Civil. O levantamento é feito pela Juntos Somos Mais (joint venture formada desde 2018 por Votorantim Cimentos, Gerdau e Tigre) em parceria com a Anamaco, com base, segundo informam, em 21 milhões de transações e entrevistas com mais de 600 lojistas. A expectativa aumenta nos segmentos de materiais elétricos (70%), pintura (68%) e hidráulicos (57%), “impulsionados por reformas e manutenções residenciais típicas do último trimestre”. Agora, a previsão é de que o novo programa dê fôlego ao setor, superando o período de “comércio morno”. Confira a entrevista.
                        
                            
                                                            
                            
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Com a situação da economia, o setor mantém a projeção de R$ 240 bilhões de faturamento? 
CASSIO TUCUNDUVA – A projeção se mantém, porém a maior questão que nós temos não é o faturamento em si, e sim o quanto resta para as empresas em termos de lucro. Rentabilidade é o grande problema hoje. Para manter esse nível, o mercado está corroendo suas margens. Algumas lojas estão fechando, outras diminuindo a quantidade de colaboradores nas lojas ou reduzindo espaços. Estão se adequando ao panorama. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Os juros são o principal problema?
CASSIO TUCUNDUVA – Quando o juro é alto, impacta diretamente na construção. Quando cai, o impacto é imediato. O consumo deveria estar muito maior. O mercado está desafiador, em muitos sentidos. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS –  E o crédito?
CASSIO TUCUNDUVA – Eu nem coloco o acesso ao crédito como grande impeditivo. Se nós formos pegar a época de pandemia, tivemos consumo exacerbado, até por mudança de conceito. A pessoa teve que permanecer no imóvel, outros até optaram por casas. Obviamente, depois de uma época de consumo muito alto, o pêndulo vai para o outro lado. Em 2023, 2024, 2025, os resultados estão se mantendo, mas houve resultados melhores nos outros anos. As margens estão muito apertadas.
                        
                                                                                                                        
AGÊNCIA DC NEWS – Qual foi o melhor período? 
CASSIO TUCUNDUVA – Tivemos bons períodos durante Lula 1 e 2, principalmente quando foi lançado o financiamento habitacional. A pandemia foi uma entropia. Foi um período de muitas vendas. Faltava lata para envasar tinta, faltava PVC. Agora, o comércio está morno. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Algum segmento sente mais essa oscilação?
CASSIO TUCUNDUVA – O que sente mais é no acabamento. O segmento de tintas, por exemplo, sente mais, o moveleiro. Pedras, vergalhões, fios e cabos, esses sentem menos. A pessoa pode até fazer alguma reforma, mas em algumas coisas – como a pintura – ela segura um pouco.
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Que impacto o recém-lançado programa Reforma Casa Brasil terá sobre o setor? [Segundo o governo, serão liberados R$ 40 bilhões para melhoria e ampliação de moradias, com previsão de atender 1,5 milhão de famílias. Serão R$ 30 bi do Fundo Social e R$ 10 bi da Caixa].
CASSIO TUCUNDUVA – R$ 240 bilhões é a expectativa [de faturamento] para este ano, e o programa terá R$ 40 bilhões liberados. Óbvio que não virá tudo este ano. Na prática, vai começar agora, em novembro, dezembro. Esperamos impacto maior no ano que vem. Isso [pequenas reformas] impulsiona o setor. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Então, qual o impacto para 2026?
CASSIO TUCUNDUVA – Se realmente for um programa que tiver o direcionamento desejado, esperamos um crescimento de 4% a 5% nas vendas. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Por enquanto, o setor cresceu 3,1%, de janeiro a agosto, segundo os dados da Anamaco.
CASSIO TUCUNDUVA – Pode ter crescido, mas com achamento das margens.
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – O dado mais recente do Termômetro do setor mostra quantidade praticamente igual altas e quedas nas vendas. É o que tem acontecido?
CASSIO TUCUNDUVA – O que está ocorrendo este ano é um equilíbrio. Não estamos sentindo realmente um crescimento significativo. Há uma estabilidade. Por isso, talvez esse programa seja um fator muito interessante. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – O setor de material de construção é fragmentado. São quase 160 mil lojas, 85% enquadradas no Simples Nacional. Cinco empregados por loja, em média. E 68,6% têm até quatro funcionários. As grandes redes se preservam mais? 
CASSIO TUCUNDUVA – Poderia se ter essa ideia, mas na prática não é bem o que ocorre. Essa perda de rentabilidade atinge a todos. Todos os setores são impactados. Por vezes, essa empresa de quatro ou cinco colaboradores esta em um imóvel próprio. E uma rede que loca o espaço se ressente muito mais.
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – E o emprego?
CASSIO TUCUNDUVA – Creio eu que é para fecharmos talvez entre estabilidade para um pouco menos. O que eu sinto é que neste momento há um movimento no sentido de espremer ao máximo os gastos fixos.
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Por exemplo?
CASSIO TUCUNDUVA –Locação, maquinário, colaboradores. E vários setores estão tendo dificuldade em empregar, em selecionar pessoas para suas empresas. Quando se abria vaga para vendedor, quando o momento estava bom, chegavam 150 currículos. Quando não estava tão bom, até 450. Hoje, chegam seis, cinco.  
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Se a economia e a oferta estivessem funcionando como o esperado, quanto a mais de mão de obra poderia estar empregada?
CASSIO TUCUNDUVA – Creio que 20% ou mais. Sem sombra de dúvida. Quem tem o colaborador procura mantê-lo a todo custo. 
                        
                                                                    
AGÊNCIA DC NEWS – Houve alguma mudança no perfil das compras? Você conseguem captar isso?
CASSIO TUCUNDUVA – Aquele que tem de construir não tem muito o que fazer. Então, o que nós temos sentido? Uma migração de marcas famosas para produtos conformes, que seguem toda a normatização necessária, e os clientes querendo entender melhor esses produtos. Sentimos esse movimento, como também é sentido no setor supermercadista.