BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Integrantes do governo Lula (PT) acusaram o governador Cláudio Castro (PL) de exploração eleitoreira ao criticar o Executivo federal nesta terça-feira (28), após a megaoperação policial contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro e que resultou na morte de ao menos 64 pessoas.
Integrantes da cúpula do Ministério da Justiça e Segurança pública, pasta comandada Ricardo Lewandowski, auxiliares de Lula e parlamentares governistas classificaram a ação policial como desastrosa. Dois aliados do presidente da República afirmam ainda que Castro quis transferir a responsabilidade de sua gestão na megaoperação para o Executivo.
Ao mesmo tempo, membros do governo federal usaram a megaoperação para cobrar celeridade do Congresso Nacional na análise de matérias enviadas pelo Planalto na área de segurança pública que estão paradas, sendo a principal delas a PEC da Segurança Pública. Aliados de Lula dizem ainda que Castro foi um dos governadores que se opôs publicamente à proposta do Executivo.
Mais cedo nesta terça, Castro criticou a “falta de foco” do governo Lula em relação à segurança pública. “Não temos ajuda das forças de segurança [federais], nem [da] Defesa. É o Rio de Janeiro sozinho”, disse.
Lewandowski, por sua vez, disse que não recebeu nenhum pedido do governador para auxiliar na operação. A declaração de Castro gerou irritação entre aliados do petista, que saíram em defesa do governo federal nas redes sociais e em discursos no Congresso.
Segundo relatos feitos à reportagem, o governador ligou para a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) para desfazer qualquer mal-estar por sua fala, afirmando que não havia intenção de criticar o presidente.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse em fala na tribuna do plenário que o resultado da operação mostra “o fracasso da política de segurança pública do governo Cláudio Castro”. “Ao invés de se preocupar em pedir parceria com o governo federal para enfrentar o problema de segurança pública no estado, ele prefere fazer ilações e acusações contra o governo federal”, afirmou.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse que Castro teve “postura vergonhosa”. O presidente do PT, Edinho Silva, disse que o governador “politizou essa tragédia e disse que não recebeu ajuda do governo federal”.
Já o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) afirmou que Castro “faz uma ação que está gerando mortes e caos, e depois politicamente tenta se eximir de responsabilidades e atacar o governo federal. Não é correto do governador tentar fugir de suas responsabilidades fazendo um jogo pré-eleitoral”.
Do total de vítimas da megaoperação, a vasta maioria é de pessoas apontadas pela polícia como suspeitas de serem criminosas. Dois policiais civis e dois policiais militares também morreram. O número exato de mortos na operação, que já se tornou a operação letal da história do estado, ainda é contabilizado pelas autoridades.
Diante do cenário, a Casa Civil convocou para a tarde desta terça uma reunião para tratar da situação. Entre os participantes estão o vice-presidente, Geraldo Alckmin (que atua como presidente em exercício na ausência de Lula), o chefe da pasta, Rui Costa, o ministro Sidônio Palmeira (Secom) e Gleisi, além de representantes da pasta da Justiça e Segurança Pública, segundo auxiliares do Planalto.
A megaoperação virou munição para ataques entre oposicionistas e governistas. De um lado, políticos da oposição usaram a situação para criticar a gestão petista, afirmando que o governo federal não atua de forma incisiva na área da segurança pública.
De outro, aliados de Lula usaram a megaoperação para cobrar andamento de pautas enviadas pelo Executivo para o Congresso.
A PEC da Segurança é uma das propostas que o governo tenta avançar. O texto já foi aprovado pela CCJ (Comissão de constituição e Justiça) da Câmara e aguarda para ir ao plenário. Em sua manifestação nas redes sociais, Gleisi disse ser necessário o fortalecimento da Polícia Federal e outras forças federais no planejamento e na execução das ações conjuntas -ela evitou o confronto direto com Castro.
“Os violentos episódios desta terça-feira no Rio, com dezenas de mortes, inclusive de policiais, bloqueio de rodovias e ameaças à população, ressaltam a urgência do debate e aprovação da PEC da Segurança Pública no Congresso Nacional. Ficou mais uma vez evidente a necessidade de articulação entre forças de segurança no combate ao crime organizado”, escreveu.
Outra proposta do governo para a área é o projeto de lei Antifacção, que propõe alterações em diversas normativas para ampliar o enfrentamento às facções criminosas, com foco sobretudo na descapitalização dessas organizações. Ele está em análise na Casa Civil.
Diante da situação, um auxiliar de Lula diz que não está descartada a possibilidade de acelerar o envio dessa proposta ao Congresso. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), já afirmou publicamente que dará prioridade ao texto no plenário da Casa.
De acordo com um auxiliar de Lula, a estratégia, neste momento, é mostrar as ações do governo federal para a área da segurança pública.
Após a operação, o Ministério da Justiça publicou uma nota afirmando que a pasta e o governo do Rio firmaram acordo de cooperação técnica para a criação de uma Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, com foco na identificação, localização e prisão de criminosos de outras unidades da federação que se refugiam em comunidades fluminenses.
A nota cita ainda uma reunião realizada em fevereiro deste ano entre o governador e o ministro Lewandowski, afirmando que o chefe da pasta atendeu, na ocasião, a um pedido do estado, oferecendo dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro.