Centrão isola bolsonaristas e frustra pressão por anistia apesar de críticas a Lula pelo tarifaço

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Parlamentares de partidos do centrão têm frustrado a expectativa de bolsonaristas de engrossar os pedidos de anistia aos réus do 8 de Janeiro para enfrentar as tarifas aos produtos brasileiros e a sanção ao ministro Alexandre de Moraes impostas pelos Estados Unidos.

Mesmo com críticas pontuais ao governo Lula (PT), há um sentimento geral nas conversas de que o clã Bolsonaro saiu com a imagem arranhada e afastou ainda mais a possibilidade de aprovação de um perdão para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

As posições, por enquanto, são mais desarticuladas e individuais, já que a maioria dos parlamentares está de recesso, focados em suas bases eleitorais ou em viagem de férias.

A avaliação geral no Congresso é de que Lula saiu fortalecido eleitoralmente do embate e que o pacote de medidas que será apresentado pelo petista ao Congresso para auxiliar na sobrevivência dos setores atingidos -como carne, pescados e café- deve significar uma nova pauta positiva para o governo.

Congressistas dizem que será custoso politicamente se opor a essas medidas ou usá-las para atacar o petista, embora parte dos integrantes do centrão acusem Lula de falta de diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com o governo americano.

“Não conheço o conteúdo desse pacote, mas não acho que haverá resistência”, diz o líder do MDB na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões (AL), que almoçou com Lula e ministros do MDB na terça-feira (29). “Há a análise de que os impactos serão setorizados, e um sentimento do governo de que os danos serão menores do que poderiam ser.”

O presidente da Frente Parlamentar pela Mineração Sustentável, o deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), se reuniu com empresários do setor e investidores na quarta (30) e diz que há apoio às iniciativas do governo. “O que a gente precisa é o que o [Geraldo] Alckmin está fazendo: ter serenidade. Não pode abrir mão da nossa soberania, não somos colônia dos Estados Unidos, mas ao mesmo tempo precisamos negociar, negociar e negociar”, afirma.

Tanto o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), como do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se alinharam publicamente ao governo Lula e ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Em notas divulgadas nesta quarta, Motta e Alcolumbre mencionaram a soberania, palavra-chave do discurso do governo e do PT contra as medidas de Trump.

O presidente da Câmara saiu em defesa de Moraes, ainda que sem citar o ministro. “Como país soberano não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República”, afirmou.

Na mesma linha, Alcolumbre afirmou que o Poder Judiciário é “elemento essencial para a preservação da soberania nacional, que é inegociável”. “O Congresso Nacional não admite interferências na atuação dos nossos Poderes.”

Parlamentares do centrão dizem que as sanções contra Moraes e o tarifaço, na verdade, serviram para queimar Bolsonaro junto a parte de seus eleitores.

Um deputado do União Brasil diz que ouviu de um empresário que chegou a patrocinar manifestações pró-Bolsonaro duras reclamações à postura do ex-presidente e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Outro nome do centrão, este de Santa Catarina, afirmou que parte da população de seu estado, que tem forte tradição conservadora, está insatisfeita com a postura. Ele conta que recebeu em diversos grupos de direita um meme que contrapõe discurso atual dos bolsonaristas, a favor das tarifas para anistiar Bolsonaro, com o da época da Covid, em que o ex-presidente dizia que a economia não poderia parar, mesmo com as mortes provocadas pela doença.

Mesmo entre bolsonaristas, há a percepção de que a aprovação da anistia se tornou ainda mais custosa, com o discurso de não aceitar interferência externa num julgamento no país.

Para o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), a anistia poderia ganhar força caso fosse aprovada primeiro a proposta de emenda constitucional do foro especial, que “livraria os deputados da influência do STF”. Na avaliação dele, isso daria liberdade para que pudessem enfrentar Moraes.

Um almoço na terça, antes de uma motociata organizada pelo ex-presidente, expôs a dificuldade dos parlamentares do PL encontrarem uma estratégia única. Parte defendeu manter a pressão na Câmara, parte sugeriu obstruir os trabalhos no Senado, como a indicação para as agências reguladoras, e parte propôs um recuo no texto da anistia, para suavizá-lo.

Na bancada do PT, a leitura é a de que o momento é positivo, com o bolsonarismo acuado e o centrão alinhado ao governo. Um deputado afirma que a oposição, ao apoiar as sanções de Trump, acabou ajudando Lula a recuperar popularidade. Com a prisão de Carla Zambelli (PL-SP) também nesta semana, a leitura é a de que a direita radical vive um inferno astral.

Contra a recuperação da avaliação de Lula, parte dos líderes do centrão busca encampar um discurso de que o governo brasileiro foi inábil para tratar com Trump.

Correligionário do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi criticado por empresários pela postura inicial sobre o tarifaço, o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), gravou vídeo para as redes sociais em que acusa o governo brasileiro de seguir “como se nada tão grave estivesse acontecendo”.

Outros países, afirmou Pereira, conseguiram reduzir as tarifas com os americanos, como o Japão, após negociarem com os Estados Unidos. “E claro, falta também um presidente, um chefe de Estado de plantão, que comande a diplomacia como o momento exige, tomando as rédeas da situação”, diz.

O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), foi na mesma linha e cobrou “pragmatismo”. É seu dever [Lula] ao menos telefonar para a Casa Branca antes e, mesmo sem acreditar, tentar cumprir o papel de representante do Brasil. Sua omissão, neste episódio, jamais será entendida como soberania. Mas como ideologia e jogo político”, criticou.

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