SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada de Vladimir Putin a solo americano nesta sexta-feira (15) em Anchorage, Alasca, foi cercada de mistério e marcada por um show de simbolismo militarista por parte de seu anfitrião, Donald Trump.
O russo empregou um conhecido método para disfarçar seus itinerários, ainda mais em tempos de guerra: o avião-isca. Putin estava em Magadan, no Extremo Oriente da Rússia, enquanto aeronaves do seu governo chegavam a Anchorage com integrantes da comitiva e equipamentos como sua limusine Aurus.
Quando chegou a hora de decolar, o avião presidencial passou a ser monitorado de forma recorde pelo site de controle de tráfego aéreo com informações públicas Flightradar24. Pouco mais de 400 mil pessoas seguiram as 4 horas e 46 minutos de voo até o Alasca.
Ocorre que a única autoridade no avião era o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov. Ele teria azar caso algum terrorista ou adversário de Moscou resolvesse tentar abater a aeronave. O modelo usado, um Tupolev-214, sugeria que algo estava errado.
Trata-se de um bimotor de médio alcance, enquanto Putin faz seus deslocamentos internacionais em um quadrimotor Iliúchin-96. Dito e feito, uma aeronave do modelo decolou de Magadan quase uma hora depois.
Quando o Tupolev pousou, agências de notícias relataram que Putin havia chegado às 9h46 (14h46 em Brasília). Coube ao repórter Pavel Zarubin, um queridinho do Kremlin, dizer em rede sociais que todos estavam errados. Putin chegou às 10h52, pouco depois de Trump pousar com seu Air Force One.
Ato contínuo, o Iliúchin passou a ser o avião mais monitorado do mundo no Flightradar, atraindo quase 500 mil pessoas. Desta vez, estavam acompanhando a aeronave certa.
Em solo, apesar da deferência de tapete vermelho e cumprimentos acalorados, o show foi de Trump. O americano enquadrou a foto principal com Putin em um pequeno palco na pista da base de Elmensdorf-Richardson com o seu avião ao fundo e quatro caças F-22, os mais poderosos de seu arsenal, enfileirados no caminho ao ponto da fotografia.
Enquanto andavam, Putin se virou para checar um som no céu. Era um bombardeiro furtivo B-2, desenhado para atacar alvos na Rússia com armas nucleares, fazendo um sobrevoo escoltado por quatro F-35, caças mais avançados tecnologicamente dos EUA.
O modelo foi empregado contra instalações nucleares do Irã em junho. Teerã é uma aliada de Putin, que criticou duramente Trump pela ação.
Putin também é dado a essas demonstrações. Além das tradicionais paradas militares em Moscou, em 2023 ele visitou os Emirados Árabes Unidos com seu avião sendo escoltado por quatro avançados caças Su-35.
O teatro foi encenado até a chegada às limusines presidenciais. Aí e Trump, no Cadillac conhecido como “A Besta”. Ambos os carros são levados por cargueiros militares, e têm blindagem e proteção contra ataques químicos e radioativos, além de sistemas avançados de comunicação.
A visita de Putin é a primeira de um líder russo ao território que foi do país até 1867, quando o vendeu aos EUA pelo equivalente hoje a US$ 156 milhões. Foi uma pechincha: o Alasca era visto como uma lugar inóspito, gelado e pobre, mas depois revelou-se riquíssimo em recursos naturais e minerais.
O presidente russo, que não pode ir a 123 países que reconhecem a autoridade do Tribunal Penal Internacional, que emitiu ordem de prisão contra ele por crimes de guerra, não visitava os EUA desde 2015. Naquele ano, discurso na ONU em Nova York e teve um encontro com o então presidente Barack Obama. Nem americanos, nem russos ou ucranianos são signatários do tratado que criou a corte em Haia, na Holanda.