PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A China divulgou no fim de semana um discurso de seu embaixador em Washington, Xie Feng, em que ele defende a retomada da cooperação sino-americana no comércio de soja.
“Por anos, metade da soja americana exportada era vendida para a China”, disse Xie, durante evento de sexta (22) no Conselho de Exportação de Soja dos Estados Unidos.
“Na soja, podemos ver que a China e os EUA têm a ganhar com a cooperação e a perder com o confronto. No primeiro semestre, as exportações de soja dos EUA para a China caíram 51% em relação ao ano anterior.”
Xie culpou a escalada tarifária do presidente Donald Trump, sem citá-lo pelo nome, pelo resultado no semestre. “O crescente protecionismo lançou uma sombra sobre nossa cooperação agrícola”, disse.
“Como maiores importadores e exportadores mundiais de produtos agrícolas, respectivamente, China e EUA são parceiros naturais. A agricultura foi uma das primeiras áreas de cooperação e também uma das mais frutíferas. Vamos buscar resultados vantajosos para ambos, para que nossa cooperação agrícola continue florescendo”, conclamou, ao final.
Na terça (19), a Associação Americana de Soja, representante dos agricultores, havia enviado uma carta a Trump, após ele defender em sua plataforma, Truth Social, que a China quadruplique as compras de soja americana.
“Nós agradecemos a sua postagem, reconhecendo a robusta safra produzida pelos fazendeiros de soja e instando a China a quadruplicar as importações”, afirma o texto. “Infelizmente para os nossos produtores de soja, a China firmou um contrato com o Brasil para atender às necessidades dos próximos meses, evitando a compra de soja dos EUA.”
Argumenta que, devido às tarifas chinesas adotadas em retaliação àquelas de Trump sobre produtos chineses, a soja americana enfrenta “uma taxação 20% maior do que a América do Sul”.
Logo após a eleição americana, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina já alertava, em visita a Pequim, ser preciso “acompanhar muito de perto” as conversas entre China e Trump, porque ele “gosta de negociar e pode impor produtos agrícolas à China”.
Soja não é o único tópico em negociação entre Pequim e Washington. Segundo a Bloomberg, a Boeing está perto de conseguir uma encomenda de 500 aviões, das companhias aéreas chinesas, como parte de um acordo comercial mais amplo entre os dois países.
Seria um retorno da empresa americana ao mercado chinês, do qual foi afastada em 2019 depois dos acidentes com o modelo 737 Max. Nos últimos seis anos, vendeu apenas 30 aviões no país.