Com 60 franquias, Letter Consulting amplia soluções fiscais de olho na Reforma Tributária no ano que vem
Empresa está entre as três maiores consultorias tributárias do Brasil
(Andre Lessa/Agência DC News)
Com faturamento de R$ 12 milhões por ano, a Letter Consulting hoje tem cerca de 5 mil clientes – e 90% deles temem a Reforma Tributária
Para mitigar riscos com o fisco, empresa lança um serviço de seguro do IRPJ, uma espécie de apólice que dura 5 anos
Por Bruno CirilloCompartilhe:
[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS] A Letter Consulting, pedra fundamental e a maior entre dez empresas que compõem a holding AlloyMIT, fica num escritório da Chácara Santo Antônio, Zona Sul de São Paulo. A atmosfera despojada do local, com layout e design modernos, faz com que mais se pareça uma agência de publicidade. Há 17 anos o CEO Dennis Williams garante a empresas as ferramentas ideais para evitar os erros nas declarações de impostos e recuperar créditos nessas operações, com resultados práticos em 10 dias. Essa urgência, inclusive, é parte da demanda recorrente da empresa, já que 90% dos seus 5 mil clientes se sentem inseguros com as mudanças trazidas pela Reforma Tributária. “Para entregarmos o resultado, temos uma equipe multidisciplinar e agilidade nas apurações”, disse.
Com faturamento de R$ 12 milhões por ano, resultado que deve crescer em linha com a inflação em 2025, a Letter Consulting atende todos os portes e setores da economia, sem distinção. A empresa foi vencedora do Prêmio Empresário de Valor 2025, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque da distrital Sul. Há alguns anos, além da matriz, Williams resolveu transformar o próprio negócio em franquia. Atualmente, há 60 unidades da marca espalhadas em 22 estados, o que amplia o alcance da empresa e facilita operações envolvendo os tributos regionais, segundo o empresário. “É uma ponta de relacionamento com empresas nas regiões em que atuam”, afirmou. Ele diz que assim é “capaz de entender o modelo de negócio local para levar eficiência tributária ao cliente”. De modo geral, o papel desempenhado pelos escritórios é, basicamente, regido pela mesma legislação federal, mas não se pode esquecer os impostos estaduais. “É sempre a mesma sistemática: a lei abrange todos os estados, mas também há legislações específicas, principalmente para o ICMS.”
Williams explica que a revisão tributária é um processo que precisa ser feito todo mês, então a consultoria se mantém em permanente contato com cada um dos clientes. Resumidamente, parece simples: “Importamos todas as obrigações acessórias da empresa para dentro do sistema”, disse. O sistema faz os cruzamentos de dados e “identifica algum lançamento que está desconforme com a legislação”. Mas é preciso observar que a legislação é muito complexa, por isso o setor tributário exige especialistas sempre atentos. Desde 1988, de acordo com o empresário, já foram feitas 7 milhões de alterações nas leis, ou cerca de 50 revisões por dia útil. Isto posto, o objetivo é “apontar para o cliente tudo o que precisa ser saneado em seus impostos”, de modo, segundo ele, que a empresa diferencie o que é passivo do que é crédito, recuperando parte dos valores declarados e salvando dinheiro dos clientes.
Em 2024, a arrecadação líquida de IRPJ e CSLL somou R$ 502,7 bilhões, segundo dados preliminares da Receita Federal. Do montante, cerca de R$ 27,4 bilhões retornaram às empresas em forma de compensações e restituições – valor que integra os R$ 68,5 bilhões devolvidos pela União considerando todos os tributos federais. Em 2020, esses números eram bem menores: a arrecadação de IRPJ/CSLL foi de R$ 458,2 bilhões, com R$ 45,8 bilhões em compensações e restituições totais, dos quais R$ 18,3 bilhões ligados diretamente a esses dois tributos. Enquanto a arrecadação avançou apenas 9,7% no período, as devoluções cresceram quase 50%, reflexo, segundo Williams, de melhorias tecnológicas, como a declaração pré-preenchida, da correção monetária pela Selic e da conclusão de litígios tributários de grande repercussão.
O avanço das compensações e restituições tem impacto direto na política fiscal. Ao reduzir a arrecadação líquida disponível, pressiona o governo a equilibrar as contas por meio de aumento de receitas ou corte de despesas. Williams ressalta ainda que o ritmo mais acelerado de devoluções, especialmente após a chamada Tese do Século, discutida no Supremo Tribunal Federal, que excluiu o ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins, garantiu previsibilidade maior às empresas. Embora representem apenas parte da carga tributária nacional, o IRPJ e a CSLL respondem por cerca de 20% de toda a arrecadação federal. Em 2024, o montante recolhido pela União ultrapassou R$ 2,5 trilhões, incluindo não apenas o imposto de renda das empresas e a contribuição sobre o lucro, mas também contribuições previdenciárias, PIS/Cofins, IPI e tributos retidos na fonte.
Diante de tantas mudanças, e em face da Reforma Tributária, uma solução apresentada pela Letter Consulting são apólices de seguro para as declarações de impostos dos seus clientes. O CEO afirma ser o único escritório de contabilidade com esse serviço no Brasil. O seguro é feito para um período de seis anos, considerando que a Receita Federal trabalha com o prazo de cinco anos para validar as operações. “Isso garante que a empresa não terá nenhum prejuízo se houver mudanças na legislação”, disse ele.
OPORTUNIDADES FISCAIS – Para explicar o trabalho de formiguinha que a companhia realiza nas folhas de pagamento dos seus clientes, o empresário dá alguns exemplos do que chama de pontos de economia ou oportunidades fiscais, isto é, como as empresas podem evitar tributos desnecessários ou resgatar algum crédito que passaria batido não fosse a perícia contábil. Um bom exemplo parte do princípio de que, segundo a Constituição, a Previdência Social (INSS) deve ser sustentada por verbas advindas de salário. Nunca por verbas advindas de despesas com indenizações aos funcionários. “Quando você pega a folha de pagamento, há uma série de rubricas”, disse Williams. Segundo ele, parte delas são de natureza indenizatória e parte são salário. “Muitas empresas acabam considerando o que é indenizatório como salário”, afirmou. “Então elas vão lá e aplicam o INSS sobre essas verbas – que na verdade têm o direito de se ressarcir.”
Outro exemplo é o recolhimento de tributos em empresas do sistema S (Sesc, Senai etc). Até o ano passado, em função do Decreto-Lei 2.318/1986, havia um limite de até 20 salários mínimos para o pagamento de funcionários, e os impostos eram cobrados de acordo com essa base de cálculo. A lei que impunha essa limitação foi alterada no Supremo Tribunal Federal, mas parte dessas empresas ainda paga o imposto sobre o teto estabelecido anteriormente. “Então, precisam excluir essas declarações que ainda possuem a limitação”, disse o especialista da Letter Consulting.
O trabalho na companhia é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar – profissionais das áreas de auditoria, contábil, fiscal, jurídica, financeira, departamento pessoal, controladoria, governança e outras especialidades. São esses profissionais que garantem aos clientes uma permanente adaptação às variações da legislação e outras questões. “Geralmente, as consultorias tributárias trabalham com profissionais de uma área só e não permitem um olhar de 360º”, afirmou Williams.
Williams, da Letter: equipe multidisciplinar oferece olhar de 360º sobre impostos (Andre Lessa/Agência DC News)
REFORMA TRIBUTÁRIA – Aprovada em 2023 e agora em fase de regulamentação no Senado – a segunda etapa nessa fase do processo foi aprovada na quarta-feira (17) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) –, a Reforma Tributária (Lei Complementar nº 214) é motivo de preocupação para 90% das empresas, que já procuram serviços voltados aos ajustes necessários para realizar a transição em seus planejamentos financeiros. A estimativa da Letter Consulting, com base na sua própria carteira de clientes, considera que para 10% deles as exigências da nova legislação terão efeito somente no longo prazo. “Eles acham que não é uma urgência. Mas a maioria quer mudanças ainda esse ano”, afirmou.
Williams é um crítico da alta carga de impostos no Brasil, que orbita em torno de 40% do faturamento anual das empresas. Ele lembra que, atualmente, são necessários cinco meses de trabalho para cobrir os impostos. “Tudo isso somente para você ter suas obrigações atendidas”, disse. “Esse custo é muito pesado para as empresas estarem em conformidade com o Fisco.” Com a reforma, todas as siglas de impostos sobre o consumo que atualmente formam o sistema tributário serão cobradas num só Imposto sobre Valor Agregado (IVA), com alíquota padrão ainda a ser definida, mas estimada em torno de 28%. Essa tributação estará baseada em duas outras siglas, o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que substituirá o ICMS e o ISS em nível estadual e municipal, e a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que substituirá o PIS/Cofins em nível federal – ambas fazem parte do IVA com o peso de, respectivamente, 18,7% e 9,3%.
O IPI não será extinto, mas zerado. E será criado, ainda, um Imposto Seletivo (IS) de âmbito federal para desestimular o consumo de bens e serviços prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Estima-se que, a partir da reforma, a alíquota geral dos impostos será reduzida em 60% para setores como saúde, educação e transporte, e em 30% para profissionais liberais, como arquitetos, engenheiros e advogados. “A primeira onda já começou a ser implementada. Em 2026, passa a ter mais força em alguns outros segmentos”, afirmou Williams. Então será possível “começar a ter noção da complexidade de como isso vai se comportar dentro de cada empresa”.
Segundo ele, uma empresa como a do software SAP, que tem uma versão para apuração de impostos que levou décadas para ser desenvolvido, terá que rever seus serviços. “Quem investiu em SAP, como a Sabesp, agora vai precisar olhar para isso e refazer todas as customizações”, disse. Ele explica que uma drogaria ou supermercado, por exemplo, que tem mais de 20 mil itens, será obrigado a mudar totalmente a sistemática e nomenclatura. “É muito complexo”, afirmou. “Não é um processo simples, por isso tem um deadline de dez anos para se fazer a implementação.”