São Paulo, 5 de setembro de 2025 – Enquanto nos Estados Unidos, a perspectiva de corte de juros nopróximo encontro do Federal Reserve (Fed) praticamente se consolidou com o resultado do payroll, noBrasil alguns indicadores a serem divulgados nos próximos dias merecem atenção. Entre eles, osdados de varejo e serviços e, principalmente, o IPCA de agosto.
O cenário político ganha força com o avanço do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro noSupremo Tribunal Federal (STF) e com a tentativa da oposição de votar o projeto de anistia. Asmovimentações em Brasília visam principalmente consolidar a corrida para as eleiçõespresidenciais. Entrando com força no jogo, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, costuraum acordo para formar uma chapa de centro-direita com chances reais de disputar com o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva, que tenta manter uma trajetória de ganho de popularidade que mostrasinais de desgaste.
Internamente, a semana que passou mereceu especial atenção do cenário político. Entre osindicadores, o PIB do segundo semestre, mesmo vindo um pouco acima do esperado, confirmou atendência de desaquecimento da economia, assim como os dados de produção industrial. Sobre apolítica monetária, a dúvida se concentra, neste momento, quando iniciará o corte da Selic, semem dezembro ou apenas no ano que vem.
Outro destaque na semana ficou por conta do resultado fechado da balança comercial em agosto. Comoesperado pós tarifaço, as exportações para os Estados Unidos perderam força, mas foramcompensada pelo aumento de outros destinos, principalmente a China. O café sentiu os efeitos dataxa de 50% imposta pelo governo Trump e teve uma queda de 30% nos embarques. Mesmo com menor volumepara o mercado americano, a carne bovina teve exportações maiores do que no ano passado, mostrandoque alternativas amenizaram o impacto.
No exterior, a semana foi de cautela e maior aversão ao risco, com os olhos do mercado voltadospara o payroll norte-americano. O resultado mostrou um mercado de trabalho desaquecido e trouxealívio ao mercado financeiro. Cresceram as apostas de corte na taxa americana em setembro,atingindo quase a unanimidade. A dúvida é sobre o tamanho do corte. A maioria projeta um recuo de0,25 ponto, mas o percentual de quem prevê um corte de 0,50 ponto aumentou. Para a próxima semana,atenção para os índices de inflação, que poderão reforçar para que lado o tamanho do cortedeverá pender.
Às 13h50 da sexta, 5, o Ibovespa marcava 142.461 pontos, acumulando uma valorização semanal de0,73%. O dólar comercial estava cotado a R$ 5,3965, com queda na semana de 0,47%. As taxas DIs parajaneiro de 2029 abriram a semana remunerando 13,205% ao ano e encaminhavam o fechamento a 13,140%.
Na agenda doméstica de indicadores, destaque para o IGP-DI de agosto, que será divulgado às 8h dasegunda. Ainda na segunda, às 8h25, o banco central libera a pesquisa Focus. Na terça, às 10h,saem os dados de agosto do setor automotivo, que serão divulgados pela Anfavea. Na quarta, todas asatenções para o IPCA de agosto, às 9h. Na quinta, o IBGE divulga, às 9h, os dados de julho dovarejo. N sexta, no mesmo horário, saem as informações sobre o setor de serviços.
Política
As atenções do mundo político brasileiro deverão permanecer voltadas, na próxima semana, para ojulgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo TrIbunal Federal, após as primeiras sessõesna primeira semana de setembro. A tentativa da oposição de pautar o projeto sobre a Anistia do 8de janeiro merece atenção e mexe com o quadro sucessório de 2026.
Com o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, agora claramente envolvido na disputapresidencial, o projeto de anistia ganha corpo na Câmara Federal. Além dos partidos bolsonaristas,o Centrão pressiona o presidente da Casa, Hugo Motta. A semana foi marcada por reuniões. De umalado, a oposição articulando a evolução do projeto. De outro, o governo avaliando de que formareagir à tentativa.
A frente de direita escolheu Tarcísio como o principal nome a concorrer contra o presidente Lula. Aintenção é garantir a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro, que permaneceria inelegível até2029, e apoiaria o governador de São Paulo. Além dos partidos de oposição, boa parte do Centrãoestá apoiando essa alternativa. Tanto que União e PP anunciaram que deixaram a base do governonesta semana.
Mas o acordo parece que não está totalmente fechado. Uma minuta apresentada na quinta, 4, apontauma anistia irrestrita, incluindo a liberação de Bolsonaro para concorrer já na próximaeleição. Este texto, considerado radical até mesmo por parte dos partidos de direita,inviabilizaria o acordo costurado por Tarcísio.
A probabilidade do projeto de Anistia entrar na pauta é cada vez maior e preocupa o governo. Opresidente Lula já pediu o apoio da sociedade contra o projeto e admitiu que a questão deveevoluir nos próximos dias. A expectativa é que entre na pauta na Câmara logo após o resultado dojulgamento de Bolsonaro.
Do Planalto, saem duas avaliações sobre a questão. A primeira delas é de que, mesmo aprovado naCâmara, o projeto, da maneira que vem sendo apresentado, não passa no Senado. Para isso, conta comum grande aliado: o presidente da casa, Davi Alcolumbre, que trabalha com um projeto alternativo,que contemplaria redução das penas e não anistiaria Bolsonaro.
Parte do governo lembra que Alcolumbre é amigo pessoal do ministro do STF, Alexandre de Moraes, enão iria contra uma decisão do Supremo. Há ainda quem veja na anistia um “presente” eleitoralpara Lula e o governo. Se passar no Legislativo e não for considerado inconstitucional peloJudiciário, o Executivo já deu sinais de que vetaria o projeto, o que é visto como um trunfo dogoverno na corrida eleitoral, já que os frutos do embate com Donald Trump na popularidade dopresidente estão dando sinais que se desgastaram.
Entre o julgamento de Bolsonaro e as negociações em torno da anistia, a pauta econômica poucoavança no Congresso – ainda há a CPMI do INSS também concentrando boa parte das atenções. Aavaliação da LDO, por exemplo, foi adiada para a próxima semana. Pouco se falou também de umprojeto considerado essencial para os interesse políticos de Lula: a isenção do IR para quemganha até R$ 5 mil.
Internacional
O payroll de agosto nos EUA foi o destaque da semana. Com a criação de 22 mil vagas de trabalho,ante previsão de 75 mil, o dado dá munição aos investidores para acreditar que o FED pode cortaros juros na reunião dos dias 16 e 17 de setembro. Por conta do número bem abaixo das expectativas,há quem acredite até em um corte de 0,5 ponto percentual (pp).
O número indica um arrefecimento do mercado de trabalho, o que já vinha sido notado em dadosanteriores, como os indicadores da ADP e o Jolts, que mostraram criação de vagas em menor ritmo. Oúltimo dado relevante antes do FOMC se reunir são os índices de preços ao consumidor e aoprodutor, que serão divulgados na próxima semana. Com isso, o Fed terá dados para decidir entremanter ou cortar os juros.
Outra notícia que vem mexendo com os mercados é a cotação do petróleo, que oscilounegativamente nesta semana. Notícias veiculadas ao longo dos dias dão conta que a OPEP, que sereúne de forma virtual no domingo, deve decidir por um outro aumento na sua produção, o quecoloca mais commodity à disposição no mercado, reduzindo ainda mais seu preço.
A semana que inicia, nos EUA, é marcada pelo período de silêncio dos membros do Fed, antes dareunião de política monetária. Além dos índices de preços ao consumidor e ao produtor, teremostambém o crédito ao consumidor, os estoques de petróleo, os pedidos de seguro-desemprego, oorçamento do Tesouro, e a leitura preliminar da confiança do consumidor de setembro daUniversidade de Michigan.
Do lado da zona do euro, haverá a decisão de política monetária do BCE. A Alemanha publicará osaldo da balança comercial, a produção industrial, e o índice de preços ao consumidor. O ReinoUnido divulga a leitura mensal do PIB de julho, a produção industrial, o saldo da balançacomercial. O Japão publica a leitura revisada do PIB do segundo trimestre, o índice de preços aoprodutor e a produção industrial. A China divulga os índices de preços ao consumidor e aoprodutor, além do saldo da balança comercial.Por fim, haverá os relatórios mensais de petróleo da OPEP e da AIE, além da OCDE, que publicaseus estudos mensais de índice de preços ao consumidor e de taxa de desemprego dos países dobloco.
Empresas
Nesta sexta-feira, os investidores voltam suas atenções para a provável aprovação da fusãoentre a Marfrig e a BRF, após o Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)marcar uma sessão extraordinária, às 15h, para concluir o julgamento sobre a operação, que éclassificada pelo órgão como “ato de concentração”. A pauta da sessão extraordinária dejulgamento do órgão foi publicada no Diário Oficial da União de quinta-feira (4).
O ato de concentração será apreciado pelos membros do Conselho após um dos conselheiros liberar,na quarta-feira (3), seu voto pela aprovação integral da fusão entre as companhias. Com aliberação adiantada do voto do conselheiro Carlos Jacques, o presidente interino do Conselho,Gustavo Augusto Freitas de Lima, que também relata o caso, determinou a inclusão do caso napróxima sessão, que estava prevista para 17 de setembro. No entanto, a análise foi antecipadapara a reunião extraordinária desta sexta-feira.
Jacques havia pedido vistas no julgamento anterior do Tribunal do Cade, em 20 de agosto. Com isso, aanálise foi adiada por 60 dias, e o processo seria automaticamente incluído em pauta paraprosseguimento do julgamento após o período. Na mesma sessão do dia 20/8, já havia maioria pelaaprovação da operação de união da Marfrig com a BRF, mas a decisão do órgão não foiproclamada diante do pedido de vista. Outros cinco integrantes do colegiado já defenderam manter afusão.
A operação foi aprovada sem restrições pela Superintendência Geral (SG) do Cade em 17 deoutubro de 2023. O Tribunal do órgão precisa avaliar o recurso da Minerva, que entrou comoterceira interessada, alegando alteração na estrutura de governança da BRF.
Em Assembleias Gerais Extraordinárias (AGEs) ocorridas em 5 de agosto, os acionistas da Marfrig eda BRF aprovaram a operação de fusão que dá origem à MBRF, uma das maiores empresas globais dealimento, com receita anual combinada de R$ 152 bilhões e 38% de seu portfólio voltado paraprodutos de valor agregado.
A aprovação dos acionistas da BRF, antecipada por meio do boletim de voto à distância divulgadono último final de semana, foi ratificada no dia 5 de agosto com 78,39% de votos a favor,demonstrando amplo apoio dos acionistas à operação. Na AGE da Marfrig, 86,71% dos votos foramfavoráveis à fusão. “A validação da maioria dos minoritários reforça ainda a confiança noprocesso, conduzido com higidez e em estrita conformidade com os protocolos legais e regulatóriosaplicáveis, seguindo as melhores práticas de governança corporativa. Com a aprovação dasassembleias, inicia-se a partir de amanhã o período de 30 dias para o exercício do Direito deRecesso em ambas as Companhias. As empresas seguem confiantes na finalização da operação, queainda passa pela aprovação final do Conselho Administrativo de Defesa Econômica”, disse aempresa, na ocasião.
A empresa disse que a” MBRF nasce como uma das maiores empresas de alimentos do mundo, carregando umlegado de inovação e pioneirismo com marcas icônicas como Sadia, Perdigão, Qualy, Banvit e Bassie um portfólio verdadeiramente multiproteínas, com carne bovina, suína e de aves, produtosindustrializados, pratos prontos e pet food. Presente em 117 países, a empresa possui 130 milcolaboradores e produz 8 milhões de toneladas de produtos anualmente, que chegam a mais de 424 milclientes e a milhões de consumidores em todo o mundo. Reconhecida por suas práticas sustentáveis,mantém iniciativas pioneiras para a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais”.
COSAN
Também devem continuar no radar do mercado os negócios envolvendo a Cosan, desde que a companhiaanunciou que avalia alternativas para aprimorar sua estrutura de capital e, em conjunto com a Shell,busca novos investidores para a sua controlada Raízen. A Raízen é controlada pela Cosan e pelaShell, com 44% de participação cada.Na quinta (4), a Cosan divulgou comunicado para reiterar o que disse nas teleconferências deresultados trimestrais, em razão de notícias veiculadas na imprensa, que “avalia alternativaspara aprimorar sua estrutura de capital e, em conjunto com a Shell, busca novos investidores paraRaizen”.
“Por essa razão, a Cosan tem sido ativamente procurada por interessados em potenciais investimentosem ambas as companhias. Ainda que mantenha tratativas, até o momento não há qualquer decisão oucompromisso assumido”, acrescentou.
Na terça (2), a agência Bloomberg informou que a japonesa Mitsubishi está entre as interessadaspela Raízen, juntamente com outros grupos japoneses, como a Mitsui, que já mantém parcerias com aCosan em outros empreendimentos. Fontes afirmaram que a participação será vendida a um playerestrangeiro estratégico que busca exposição global ao etanol. O tamanho exato da participaçãopermanece indefinido e dependerá do valor da oferta.
Outra notícia que circulou, no Pipeline, do Valor Econômico, na quarta-feira (3), é que o BTGPactual e a Itaúsa também estão avaliando comprar uma fatia da Raízen.
Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Vanessa Zampronho / Safras News
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