SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) decidiu nesta quarta-feira (17) diminuir a taxa de juros do país para entre 4% e 4,25% ao ano, no primeiro corte da taxa básica americana em 2025. A redução veio em linha com a expectativa de analistas, que projetavam majoritariamente um corte de 0,25 ponto percentual nesta reunião.
A decisão desta quarta do Fed teve uma única dissidência, Stephen Miran. O diretor, indicado por Trump e cuja nomeação foi aprovada pelo Senado nesta semana, votou por uma redução de 0,50 ponto percentual.
Os juros permaneciam entre 4,25% e 4,50% desde 18 de dezembro de 2024, quando o Fed também aprovou um corte de 0,25 ponto percentual. Foram cinco reuniões neste ano em que os diretores optaram pela manutenção da taxa.
Além dos votos dos diretores, informações adicionais da reunião mostram um Federal Reserve dividido.
No gráfico de pontos do Fed, que reúne as projeções dos membros do comitê, a maioria das autoridades do banco central americano prevê cortes de 0,25 ponto percentual nas reuniões de outubro e dezembro. Caso se confirme, a taxa básica dos EUA terminaria 2025 entre 3,5% e 3,75% ao ano.
Ainda assim, sete dos 19 diretores indicaram um ritmo menor de cortes, o que sinaliza que o Federal Reserve continuará tendo dissidências internas nas próximas reuniões.
Um dos diretores estima que as taxas de juros atingirão o nível de 4,25% a 4,5% no final de 2025, retomando o patamar anterior de juros. Por outro lado, outra autoridade do Fed indicou uma queda acentuada, para uma faixa de 2,75% a 3%, ao fim deste ano. Embora as previsões sejam anônimas, especula-se que essa tenha sido a estimativa de Miran.
Na mediana, os diretores do Fed veem a inflação terminando este ano em 3%, acima da meta de 2% do banco central. A projeção para o desemprego também permaneceu inalterada em 4,5% e o crescimento econômico ligeiramente maior em 1,6% ante 1,4%.
O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia admitido a possibilidade de reduzir os juros do país no último mês, mencionando os riscos de desaceleração do mercado de trabalho americano como justificativa.
A inflação nos Estados Unidos permanece resiliente, chegando a 2,6% em julho. Por outro lado, o crescimento mensal de empregos desacelerou, com empresas freando contratações. Com isso, o mercado de trabalho se tornou o principal fator analisado pelo Fed.
“Esta situação incomum [de inflação resiliente e mercado de trabalho menos aquecido] sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando. E se esses riscos se materializarem, podem fazê-lo rapidamente na forma de demissões acentuadamente maiores e aumento do desemprego”, disse ele no Simpósio de Jackson Hole, em agosto.
Após a decisão do Fed ser anunciada, a Bolsa ultrapassou os 146 mil pontos pela primeira vez na história e o dólar recuou a R$ 5,28.
A redução ocorre em meio a ataques de Trump contra a autonomia do banco central. Na segunda (15), o presidente dos EUA voltou a pressionar a instituição, pedindo um corte “maior” de juros.
O republicano já disse cogitar nomear a si mesmo para dirigir o banco central, que a taxa poderia estar dois ou três pontos percentuais abaixo e que Powell é “burro” e “idiota” por manter os juros nesse nível.
Questionado nesta quarta sobre a influência de Trump no banco central americano, por meio na indicação de Stephen Miran, Jerome Powell negou-se a comentar, mas disse que os diretores “permanecem fortemente comprometidos em manter a nossa independência”.
Powell também disse que não houve apoio generalizado para um “maior” corte, apesar da pressão de Trump. “Fizemos aumentos e cortes muito grandes nos juros nos últimos cinco anos e tendemos a fazê-los em um momento em que sentimos que a política monetária está fora do lugar”, afirmou.
Nas últimas semanas, o presidente americano também iniciou uma campanha para tentar destituir Lisa Cook, única diretora negra no Fed, do cargo, acusando-a de uma suposta fraude na documentação de uma hipoteca. Apesar da ofensiva, um tribunal rejeitou a demissão.
Agora, o republicano conta com três indicados por ele no conselho de política monetária. Os diretores Christopher Waller e Michelle Bowman, os únicos votos contrários à manutenção dos juros última reunião de julho do Fed, também foram conduzidos ao cargo por Trump.
O ciclo de queda nos juros americanos deve aumentar a diferença entre as taxas dos Estados Unidos e do Brasil e beneficiar ativos brasileiros, segurando uma alta do dólar ante o real.
Caso o Banco Central brasileiro mantenha a Selic (taxa básica de juros do Brasil) em 15% nesta quarta, como projetado pelo mercado, essa diferença de juros iria a 10,75 pontos, levando em conta o limite superior americano.
Quanto maior essa diferença, mais rentável é a estratégia de investimento conhecida como “carry trade”. Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas mais baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira.
Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.