Com fome crescendo em Gaza, EUA e Israel deixam negociação de cessar-fogo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos e Israel reconvocaram para consultas nesta quinta-feira (24) seus negociadores que trabalhavam para tentar chegar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza, e o enviado especial do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, acusou o Hamas de não agir de boa-fé.

Trata-se do mais novo retrocesso nas conversas entre os dois lados, mediadas pelo Egito e pelo Qatar, em um momento em que palestinos morrem de fome na Faixa de Gaza devido ao bloqueio parcial de ajuda humanitária estabelecido por Israel.

Witkoff disse que, apesar de grande esforço dos mediadores, “o Hamas não parece estar agindo de forma coordenada e de boa-fé. Agora, vamos considerar outras opções para trazer os reféns de volta para casa e criar um ambiente mais estável para a população de Gaza”. O enviado de Trump não deu detalhes sobre que outras opções seriam essas.

Nos últimos dias, as Forças Armadas de Israel avançaram contra Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, um dos últimos locais em que ainda não havia ordens de retirada de civis emitidas por Israel e onde a liderança militar de Tel Aviv acredita que estejam os últimos reféns ainda em poder do Hamas.

Na terça (22), a OMS acusou Israel de bombardear instalações da organização no local e prender seus funcionários. Em nota, os militares israelenses disseram ter prendido pessoas suspeitas de envolvimento com terrorismo em uma operação que começou depois que soldados israelenses foram alvo de disparos.

O Hamas disse nesta quinta estar surpreso com as declarações de Witkoff, acrescentando que os mediadores Egito e Qatar parabenizaram a nova proposta do grupo terrorista e que todos acreditavam que um acordo estava próximo.

“O movimento reafirma sua disposição de continuar negociações e trabalhar de maneira a remover obstáculos e construir um acordo permanente de cessar-fogo”, disse o Hamas em nota. Uma autoridade israelense ouvida pela agência de notícias Reuters sob reserva disse que não é possível haver mais progresso nesse momento sem uma concessão do Hamas, mas não deu mais detalhes.

O objetivo declarado de Israel na guerra em Gaza é destruir o Hamas. Analistas militares dizem que isso não é possível, uma vez que o grupo, cuja capacidade de governar o território já foi desmantelada, agora atua como força de guerrilha e não deve aceitar um acordo que inclua sua desmilitarização ou dissolução.

Na terça, mais de cem ONGs de ajuda e direitos humanos divulgaram um comunicado alertando que a “fome em massa” se espalha pela Faixa de Gaza. De acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, 43 pessoas morreram de fome somente nesta semana. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 21 crianças com idade inferior a cinco anos morreram de inanição no território em 2025.

Depois de um bloqueio total a toda ajuda em Gaza, no final de maio Israel lançou um novo sistema de distribuição de suprimentos, operada pela Fundação Humanitária de Gaza (FHG). A entidade utiliza empresas privadas de segurança e logística dos EUA para levar suprimentos.

As Nações Unidas rejeitaram o sistema por considerá-lo fundamentalmente perigoso e uma violação dos princípios da neutralidade humanitária. Israel diz que é necessário impedir que os terroristas do Hamas desviem a ajuda. Segundo a ONU, militares israelenses já mataram mais de mil pessoas que tentavam receber comida desde maio.

Nesta quinta, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que seu país reconhecerá formalmente o Estado da Palestina em setembro, na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Segundo o francês, “a necessidade urgente de hoje é que a guerra em Gaza termine e que a população civil seja resgatada. A paz é possível”.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, disse também na quinta que o sofrimento e a fome em Gaza são “indizíveis e indefensáveis” e pediu que Israel permita a entrada de ajuda humanitária no território. Segundo Starmer, ele vai participar de uma ligação de emergência com a Alemanha e a França para discutir o que pode ser feito “para interromper a matança e entregar às pessoas a comida que desesperadamente precisam”.

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