SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O projeto está pronto. Nas ilustrações em 3D, o Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini, concessão nas mãos da Concais S.A. desde 1998, aparece em nova localização -a 3,5 quilômetros do lugar atual, bem no miolo do centro histórico de Santos, junto ao Parque Valongo.
Com amplos salões envidraçados e linhas arrojadas, a futura construção tem como fonte de inspiração o terminal da MSC em Miami, um dos maiores e mais modernos do mundo, inaugurado em abril.
Além de um edifício-garagem com mil vagas, o novo Concais terá três berços (espaços onde os navios atracam) dedicados aos navios de cruzeiro. “Atualmente, usamos berços públicos e precisamos competir com navios de carga”, explica Ivam Jardim, consultor da Concais S.A.
Os passageiros não precisarão mais ser transportados de ônibus entre o salão de embarque e o navio -eles vão poder caminhar por passarelas e fazer a travessia por fingers, como os usados nos aeroportos.
De acordo com Jardim, o novo terminal terá capacidade para receber até 36 mil pessoas no mesmo dia, contra os 30 mil atuais. “A maior diferença será o conforto e a qualidade do atendimento”, ele afirma.
O investimento será dividido. Caberá à Concais S.A. construir o prédio novo, o edifício-garagem, passarelas e pontes de acesso aos navios. Essa parte está orçada em R$ 450 milhões.
Já a infraestrutura pesada -a laje sobre a qual o terminal será erguido, os berços e a dragagem do canal– ao custo de R$ 800 milhões, será bancada pela empresa que vencer a licitação para o novo terminal de contêineres, o Tecon 10.
O leilão, segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, está previsto para acontecer até o fim do ano. Se tudo correr conforme o planejado, os navios já poderão atracar no novo terminal a partir de 2031.
A transferência para o centro histórico, segundo o prefeito Rogério Santos, também vai proporcionar mais opções aos passageiros que embarcam ou desembarcam dos cruzeiros, já que o Concais vai ficar a poucos passos de museus, igrejas históricas e armazéns restaurados. Cada temporada de cruzeiros injeta R$ 1 bilhão na economia local e gera 20 mil empregos no município.
“Vai ser como um Puerto Madero [área revitalizada do antigo cais de Buenos Aires] de menores dimensões. Grupos empresariais já estão adquirindo imóveis antigos, para transformá-los em hotéis”, diz.
Maior terminal portuário de passageiros da América do Sul, o Concais cresceu aos poucos. Quando foi inaugurado, em novembro de 1998, os navios de cruzeiro eram bem menores e a edificação, com 27,5 mil m², acomodavam 900 pessoas.
De lá para cá, as embarcações mais do que dobraram de tamanho. O terminal passou por diversas ampliações e melhorias e atingiu os atuais 41,5 mil m². Mas foram soluções adaptadas, insuficientes para dar conta do alto fluxo de passageiros.
Quando tudo funciona conforme o cronograma, os navios atracam de manhã cedo, entre 7h e 8h, para que os milhares de cruzeiristas desembarquem, recuperem suas malas e deixem o terminal até 11h. Só então começa a operação de embarque.
Basta um atraso, porém, para que os seis salões climatizados, onde ficam as lojas, cafeterias, caixas eletrônicos e ambulatório, fiquem pequenos para o acúmulo de pessoas.
Nas redes sociais e na plataforma Reclame Aqui, são recorrentes as queixas relacionadas à confusão nos guichês de check-in e aos atrasos nas operações de embarque e desembarque. Há relatos de filas nos banheiros e assentos insuficientes para a espera.
“Recomendamos que as pessoas só cheguem para embarcar a partir das 11h30. Infelizmente, nem todos são bem informados pelos agentes de viagens e muitos ansiosos chegam mais cedo, achando que vão poder embarcar antes e aproveitar melhor o navio”, explica Javier Carnevale, gerente de operação do Concais.
O movimento ao redor do terminal também é fonte de dor de cabeça. Carros de passeio, táxis, vans e ônibus circulam sem muita organização e, volta e meia, o acesso é interrompido pela passagem de lentos trens de carga.
“Já conseguimos negociar que eles não façam mais manobras longas nos nossos horários de maior fluxo. Estamos construindo uma passarela, mas ela só vai resolver o problema dos pedestres. Até a nossa localização nunca foi a ideal, faltou planejamento”, Carnevale admite.
A temporada de cruzeiros 2025/2026 será menor do que a anterior. Em número de leitos, segundo a Clia Brasil, braço brasileiro da Cruise Lines International Association, serão 20% a menos. Mas o Concais já sabe que, de novembro a abril, terá nove dias desafiadores, com três navios atracando simultaneamente: 28 de novembro, 1 e 13 de dezembro, 17 e 24 de janeiro, 15 e 22 de fevereiro, 15 e 22 de março.
Nesses dias, recomenda a empresa, o melhor é chegar ao porto de Santos, para embarcar, só depois das 12h.