Surgida em 1945 como Malharias Cambuci, no bairro paulistano que deu nome ao negócio familiar, a companhia criou a marca Penalty em 1970. “A empresa fabricava todo tipo de roupa, até que recebeu um pedido de uniforme para futebol”, afirmou Roberto Stefano, fundador e presidente do Conselho de Administração do grupo Cambuci. Apareceram mais de 30 sugestões para o nome, que ficou sendo Penalty e se tornou sinônimo de material esportivo no Brasil. Depois de atravessar turbulências financeiras e administrativas, a empresa se reposicionou no mercado nos últimos anos e teve receita líquida recorde em 2023, de R$ 459,2 milhões, 4,3% a mais do que no ano anterior. E os números continuam crescendo. No primeiro semestre deste ano, o lucro líquido foi de R$ 46,1 milhões (9,8% acima do valor registrado em igual período de 2023).
Roberto, 76 anos, faz parte da segunda geração da empresa, criada por seu pai, Eduardo Stefano, e três tios – irmãos de Eduardo. No final dos anos 1960, chegaram Roberto, Ricardo e Eduardo Filho, que deram início à guinada nos negócios. “Todos sempre gostaram de esportes, como futebol e basquete”, disse Roberto. A Penalty marca 2013 como o ano de início do processo de profissionalização, com a contratação de novo CEO, após escolhas malsucedidas, e transferência da sede para São Roque, a pouco menos de 70 quilômetros da capital paulista, onde já se concentrava a produção da marca.
Tradicional marca brasileira no ramo de esportes, a Penalty joga num mercado cujo comércio global mais do que triplicou em duas décadas e meia. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o montante importado de materiais esportivos saltou de US$ 18 bilhões, em 1996, para US$ 64 bilhões em 2022. Com isso, a companhia brasileira passou a conviver com gigantes internacionais do setor.
Para Roberto, a empresa possui vantagens competitivas importantes frente aos seus concorrentes de maior porte e faturamento. “Entre elas, posso citar fabricação local com décadas de know-how do processo produtivo, conhecimento profundo da preferência do consumidor brasileiro, baixa dependência de importação de matérias-primas e produtos acabados e portfólio completo de produtos”, disse. “Também podemos atuar com produtos acabados importados em faixas inferiores de preço.”
Uma das ações recentes da companhia foi a desativação da filial da Argentina (aberta em 1998), que, segundo o presidente, deverá ser temporária. De acordo com Roberto, o processo de reestruturação econômica pelo qual passa a Argentina tem impactos significativos sobre o consumo, uma vez que a redução dos subsídios e a desvalorização cambial, que visam equilibrar as contas públicas, possuem, num primeiro momento, um grande impacto sobre o poder de compra da população. “Além disso, ainda permanecem algumas restrições quanto à remessa de lucros para o exterior”, afirmou. “Não obstante esse cenário, o mercado consumidor argentino é amplo e aficionado por esportes, indicando assim que, uma vez estabilizada a economia e restaurado o poder de compra, se mostrará bastante promissor.”
Assim, acrescenta Roberto, a Penalty segue atendendo o país vizinho por meio de seu distribuidor “e também está pronta a retomar a atividade direta a qualquer momento”. Da receita líquida do ano passado, 6,9% vieram da operação na Argentina (R$ 31,6 milhões, de R$ 459,2 milhões). Tinha sido o dobro (14,5% do total) em 2022 (R$ 64,1 milhões, de R$ 440,4 milhões).
EXTERIOR – Nos seis primeiros meses deste ano, a receita líquida do grupo cresceu 0,4% no mercado interno (R$ 219,4 milhões) e 38,5% na exportação (R$ 3,6 milhões), que ainda representa parcela pequena da operação. “A companhia tem trabalhado para expandir seu faturamento no exterior e, à medida que a conjuntura econômica internacional apresente sinais de recuperação, espera-se absorver essa melhoria com incremento de faturamento para os países já atendidos e abertura de novos mercados”, disse Roberto Stefano. Atualmente, o grupo exporta para 12 países: Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Japão, Paraguai, Portugal, Rússia, República Tcheca e Uruguai.
De acordo com os balanços, do primeiro para o segundo trimestre de 2024 a receita subiu no mercado interno e caiu nas exportações. Na soma do semestre, o mercado externo cresceu. Segundo o presidente do Conselho de Administração, houve deslocamento de demanda, que se concentrou nos três primeiros meses do ano, quando a exportação subiu 733% sobre igual período de 2023, chegando a R$ 2,5 milhões. “Além disso, o ambiente internacional permanece instável, com as principais economias do mundo adotando políticas econômicas restritivas a fim de convergir com os índices de inflação para dentro de suas metas”, afirmou Roberto.
No mercado interno, a empresa aguarda uma melhora no contexto econômico. Segundo o executivo, a Penalty espera um cenário ainda desafiador no curto prazo, com taxas de juros de 10,5% até o final do ano, inflação acima de 4% e câmbio oscilando na faixa de R$ 5,30. “Para 2025, espera-se um cenário de redução da inflação e das taxas de juros, tanto no Brasil como no exterior, que teoricamente deve impulsionar o mercado consumidor”, disse Roberto. Segundo ele, a solidez financeira do grupo “é motivo de orgulho para a administração e reflexo do trabalho voltado ao crescimento sustentável da companhia”. O caixa líquido atingiu R$ 34,5 milhões no segundo trimestre. O índice de liquidez corrente, que mede a capacidade de pagamento de uma empresa, é de 2,37, o que indica folga em relação aos compromissos. O presidente destaca a “gestão permanente dos estoques e dos prazos médios de pagamentos e recebimento”.
A empresa não tem no horizonte o retorno do patrocínio em camisas de clubes de futebol, prática na qual foi pioneira. Mas, se não está em campo, atua com força nas quadras: futsal (Magnus Futsal, equipe vencedora da Conmebol Libertadores 2024, e Taboão Magnus) e vôlei (Vôlei Renata, Sesi Bauru – masculino e feminino) e basquete (Bauru). “No futebol, a Penalty é a bola oficial dos campeonatos paulista, carioca e paraense e da Copa do Nordeste, além de ser patrocinadora oficial do Brasileirão séries A e B, e da Copa do Brasil, fazendo com que a marca esteja na modalidade, mesmo não sendo parceira de um clube específico.” Com essa estratégia, Roberto Stefano espera marcar mais um gol.