SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Começamos a semana em ritmo agitado, de olho nos impactos das novas tarifas de Trump sobre a China na economia global, a classe média mais perto de se endividar pela casa própria, por que os ricaços querem menos Birkins e mais jatinhos particulares e outras notícias do mercado.
*DÉJÀ VU DE TRARIFAÇO*
Não, o leitor não abriu um email de abril, por mais que a notícia principal possa dar essa impressão. Donald Trump impôs uma nova taxa de 100% sobre as exportações chinesas para os Estados Unidos, com o início previsto para 1º de novembro.
📖 Voltando alguns capítulos. Em abril deste ano, a guerra comercial entre China e EUA se acirrou a ponto de o fornecimento de terras raras ser praticamente interrompido para o Ocidente e a tarifa sobre importações chinesas nos EUA chegar a 145%.
↳ Terras raras são um grupo de minérios usados em indústrias tecnológicas. Os ímãs feitos deles são essenciais para a fabricação de veículos elétricos. A China detém o controle da exportação desses materiais.
A disputa esfriou após uma rodada de negociações entre representantes dos dois países em maio. Desde então, os produtos do país asiático recebem tarifa de 30% na entrada no território americano. Algumas faíscas apareceram aqui e ali nos meses seguintes, mas nada na mesma proporção.
📅 De volta ao presente. Trump justificou o novo encargo sobre o país comandado por Xi Jinping em razão de uma limitação sobre a exportação de terras raras anunciada na semana passada.
Na quinta-feira, 9, a China anunciou que empresas estrangeiras precisarão obter autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos que contenham até pequenas quantidades de terras raras extraídas da China.
A decisão representa uma ameaça ao fornecimento contínuo para países do Ocidente, o que acendeu todos os alertas vermelhos na Casa Branca.
💬 Abre aspas. Aí vão algumas falas importantes dos últimos dias.
“A China exorta os EUA a corrigirem imediatamente suas ações equivocadas, publicou o Ministério do Comércio chinês. O órgão ainda ameaçou a tomada de medidas firmes e correspondentes, caso Trump não retroceda.
Os EUA querem ajudar a China e não prejudicá-la, disse o presidente americano ontem, em um tom mais conciliatório do que o adotado na sexta-feira.
↳ Trump e Jinping têm um raro encontro marcado no fim do mês que Washington ameaçou cancelar, devido às restrições a terras raras.
E agora? A frágil estabilidade aparente do mercado financeiro nos tempos recentes foi abalada pela notícia.
No Brasil, o dólar disparou 2,39% na sexta e terminou o dia a R$ 5,503, maior patamar desde agosto. A Bolsa recuou 0,73%.
Os principais índices americanos recuaram no momento tenso: S&P 500, Nasdaq 100 e Dow Jones encolheram 2,71%, 3,49% e 1,90%, respectivamente.
A expectativa para os próximos dias é de que dólar, juros e bolsas figurem entre os mortos e feridos do tiroteio entre Xi e Trump. Será que o chefe da Casa Branca vai esquecer um pouco do Brasil?
*PORTA DESTRANCADA*
A casa própria continua como uma das pautas mais fortes do governo Lula, sem sinais de desacelerar mesmo que a ideia de financiar um imóvel com uma taxa Selic de 15% ao ano não seja a mais intuitiva. Empresas do setor imobiliário agradecem.
Um novo pacote habitacional anunciado pelo Executivo na sexta-feira destrava R$ 20 bilhões para o crédito imobiliário, para facilitar a compra de imóveis para a classe média.
Como assim? A medida, desenhada para modernizar o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), pretende tornar o uso da poupança mais eficiente, liberar recursos hoje parados no Banco Central e ampliar a oferta de financiamentos para a casa própria.
O ponto central é a liberação total dos depósitos compulsórios da poupança em um prazo de dez anos. Atualmente, 20% dos valores depositados nas cadernetas ficam retidos no Banco Central e não podem ser usados pelos bancos para crédito.
↳ O que chamamos de depósitos compulsórios da poupança é a parte do dinheiro que os bancos recebem dos clientes na caderneta e que, por determinação, precisa ser enviada ao BC.
Agora, as instituições terão livre acesso a essa quantia, sob a condição de comprovar que concederam financiamentos habitacionais equivalentes.
🏰 Palacete. Aumentou o valor máximo do imóvel que pode ser financiado pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que permite que o trabalhador use seu FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para quitar a dívida.
Você pode financiar um imóvel de até R$ 2,25 milhões no sistema que garante um limite de juros de 12% ao ano.
💰 Hora de se endividar. A Caixa Econômica Federal volta a financiar até 80% do valor de imóveis para a classe média, o que reduz o valor da entrada. A cota estava limitada a 70% desde novembro do ano passado.
Nos próximos meses, veremos o impacto do pacote de medidas que o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou ser uma transformação estrutural para a economia brasileira.
*MENOS CHANEL, MAIS EMIRATES*
Há uma curiosidade entre os cidadãos ordinários de saber o que acontece na vida daqueles que ocupam o topo da pirâmide financeira. Felizmente, o leitor da Newsletter Mercado não terá de esperar a próxima temporada de White Lotus para saber as novidades do mundo dos ricaços.
👜 Bolsa furada. Empresas que vendem bens de luxo, como a Kering e a LVMH que reúnem marcas como Gucci, Louis Vuitton e Dior veem suas vendas de itens de moda caírem ano a ano.
A consultoria Bain estima que as vendas de bens pessoais de luxo cairão entre 2% e 5% neste ano.
Crème de la crème. Hotéis de alto padrão, passagens aéreas de primeira classe e experiências únicas. É para lá que os montantes dedicados a supérfluos estão indo.
O gasto global em hospitalidade de luxo deve ultrapassar US$ 390 bilhões em 2028, ante menos de US$ 240 bilhões em 2023, segundo a consultoria McKinsey.
As receitas por quarto disponível em hotéis de luxo têm sido maiores em todos os meses deste ano do que em 2024, segundo a empresa de dados imobiliários CoStar; nos quartos mais baratos, elas vêm caindo.
Na Chase Travel, braço do JPMorgan Chase, as reservas de voos de primeira classe cresceram mais de 20% entre junho e agosto, em relação ao ano anterior.
A IBA, empresa de dados de aviação, prevê a entrega de 820 jatos particulares em 2025 alta de 7,3%.
O que rolou? Segundo Richard Clarke, da corretora Bernstein, em entrevista à revista inglesa The Economist, há uma mudança acontecendo: o interesse por experiências exclusivas cresce, enquanto o por consumo de bens cai.
Roupas e bolsas de grife já estão disponíveis em quase todo o mundo são usadas tanto pela alta classe média quanto pelos super-ricos. Já viagens únicas, que podem custar dezenas de milhares de reais por pessoa ao dia, ainda são exclusivas.
Vai durar? Só se o setor do turismo souber lidar com o boom melhor do que as marcas de roupas fizeram quando tiveram a oportunidade de viralizar.
Por volta do ano 2000, as grifes começaram a cortejar consumidores “em potencial” (ricos, mas não bilionários). Quando a economia virou, perderam esse público que já era importante para os caixas.
Ainda, em busca de crescimento, as grifes de moda começaram a produzir em massa, o que comprometeu sua aura de exclusividade. O mesmo alerta vale para o turismo: analistas preveem um excesso de oferta de hotéis de alto padrão.
A lógica dos bilionários é sempre a mesma: se todo mundo pode, eu não quero.
*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*
🤑 Loucura, loucura, loucura. Luciano Huck está na lista de interessados em comprar o Will Bank, uma das operações do Banco Master, em crise deflagrada.
⏮️ Voltando no tempo. O crescimento econômico do Brasil Imperial foi subestimado, segundo um estudo dos economistas Edmar Bacha, Guilherme Tombolo e Flávio Versiani. Entenda melhor.
🚌 Vai para frente? Medida polêmica no mercado financeiro, governo quer tarifa zero no transporte público como bandeira de Lula em 2026 e elabora proposta.
🏘️ Mudança nas férias. O Airbnb estima que a reforma tributária brasileira deve levar anfitriões que oferecem casas no aplicativo a abrir empresas para evitar impostos.