Como partido de extrema direita ganha destaque no Japão

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SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Criado em 2020 pelo ex-militar Sohei Kamiya, o partido japonês Sanseito se tornou símbolo da nova direita no país ao adotar o slogan “Japão em primeiro lugar”, restringir sua pauta à imigração e explorar o descontentamento econômico.

Sanseito conquistou 14 cadeiras no Senado e se tornou uma das maiores forças de oposição no Japão. Nas eleições realizadas em 20 de julho de 2025, o partido ultranacionalista saiu da condição de sigla marginal para ocupar um espaço central no Legislativo, desafiando o domínio do PLD (Partido Liberal Democrata).

Partido de direita ganhou projeção ao explorar temas como imigração, crise econômica e globalismo. O partido se apoiou no lema “Japão em primeiro lugar” para atrair eleitores insatisfeitos com o sistema político tradicional, como apontou o The Guardian.

Com o país batendo recordes de turistas e imigrantes, o discurso anti-imigração do Sanseito ganhou força. Em 2024, o Japão recebeu mais de 37 milhões de visitantes, cenário usado pela legenda para defender restrições a estrangeiros, à cidadania e às regras de segurança.

O crescimento do Sanseito expõe o desgaste do PLD e a busca por alternativas. Para Paulo Watanabe, professor de relações internacionais da Universidade São Judas Tadeu, o avanço do partido revela o cansaço de parte da sociedade japonesa com a política dominada pelo PLD desde o pós-guerra. “Parte da sociedade japonesa busca mudanças em temas polêmicos, como a permanência de estrangeiros, a política de defesa e os impostos”, afirma.

Partido de direita conquistou eleitores que rejeitam o nacionalismo moderado do governo. Watanabe destaca que o partido deu voz a um eleitorado que não se sentia representado pelo PLD. “Eles sempre estiveram lá, mas agora ganharam voz.”

O poder do Sanseito está mais em pressionar o debate público do que em mudar a política externa. “Trata-se de uma oposição crescente, que tem como objetivo denunciar os males da atual política. Mas, na prática, as coisas são bem diferentes do discurso”, diz Watanabe.

O avanço eleitoral do partido marca uma nova etapa na política japonesa. Segundo Watanabe, o partido conquistou um público fiel e recursos consideráveis. “O Sanseito tem pautas muito diferentes do convencional, sendo uma oposição de delicado manejo”, diz o professor.

Fenômeno ainda não representa ameaça à democracia japonesa. Watanabe considera cedo para falar em riscos institucionais. “Ainda é cedo para avaliar os riscos. Por enquanto, vejo mais um discurso voltado a seus apoiadores do que um projeto real de ruptura”.

PARTIDO SURGIU NA PANDEMIA

Sanseito nasceu na pandemia, alimentado por teorias conspiratórias e rejeição ao sistema político tradicional. Fundado em 2020 por Sohei Kamiya, ex-militar e ex-professor de inglês, o partido se destacou nas redes sociais ao explorar discursos nacionalistas e críticas ao globalismo, à vacinação e às medidas contra a covid-19.

O partido adotou o trumpismo como modelo e usou as redes sociais para transformar insatisfação em força política. O partido assumiu um discurso ultranacionalista focado na rejeição ao globalismo e à imigração. A legenda cresceu entre jovens homens insatisfeitos com o PLD e usou o YouTube para espalhar sua mensagem. A combinação de nacionalismo radical, críticas ao sistema e linguagem direta converteu o descontentamento social em capital eleitoral.

Redes sociais foram usadas como arma, e partido superou o PLD no alcance digital. O canal do Sanseito no YouTube ultrapassou 400 mil seguidores, revelando o impacto das mídias digitais na mobilização de uma base jovem e descontente.

As redes sociais transformaram o nacionalismo velado em discurso aberto e radical. “O Sanseito surgiu e cresceu com as mídias sociais. Com discursos ultranacionalistas, deu voz àqueles que não podiam se expressar, muitas vezes com xenofobia e fake news”, diz o professor.

O sucesso eleitoral transformou o partido em símbolo da nova direita populista japonesa. Analistas como Jeffrey Hall, da Universidade Kanda, afirmam que o Japão abriu espaço para um movimento de extrema-direita que muitos consideravam improvável, mas que “veio para ficar”.

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