Conflito em Gaza matou mais jornalistas que as duas Guerras Mundiais, do Vietnã e do Afeganistão somadas

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ano de 2024 foi, desde que se tem registro, o período com maior número de mortes de jornalistas e profissionais de mídia em zonas de guerra pelo mundo, segundo o Comitê de Proteção dos Jornalistas (CPJ). Quase dois anos depois do 7 de Outubro de 2023, que desencadeou o atual conflito armado entre Israel e o grupo terrorista Hamas, a quantidade de trabalhadores de imprensa mortos no território palestino superou o de ao menos outros sete conflitos somados.

Juntas, as guerras Civil Americana, da Coreia, do Vietnã, da Iugoslávia, do Afeganistão e as duas Guerras Mundiais deixaram 229 profissionais de mídia mortos. Até este mês de agosto, em Gaza, ao menos 246 jornalistas morreram no exercício de sua profissão, segundo dados do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, e outros 520 foram feridos —a organização ainda contabiliza ao menos 800 familiares mortos.

A compilação dos dados de conflitos desde o século 19 foi publicada pela Universidade Brown, dos Estados Unidos, em abril deste ano. Já naquele momento, o número de profissionais de mídia mortos em Gaza ultrapassava o das mortes dos outros conflitos.

O trabalho analisa e compila os números de diversas fontes para fornecer um panorama abrangente. O número de mortes confirmadas, em especial nos conflitos ainda ativos, varia a depender dos métodos e frequência de atualização das organizações internacionais. De todo modo, os pesquisadores apresentam as múltiplas contagens e reconhecem a fragmentação de algumas delas ao estabelecer a comparação.

Não é possível dizer que a guerra entre Israel e o Hamas é o conflito que mais matou jornalistas em todo o mundo. Os conflitos da Síria e do Iraque, por exemplo, têm números elevados que, a depender da contagem, podem ultrapassar o número de mortos em Gaza.

A Rede Síria para os Direitos Humanos (SNHR, na sigla em inglês), por exemplo, fala em mais de 700 profissionais de imprensa mortos desde 2011. Por outro lado, organizações do Iraque contabilizam um patamar próximo das 300 mortes.

Mesmo sem dados finais, e a partir da análise das contagens disponíveis, a pesquisa conclui que quase 35% dos jornalistas mortos em situações relacionadas a seu trabalho entre 2003 e 2022 estavam concentrados nos territórios sírio e iraquiano.

O estudo ainda sinaliza o porquê da classificação de Gaza ser o “pior conflito já registrado para repórteres”. No Iraque, desde 2003, a média de jornalistas mortos pelo conflito é de 13 pessoas por ano. De outubro de 2023 a abril de 2025, em Gaza, a média foi de 13 profissionais por mês.

Entre os motivos do elevado patamar de mortes no território palestino, pode estar a maior cobertura jornalística em relação ao conflito que, por sua vez, acarreta em um maior número de profissionais no território.

A pesquisa da universidade americana ainda destaca o fato de que os dados de conflitos não-ocidentais, especialmente de antes da década de 1990, são ainda mais fragmentados e, quando existem, carecem de checagem e organização.

De todos os profissionais de mídia mortos nos conflitos, ao menos 9 em cada 10 são cidadãos locais do país em que trabalham. Em 2023, 98% dos jornalistas mortos em zonas de guerra eram repórteres locais, segundo o International News Safety Institute (INSI).

Na Faixa de Gaza, nesta segunda (25), ataques israelenses ao hospital Nasser mataram cinco jornalistas palestinos na cidade de Khan Yunis, ao sul do território. O governo de Binyamin Netanyahu admitiu que os profissionais não eram integrantes do Hamas ou de outras facções do território palestino, e afirmou ter aberto uma investigação sobre o que o premiê classificou de “acidente trágico”.

Tel Aviv afirmou que o bombardeio mirava uma suposta câmera “posicionada pelo Hamas”. “As tropas agiram para remover a ameaça, desmontando a câmera”, disse o Exército sobre a ação que matou pelo menos 20 pessoas.

O Hamas classificou a explicação israelense de “infundada, desprovida de qualquer evidência”. Segundo o grupo terrorista, a declaração de Israel “busca apenas escapar da responsabilidade legal e moral por um massacre”.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo