[AGÊNCIA DC NEWS]. Após uma revisão, a previsão de crescimento da construção em 2025 deve ser de 2,2%, ante os 3% previstos anteriormente, segundo dados do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas) e SindusCon-SP. O resultado é uma média entre o desempenho das construtoras (2,5%) e de atividades informais, como autoconstrução e pequenos empreiteiros (1,5%). Entre as causas apontadas para essa redução, as empresas relataram na Sondagem da Construção que o acesso e o custo do crédito são as maiores dificuldades. O financiamento à produção de unidades pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) despencou 61%, passando de 81 mil imóveis para 32 mil entre junho de 2024 e junho de 2025. Porém, não faltam recursos. Segundo relatório, a oferta de crédito incentivado disponível, em junho, somava R$ 1,3 trilhão. O problema, afirma a coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre, Ana Maria Castelo, é a burocracia para o acesso e o peso dos juros para a contratação.
Atualmente, o sistema de financiamentos incentivados para a construção civil envolvem quatro perfis de crédito: 1) Letra Imobiliária Garantida (LIG); 2) Letra de Crédito Imobiliário (LCI); 3) SBPE; e 4) FGTS. O sistema é sustentado principalmente pelos recursos da caderneta de poupança. Pela regra vigente, os bancos são obrigados a direcionar parte do que captam para financiar a habitação. Esse cálculo é feito com base no saldo devedor dos contratos em andamento. Isso significa que, conforme os clientes amortizam seus financiamentos, o saldo cai e os bancos precisam conceder novos empréstimos para cumprir a exigência mínima.
Esse mecanismo garante que o volume de crédito habitacional acompanhe a disponibilidade de recursos da poupança, mas também limita a expansão do sistema. Como a capacidade de concessão está diretamente atrelada ao saldo das cadernetas, o espaço para ampliar o crédito depende do ritmo de captação da poupança, que nos últimos anos tem oscilado diante da concorrência com outras aplicações financeiras mais rentáveis. O SindusCon-SP, no entanto, apresentou um novo modelo para o financiamento de obras e imóveis, usando a mesma premissa de recursos, mas distribuições diferentes.
O modelo parte da utilização dos recursos da poupança e de instrumentos do mercado de capitais, como LCIs e LIGs, para ampliar o financiamento habitacional. Na prática, o sistema funcionaria com base em um mecanismo de liberação de recursos. Sempre que um banco concedesse um financiamento habitacional, teria acesso ao mesmo montante da poupança para aplicar em operações mais rentáveis. O retorno obtido nessas aplicações compensaria a oferta de juros menores nos empréstimos para compra da casa própria.
A apuração do direcionamento dos recursos também mudaria. Hoje, o cálculo considera o saldo devedor das operações: à medida que o cliente amortiza a dívida, o banco precisa conceder novos financiamentos para manter o nível exigido. Pelo novo modelo, cada operação contratada contaria por cinco anos, independentemente do saldo devedor. Como o prazo médio dos contratos habitacionais é superior a esse período, a consequência prática seria a entrada de mais crédito do que a poupança sozinha é capaz de sustentar. Assim, os bancos teriam de buscar fontes adicionais de financiamento, como LCIs, LIGs e mercado de capitais.
O sistema proposto não estabelece uma taxa fixa de juros. Em vez disso, cria um mecanismo de incentivos e punições. Caso um banco empreste menos do que o volume equivalente a 100% do saldo de poupança, a diferença ficaria retida, sendo remunerada apenas pelo rendimento da própria caderneta. Como essa taxa é inferior à do mercado, as instituições teriam um custo de oportunidade por não atingir o direcionamento. A proposta também avalia os riscos trazidos com a mudança. Entre eles, a possibilidade de juros habitacionais mais altos do que os praticados atualmente, a concentração de crédito nas faixas de renda mais elevadas e a redução de recursos destinados à habitação popular. Outro ponto de atenção é que o volume atual de LCIs e LIGs no mercado é inferior ao saldo total da poupança, o que exigiria uma expansão significativa desses instrumentos financeiros.
Segundo Ana Castelo, a poupança ainda tem um funding de R$ 700 bilhões, “o que permite sustentar o modelo atual e não mudá-lo agora, quando a Selic está em 15% ao ano”. De acordo com a pesquisa Sondagem da Construção, liberada em abril, nos últimos 12 meses, 37,6% das empresas obtiveram crédito para várias finalidades (produção, capital de giro etc.). Enquanto 9% tentaram, mas não conseguiram, e 53,4% não tentaram. Entre estas, pesou a alta taxa de juros para 18% das construtoras e 44% das incorporadoras. O relatório aponta ainda que, a queda da participação da poupança no financiamento do setor imobiliário não significa uma escassez de recursos, mas que a solução tende a ficar menos focada em uma só linha. Segundo o presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Credito Imobiliário e Poupança), Sandro Gamba, o funding da poupança está sendo direcionado para o longo prazo, de 20 a 30 anos. O executivo afirma que as operações de ciclo mais curto têm sido atendidas por outras linhas, e que a representativade dos formados de financiamento “precisa ser avaliada”.
RAIO X – O nível de emprego na construção cresceu no primeiro semestre, embora menos que no verificado no mesmo período de 2024 e 2023, com desaceleração em edificações e serviços, e elevação em obras de infraestrutura ao final de junho eram 3,1 milhões de trabalhadores atuando em canteiro de obras, sendo 820 mil com carteira assinada. A perda de fôlego no setor também foi registrada, segundo o SindusCon-SP, sob a ótica do Registro de Novas Obras Iniciadas (CNO), que apresentou queda de 6,2% nas novas construções imobiliárias iniciadas nos primeiros seis meses do ano, que somaram 71,8 mil obras. Ao se considerar apenas o mês de junho, a queda é maior, de 8,2%.
Os custos da construção, por sua vez, seguem em trajetória de alta, tendo o Índice Nacional de Custo de Construção (INCC-DI) atingido 10,26% no acumulado de 12 meses até julho, puxado pela mão de obra. Na cidade de São Paulo o indicador está em 8,5% em 12 meses, já incluído o efeito dos reajustes das convenções coletivas de trabalho. O resultado da capital de São Paulo é o maior entre as sete pesquisadas. O menor valor acumulado foi Brasília (DF) com 5,5% em 12 meses. Na média o percentual ficou em 7,43%.
No mercado imobiliário, destaca-se o aumento de 47,8% dos lançamentos no primeiro semestre, na capital paulista. Os dados usados pelo SindusCon e FGV/Ibre são do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). De acordo com a análise, as vendas de imóveis novos, no mesmo período, subiram 21,1%. Segundo Ana Castelo, da FGV, diante desse cenário de aumento dos lançamentos e redução da mão de obra, “aumenta o desafio de o setor conseguir elevar a produtividade”.
Para o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, pesam na projeção do PIB do setor os conturbados cenários políticos e econômicos dentro e fora do Brasil, entre eles o impasse geopolítico introduzido pelos EUA com o tarifaço, e as dúvidas sobre o avanço das medidas de redução de gastos do governo federal e redução dos juros. “Mas, no conjunto, o país acabará dando conta do desafio, porque as tarifas possivelmente seguirão elevadas”, diz. De acordo com o vice-presidente, há um novo rearranjo do comércio mundial e o Brasil tem conseguido melhorar a pauta de exportação com serviços, produtos semimanufaturados e manufaturados. “Nosso equilíbrio fiscal causa mais preocupação do que o cenário externo. Estamos com uma taxa de juros muito alta.” Segundo Zaidan, os juros penalizam muito as famílias e as empresas e isso vai ter uma consequência mais forte, mais adiante.