Cúpula entre Trump e Putin acaba sem trégua na Ucrânia

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A esperada cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin nesta sexta-feira (15) gerou o que ambos os presidentes chamaram de concordâncias acerca da Guerra da Ucrânia, mas a palavra cessar-fogo não surgiu nos comunicados feitos por ambos após 2 horas e 40 minutos de conversas.

“Não há um acordo até haver um acordo. Grande progresso hoje, mas não chegamos lá ainda”, disse Trump ante repórteres a quem a palavra não foi passada, após terem interpelado Putin de forma incisiva na hora da foto de abertura do evento.

“Eu vou fazer algumas ligações. Vou ligar para os aliados da Otan, para [o presidente ucraniano Volodimir] Zelenski, para ver se ele concorda”, completou, cobrindo Putin de elogios por sua “relação fantástica” ao longo de anos difíceis. “Nós concordamos em vários pontos, faltam alguns. Talvez o mais importante”, disse, com as palavras “Buscando a Paz” inscritas ao fundo.

No avião a caminho de Anchorage, no Alasca, onde o primeiro encontro desde 2021 entre presidentes das duas maiores potências nucleares ocorreu, Trump havia dito que “ficaria triste” se o cessar-fogo que buscava arrancar de Putin não saísse do encontro.

Ao que parece, as horas com o russo arrefeceram seu ímpeto. Nenhuma palavra na entrevista sobre as “severas consequências” que ele novamente prometeu impor aos russos na forma de sanções econômicas que atinjam parceiros de Moscou, como China e Brasil.

Isso não quer dizer que elas não estejam prontas para serem aplicadas, é claro, mas nada transpareceu ainda. Ainda assim, Putin reforçou seus pontos usuais, falando que a guerra é uma tragédia entre povos “com a mesma raiz”, mas que é preciso trabalhar nas razões do conflito —sob sua perspectiva.

Putin manteve o semblante fechado em sua fala e buscou inserir a Ucrânia em um contexto maior, equivalendo a posição da Rússia à dos Estados Unidos como grande potência. Nisso, a cúpula entregou um grande presente de imagem para o russo. É provável que acordos comerciais e negociações com armas nucleares já estejam no cardápio.

Dizendo que a relação entre EUA e Rússia estava “no pior nível desde a Guerra Fria” na gestão do antecessor de Trump, Joe Biden, afirmou que os países precisam “ir do confronto ao diálogo”. “Eu e o presidente Trump temos um contato direto muito bom, nos falamos de forma franca”, disse Putin.

Ao falar da Ucrânia, apenas disse que Trump e ele “chegaram a um acordo para pavimentar o caminho para a paz”. “O presidente tem uma visão clara do que nós queremos atingir. Espero que os acordos de hoje sejam o início da solução”, disse, acrescentando esperar que “Kiev e a Europa não torpedeiem os esforços”.

O fato de que nem Zelenski, nem europeus estavam presentes não foi citado, assim como a principal demanda de Putin, já colocada por escrito: a tomada de cerca de 20% da Ucrânia e a neutralidade militar do vizinho, que quer entrar na Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.

Antes do encontro, Trump havia dito concordar que seria necessário haver “troca territorial” entre os rivais, embora isso só implique a Putin devolver algo que não é seu, tomado desde o início da guerra que mudou o desenho da segurança global, em fevereiro de 2022.

Trump também havia condenado as ofensivas recentes de Putin, dizendo que elas não lhe trariam vantagem à mesa de negociação. Nada disso transpareceu nas anódinas declaração de ambos. Trump sugeriu que mais está por vir e que deverá se encontrar novamente com Putin, mas não citou a vontade de juntar Zelenski ao grupo que expressara antes.

“Nos vemos em Moscou”, brincou Putin.

A maratona de conversas começou às 11h32 (16h32 em Brasília). Trump pediu para ampliar o primeiro encontro com o russo, que seria a sós com intérpretes, incluindo o secretário Marco Rubio (Estado) e o negociador Steve Witkoff. Putin então levou o chanceler Serguei Lavrov e o assessor Iuri Uchakov.

Duas horas e 40 minutos depois, o fórum seria ampliado com os ministros russos Andrei Belousov (Defesa), Anton Siluanov (Finanças) e o czar de investimentos Kirill Dmitriev do lado russo. Já Trump trouxe também Pete Hegseth (Defesa), Scott Bessent (Tesouro) e Howard Lutnick (Comécio), além do diretor da CIA, John Ratcliff.

Mas o Kremlin então anunciou que haveria a entrevista coletiva dos presidentes.

A reunião foi a primeira entre os líderes desde 2019, quando Trump ainda estava em seu primeiro mandato e ambos se encontraram às margens da cúpula do G20 em Osaka. Ao todo, eles tiveram seis encontros antes de o republicano deixar a Casa Branca.

A visita em si foi uma vitória de Putin, que desde a invasão há três anos e meio é visto como um pária em boa parte do Ocidente. Em 123 países que reconhecem o Tribunal Penal Internacional, o russo não pode pisar sob risco de ser preso devido a uma ordem da corte, que o acusa de crime de guerra. EUA, Rússia e Ucrânia não estão na lista.

Trump, que alternou aproximações e ameaças a Putin desde que voltou ao poder em janeiro, não vendeu o ingresso do show de forma barata.

Putin teve de obedecer a um peculiar ritual para descer de seu avião ao mesmo tempo que o americano, atravessou uma alameda de caças avançados do rival e viu um bombardeiro desenhado para atacar a Rússia com armas nucleares sobrevoar a pista em Anchorage.

Ao cumprimentar Putin na pista, após aplaudi-lo, puxou-o com força para si, uma linguagem corporal de controle. Abandonou também o encontro a sós, com intérpretes, que o exporia a rumores de ser influenciado por Trump, adicionando mais duas testemunhas de cada lado.

Mas deu uma carona a Putin em sua limusine, algo inédito para ambos e a única oportunidade em que ficaram sozinhos em ambiente fechado ao longo do dia.

Os russos, de todo modo, aparentavam satisfação antes do encontro. Lavrov fez uma provocação pública a Kiev, vestindo uma malha com as iniciais em cirílico da União Soviética, país que englobava a Ucrânia até 1991 sob o comando de Moscou.

Após a entrevista coletiva, Trump cobrou Zelenski por um acordo que estabeleça o fim da guerra. “Tem de fazer um acordo, sim. Olhe, a Rússia é uma potência muito grande, e eles [ucranianos] não são. São ótimos soldados”, afirmou o republicano em entrevista à Fox News.

Trump disse ainda que não terá de pensar, ao menos por enquanto, sobre a imposição de sanções econômicas que atinjam parceiros de Moscou. Segundo o presidente, isso poderá mudar, contudo, “em duas ou três semanas”.

Ainda à Fox News, o presidente americano disse acreditar que Putin e Zelenski vão marcar uma reunião para tentar chegar a um cessar-fogo na guerra. “Agora, cabe realmente ao presidente Zelenski fazer isso acontecer. E eu diria também que as nações europeias têm de se envolver um pouco. Mas cabe ao presidente Zelenski. E se eles quiserem, eu estarei na próxima reunião”, disse.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo