SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As chances de uma reunião de cúpula entre Vladimir Putin e Volodimir Zelenski vêm diminuindo a cada dia, apesar e também por decorrência da iniciativa de Donald Trump, que promoveu encontros separados com os rivais da Guerra da Ucrânia num espaço de três dias.
Com isso, ambos os países voltaram a escalar a intensidade dos ataques aéreos, e a madrugada desta quinta (21) foi das mais violentas em semanas.
Em uma entrevista a jornalistas estrangeiros divulgada nesta quinta, o presidente ucraniano disse que quer “ter um entendimento da arquitetura das garantias de segurança em sete a dez dias”. Ele afirmou que não tem como encontrar-se com o russo sem a questão resolvida.
Ela dificilmente será, e isso é cortesia do voluntarismo confuso de Trump. Ele disse na segunda (18) que Putin havia concordado no encontro ocorrido na sexta (15) no Alasca com algum tipo de proteção ocidental à Ucrânia nas linhas do artigo 5 da Otan.
Segundo ele, se 1 dos 32 membros da aliança militar é atacado, os outros têm de vir em seu socorro. A partir daí, Trump começou um vaivém, dizendo ora que poderia enviar tropas a Kiev, ora que descarta isso e que apoiaria tal iniciativa de países europeus com suporte aéreo.
Ao mesmo tempo, após fazer uma ligação a Putin no fim da reunião com Zelenski e seis líderes europeus na Casa Branca, o republicano anunciou que o russo estava pronto para se encontrar com o ucraniano, e que ele mesmo participaria da cúpula em até duas semanas.
Depois, Trump disse que o ideal seria deixar os rivais se encontrarem. Enquanto isso, chefes militares da Otan começaram a estudar como poderia ser feita a garantia de que Putin não mais invadiria a Ucrânia em caso de um acordo de paz.
O Kremlin rejeita totalmente a ideia de forças estrangeiras em solo ucraniano. O chanceler Serguei Lavrov, que na quarta (20) havia dito que a Rússia teria de integrar a coalizão de garantidores e ter poder de veto sobre qualquer ação, uma contradição em si, voltou ao tema da cúpula nesta quinta com novos argumentos.
“Nosso presidente sempre disse que está pronto para se encontrar. Mas com o entendimento que todas essas questões que requerem consideração no mais alto nível terão de ser muito bem trabalhadas”, disse.
“E, claro, com o entendimento de que quando e se, esperamos, chegar a hora de assinar acordos, a questão da legitimidade da pessoa que assinar tais acordos do lado ucraniano esteja resolvida”, completou, recolocando na mesa a ideia da remoção de Zelenski do poder antes de qualquer paz definitiva.
Putin já usou essa carta, dizendo que Zelenski não é legítimo porque seu mandato expirou em maio do ano passado. Até Trump já chamou o ucraniano, em meio a rusgas com eles, de “ditador sem eleições”.
O fato é que, sob a Constituição de Kiev, não é possível convocar eleições se o país está sob lei marcial, o que ocorre desde a invasão. O tema é espinhoso: há cada vez mais políticos no país se perguntando quando Zelenski deixará o poder, e um desafiante se movimenta por fora, o ex-comandante das Forças Armadas Valeri Zalujni.
Na proposta por escrito em que pedia território e neutralidade militar da Ucrânia, o Kremlin incluiu a exigência de uma eleição antes da formalização de qualquer acordo final. Kiev recusou.
Enquanto isso se desenrola, os russos promoveram o maior ataque desde a cúpula entre Trump e Putin no Alasca, na sexta (18), com 547 drones e 40 mísseis um dos piores desde a invasão de 2022.
Um dos principais alvos foi uma empresa de eletrônicos na região de Zakarpattia, no extremo oeste do país, a menos atacada durante a guerra. Ao menos 1 pessoa morreu e 22 ficaram feridas na ação.
“Era um negócio civil, com investimento americano, que produz itens do cotidiano, como máquinas de café”, disse Zelenski no X. Os russos afirmam que a empresa fornece peças para armamentos, como drones.
Em Lviv, também no oeste, outra pessoa morreu, e na região central de Dnipropetrovsk, uma importante estação de bombeamento de gás foi destruída. Em solo, Moscou disse ter tomado mais uma cidade na ofensiva que promove em Donetsk, no leste.
Na mão inversa, os ucranianos lançaram dezenas de drones contra a Rússia, 70 dos quais o Ministério da Defesa disse terem sido abatidos. Um deles, segundo Kiev, atingiu uma refinaria no sul do rival, a segunda em uma semana.
O foco ucraniano em refinarias tem levado à falta de gasolina em algumas regiões russas, como no Extremo Oriente do país. O governo estipulou um veto à exportação do derivado do petróleo no fim de julho para tentar evitar um desabastecimento mais amplo.