[DC NEWS TALKS #92] Sergio Mena, Abrafarma: "Investimento em IA no setor será de R$ 1 bi em 10 anos"

  • Com faturamento de R$ 114,87 bilhões e 1,3 bilhão de atendimentos anuais, setor busca modernização para sustentar ritmo de crescimento
  • “Não pode existir investimento em tecnologia desvinculado da IA daqui para frente", disse o CEO, que defende atenção primária nas farmácias
Por Bruna Lencioni | Letícia Cassiano

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O setor de farmácias e drogarias prepara um dos maiores ciclos de investimento tecnológico de sua história. Segundo Sergio Mena Barreto, CEO da Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), esse movimento terá a IA como eixo central. “O setor investirá cerca de R$ 1 bilhão em inteligência artificial em até dez anos”, afirmou ao DC NEWS TALKS, o videocast da Agência de Notícias DC NEWS. Para ele, esse volume é compatível com a necessidade de modernização das operações em um setor que ampliou presença física, aumentou a base de clientes e passou a oferecer serviços além da venda de medicamentos.

Mena afirmou que a inteligência artificial deve reduzir fricções na jornada de compra e acelerar a transição das farmácias para o modelo de hub de saúde, sobretudo nas redes que já estruturaram processos digitais. “Não pode existir investimento em tecnologia que não esteja vinculado à IA daqui para frente”, disse. As 29 redes associadas à Abrafarma somam mais de 11,5 mil farmácias e detêm 50% do market share nacional. Entre novembro de 2024 e outubro de 2025, registraram faturamento de R$ 114,87 bilhões, alta de 13,82% em relação ao período anterior.

Nos últimos 12 meses, essas redes venderam R$ 111,9 bilhões e realizaram 1,3 bilhão de atendimentos, volume que reforça a relevância do setor no varejo brasileiro. Na visão dele, a farmácia se tornou um ponto de conveniência e orientação, o que amplia o papel do farmacêutico e exige qualificação, padronização e novos fluxos operacionais. Segundo Mena, a adoção tecnológica será determinante para sustentar esse ritmo de crescimento. Mena destacou ainda que o sortimento também influencia o comportamento do consumidor. “As pessoas não encontram no supermercado as mesmas variedades de shampoo. Para dar um exemplo”, disse.

HUBS DE SAÚDE – O executivo defende que o setor farmacêutico assuma papel mais estruturante no sistema de saúde e passe a integrar fluxos de atenção primária. “A farmácia é o elemento mais subutilizado do sistema. Não estamos integrados como poderíamos”, disse. Ele afirmou que países desenvolvidos já operam salas de atendimento com escopo ampliado e que o Brasil precisa avançar para oferecer serviços básicos ao paciente. Mena relatou que uma farmácia em Minas Gerais identifica casos de HIV e sífilis entre caminhoneiros. “É incrível o que ela faz e o que identifica. O cliente entra e ela oferece um check-up muito rápido”, disse.

Escolhas do Editor

Para que os hubs progridam, segundo Mena, é preciso avançar com protocolos mais claros, regulamentação consistente e investimento contínuo em capacitação, infraestrutura e sistemas de informação capazes de se integrar à rede pública e privada. A digitalização, afirmou, permitirá monitoramento mais eficiente do histórico do paciente, além de liberar o farmacêutico para atividades de cuidado direto. Embora a Abrafarma considere que a escala das grandes redes favorece a implementação de modelos digitais, a entidade reconhece que a velocidade de adoção varia entre empresas e gera preocupação entre redes menores que temem perder competitividade.

MARKETPLACES – Durante a entrevista, Mena criticou a venda de itens sem registro sanitário em marketplaces e afirmou que o problema representa risco à saúde pública, além de criar ambiente de concorrência desleal. “Produtos inventados são vendidos em marketplace. Só quem pode vender remédio no Brasil é farmácia.” Para ele, plataformas deveriam assumir responsabilidade mais clara sobre o que é comercializado. O debate ocorre em meio à expansão do comércio digital e à dificuldade de fiscalização de vendedores informais que utilizam essas plataformas para distribuir produtos sem comprovação de segurança e eficácia.

A reportagem verificou a existência de um dos itens citados pelo executivo e não encontrou registro para comercialização na base da Anvisa. O órgão foi procurado, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço permanece aberto para posicionamento. A Abrafarma afirma que continuará defendendo fiscalização mais rígida e cooperação direta com autoridades sanitárias para reduzir riscos ao consumidor. Entidades do varejo e associações de saúde também se mobilizam, argumentando que a ausência de controle fragiliza o mercado formal de medicamentos, que opera sob normas estritas. Confira a entrevista.

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