Derrite: crise na segurança pública é resultado de "negligência acumulada ao longo de várias gestões"

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Para Derrite, Estado perde força e não consegue punir adequadamente os criminosos
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Deputado, ex-secretário estadual e relator de PL sobre o crime organizado critica proposta do governo de centralizar ações na área federal
  • PL relatado por Derrite está no Senado, onde deve sofrer alterações. Deputado Mendonça Filho quer apresentar parecer sobre PEC no dia 10
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
De volta à Câmara dos Deputados, Guilherme Derrite (PP-SP) afirmou que os problemas na segurança pública são resultado de “negligência acumulada ao longo de várias gestões”. Segundo o agora ex-secretário estadual (governo Tarcísio), o surgimento do PCC foi, inclusive, consequência da falta de aplicação dos “remédios necessários” em governos anteriores – federal e estadual. “Não levaram a segurança pública como prioridade. O Brasil não é um país que pune adequadamente o criminoso”, afirmou Derrite, durante debate promovido pelo Conselho Político e Social (Cops) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Relator do Projeto de Lei (PL) 5.582/25, sobre combate ao crime organizado, Derrite afirmou que o Congresso Nacional precisa assumir o “protagonismo” no debate. Para eliminar “brechas” da legislação e retirar “o máximo de subjetividade do Poder Judiciário”. Ele disse que o projeto do governo busca centralizar a segurança, enquanto o ideal é integrar ações, dando poder aos estados. O PL 5.582 foi aprovado na Câmara (370 votos a 110, com três abstenções) e seguiu para o Senado – o relator é Alessandro Vieira (MDB-SE), ex-delegado de polícia e também relator da CPI do Crime Organizado. A comissão ouve nesta terça-feira (9) o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. O senador Vieira já alterou itens do substitutivo de Derrite. Após o debate na ACSP, o deputado disse a jornalistas que “é natural que as mudanças aconteçam” e que não adianta se manifestar antes que o texto seja aprovado pelos senadores. Caso o texto seja alterado, voltará para a Câmara – e poderá ficar novamente com Derrite.

Ele também defendeu sua gestão de três anos à frente da Secretaria da Segurança Pública em São Paulo – afirmou que conseguiu “os melhores e menores índice de criminalidade” do estado. Segundo ele, nesses três anos foram capturados 555 mil criminosos. “Chegamos a prender o mesmo ladrão de celular 30 vezes”, disse. “Isso é normal. Nosso país é o paraíso da impunidade. Houve um enfraquecimento do poder do Estado de punir o criminoso.” Como exemplo, o ex-secretário disse que já houve casos em que sequestradores foram liberados pela Justiça na audiência de custódia (quando o preso é apresentado ao juiz). “Eu duvido que a maior parte da sociedade aprove isso, seja eleitor de Lula ou Bolsonaro.”

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Derrite (centro) com Cotait, Danilo Forte, Ordine e Mendonça Filho: integração
(Andre Lessa/Agência DC News)

Relator (em comissão especial) da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 18/25, sobre o mesmo tema, o deputado Mendonça Filho (União-PE) disse que espera apresentar seu parecer na próxima quarta-feira (10), após reunião com líderes partidários prevista para esta terça. O ex-governador e ex-ministro da Educação chamou a proposta do Executivo de “cosmética, superficial”, apenas propondo incluir na Carta de 1988 itens hoje infraconstitucionais. Também criticou o que chamou de “visão romântica de certos setores da esquerda” sobre combater o crime apenas com políticas sociais. “Nós estamos sendo lenientes, extremamente tolerantes, com a criminalidade no Brasil.”

A exemplo de Derrite, o relator da PEC disse ser contrário à proposta de centralização da segurança pública. “O Brasil não pode fazer uma coisa inversa ao que o mundo pratica”, afirmou, ao defender “mais empoderamento de estados e municípios, com participação do governo federal”. O deputado disse ainda que boa parte do problema decorre do controle “frouxo” do sistema penitenciário. A expansão do crime organizado, acrescentou, faz com que o país perca soberania.

Foi o que afirmou também o deputado Danilo Forte (União-CE), outro debatedor no evento da ACSP. Segundo ele, a livre iniciativa tem sido “vítima do terror”. O parlamentar citou um caso ocorrido no domingo (8) em Itarema, litoral oeste do Ceará, na na região de Jericoacoara: uma embarcação foi incendiada porque o dono, que atua no ramo da pesca, teria se recusado a pagar uma taxa cobrada por uma facção criminosa.

Fizeram parte da mesa o presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e da Federação das Associações Comerciais do Estado (Facesp), Alfredo Cotait Neto, e o ex-senador Heráclito Fortes, coordenador do Cops.

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