[AGÊNCIA DC NEWS]. Em agosto o bom humor do brasileiro com a economia e com as próprias finanças parece ter esfriado. Pelo menos é o que indica o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas). No oitavo mês do ano a confiança tem caído 0,5 ponto, para 86,2 pontos. Segundo a instituição, a queda do ICC de agosto é influenciada exclusivamente pela deterioração nas expectativas para os próximos meses. A situação financeira futura das famílias atingiu o menor nível desde 2021. Cabe ressaltar que o aumento do pessimismo foi direcionado. Com quedas verificadas entre brasileiros das faixas de renda mais baixa (até R$ 2.100) e mais alta (acima de R$ 9.600), refletindo preocupações com o futuro financeiro das famílias. Enquanto os consumidores de renda intermediária demonstraram leve otimismo, os extremos da pirâmide foram impactados por expectativas negativas e aumento da cautela. “A confiança do consumidor tem flutuado numa estreita faixa nos últimos três meses, sem sinalizar uma tendência clara”, afirma economista do FGV Ibre Anna Carolina Gouveia.
A pesquisa, divulgada na segunda-feira (25), vai de zero a 200, sendo 100 a divisão entre pessimismo e otimismo. Segundo a FGV, ainda que a média do indicador aponte para uma onda de pessimismo se desenhando no horizonte, ao olhar no detalhe, o comportamento do consumidor, por classe social pode variar – e muito. Na base da pirâmide, enquanto a confiança entre as famílias com renda de até R$ 2,1 mil passou de 81,7 pontos para 79,6 pontos entre julho e agosto (-2,5%), os lares com proventos entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil seguem otimistas, com a confiança passando dos 84,1 pontos para 85,6 pontos no mesmo recorte temporal (+1,7%). No topo da pírâmide, a mesma dualidade. Famílias com rendimento mensal entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil tiveram aumento de 4,2% na confiança, passando de 85,3 pontos em julho para 88,9 em agosto. Por fim, entre as fmílias com renda superior a R$ 9,6 mil a confiança caiu dos 92,9 pontos em julho para os atuais 91 pontos (-2%). “Entre as faixas de renda, o resultado é heterogêneo, com queda na confiança nos extremos”, afirma Anna Carolina Gouveia.
De acordo com o indicador, ainda que a renda das famílias permaneçam estáveis, o temor com com a macroeconomia contamina o Índice de Situação Atual (ISA). Enquanto a situação atual do país recua 0,3 ponto (para 94,0 pontos), o indicador de situação financeira atual da família sobe em 2,6 pontos, (para 75,4 pontos). Outro termômetro é o Índice de Expectativa (IE). Nesse recorte, a situação econômica do país recua pelo terceiro mês consecutivo (agora em 2,8 pontos), para 97,7 pontos. No efeito dominó, a situação financeira futura da família também caiu (-2,6 pontos), atingindo 79,8, menor nível desde setembro de 2021. Segundo Anna Carolina Gouveia, os dados indicam um cenário de cautela e preocupação com o futuro, influenciado por altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias.
Ainda que a variação mensal sugira não ter havido grandes mudanças no comportamento do consumidor, quando analisado o resultado de um ano antes é possivel desenhar melhor o horizonte. O ICC, por exemplo, estava em 93,3 pontos em agosto de 2024, 7,6% inferior ao dado atual. As expectatvas estavam em 101,6 pontos (já no campo do otimismo), e apresentou queda de 15,3% em 12 meses. O único indicador que apresentou aumento foi o de situação atual, indo dos 81,8 pontos há um ano par aos atuais 84,5 pontos (+3,3%). Esses resultados, segundo Anna Carolina, sugerem um quadro de cautela e preocupação com o futuro, tendo em vista, principalmente, os altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias.
Em julho, na comparação com junho, o ICC do FGV IBRE havia subido 0,8 ponto, para 86,7 pontos (e uma queda 6,4 pontos na comparação anual). Segundo Anna Carolina, o desempenho do indicador nos últimos três meses acompanha esse movimento de oscilação. “Notamos uma manutenção do indicador em níveis desfavoráveis”, disse. Apesar do momento de cautela, o indicador sugere um avanço na inclinação do consumidor em adquirir bens duráveis. Pelo levantamento a intenção subiu 1,3 ponto, chegando aos 88,2 pontos, maior nível desde dezembro de 2024 (91,0 pontos). A maior disposição pode estar atrelada tanto à Black Friday quanto ao Natal.