BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Líder nas pesquisas eleitorais para a Presidência do Chile por meses, a conservadora Evelyn Matthei foi ultrapassada por Jeannette Jara, candidata única do governo de centro-esquerda de Gabriel Boric, e José Antonio Kast, da ultradireita.
Os chilenos decidem em 16 de novembro quem irá substituir Boric, que não pode tentar a reeleição. Em levantamentos recentes, Matthei caiu para o terceiro ou quarto lugar na corrida pelo Palácio La Moneda.
Segundo o Celag (Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica), na média das últimas pesquisas, Jara aparece com 31,6% dos votos, seguida por Kast (25,4%), Mathei (15,7%), Franco Parisi (8,3%) e Johannes Kaiser (7,7%).
Em um levantamento por telefone do instituto Cadem, de 1º de agosto, a candidata conservadora ficou pela primeira vez em quarto lugar, embora empatada na margem de erro (de 3,7 pontos percentuais) com Parisi.
Jara, 51, foi ministra do Trabalho e Previdência de Boric e, sob sua gestão, foram aprovadas a redução da jornada de trabalho, o aumento do salário mínimo e a lei contra o assédio no local de trabalho, além de impulsionar a reforma da Previdência, uma das bandeiras do atual governo. Promete avanços sociais em um eventual novo mandato da esquerda.
Kast tem 59 anos, é o líder do Partido Republicano, já defendeu o legado do ex-ditador Augusto Pinochet e se tornou uma referência da ultradireita chilena. Foi deputado e disputa a Presidência pela terceira vez.
Já Matthei, 71, foi ministra do Trabalho e Previdência do governo de Sebastián Piñera, entre 2011 e 2013, e prefeita de Providencia, na Grande Santiago. Propõe fusão de ministérios, redirecionamento de gastos sociais e um corte de despesas de US$ 600 milhões (cerca de R$ 3,2 bilhões). Costuma falar em “tesoura” para se diferenciar da imagem da motosserra, mais agressiva, usada pelo argentino Javier Milei.
Ao longo da campanha, as tensões dentro da direita ficaram mais evidentes. Jara é a única candidata do bloco governista, enquanto o outro polo não chegou a um acordo para participar de primárias, como fez a esquerda.
Em uma corrida polarizada, Kast, com um discurso mais agressivo e crítico ao aumento da imigração do país, que ele relaciona com a escalada da criminalidade, acabou se impondo como favorito para enfrentar Jara em um eventual segundo turno.
Nas últimas semanas, Matthei denunciou uma campanha de desinformação contra ela que questionava sua saúde mental e atribuiu isso aos republicanos. Ela anunciou que tomaria ações legais, mas retirou a queixa depois que figuras empresariais publicaram uma carta aberta contrária à disputa interna na direita.
No dia 19 de julho, 167 líderes empresariais e seis ex-ministros de Piñera publicaram um documento pedindo a Kast, Matthei e Kaiser para unirem esforços. O texto alerta que o Chile precisa de mudança e que, se não trabalharem juntos, podem perder a Presidência e o Congresso.
Nicolás Ibáñez, um empresário do setor de supermercados, se manifestou publicamente sobre a guerra interna na direita chilena, argumentando que as listas parlamentares são mais importantes do que a eleição presidencial neste momento. Ele ressaltou a necessidade de organização na direita. “Jara não tem a menor condição [de ser presidente]”, disse em uma entrevista ao veículo La Tercera.
Na coalizão de Matthei, surgiram descontentamentos com a economista, com apoiadores migrando para Kast. O deputado Andrés Celis declarou que, se Kast é visto de forma mais positiva pelos eleitores, ele deveria ser o candidato da direita. Por outro lado, a senadora Paulina Nuñez defendeu a candidata, reconheceu que há descontentamento, mas pediu foco no trabalho e em trazer esperança aos militantes.
“Ainda há muito tempo [até as eleições]. As pesquisas não têm sido boas ultimamente, mas vamos reverter essa situação. A única coisa que os chilenos querem é que resolvamos seus problemas e não brigas com slogans vazios ou puro barulho no TikTok”, disse Matthei em um evento na semana passada, em que classificou os dois rivais como “os extremos”.