Dólar abre em leve queda nesta quarta-feira com investidores atentos ao julgamento de Bolsonaro

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve queda nesta quarta-feira (3) com os investidores atentos ao segundo dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo envolvimento na trama golpista e esperando a divulgação de dados da indústria e do mercado de trabalho nos Estados Unidos.

Às 9h04, a moeda norte-americana caía 0,27%, cotada a R$ 5,4601. Na terça (2), a moeda americana fechou em alta de 0,66%, cotada a R$ 5,475, com os investidores repercutindo a divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo trimestre deste ano e o início do julgamento de Bolsonaro.

A Bolsa, por outro lado, teve queda de 0,67%, a 140.335 pontos, impulsionada pela queda em bloco das ações de bancos brasileiros.

Os papéis do Banco do Brasil, principal afetado pelas incertezas da Lei Magnitsky e responsável pelo pagamento dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), lideraram as quedas do índice com desvalorização de 3,17%. Itaú (1,59%) e Bradesco (1,74%) também caíram.

Na ponta doméstica, o mercado acompanhou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começou nesta terça, com atenção.

Bolsonaro é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado, após perder as eleições de 2022. Somadas, as penas máximas de Bolsonaro podem chegar a 43 anos de prisão, sem contar os agravantes.

Uma possível condenação pode intensificar as tensões comerciais entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente brasileiro seria vítima.

Integrantes do governo Lula (PT) e do STF consideram real a possibilidade de Trump aplicar novas sanções econômicas contra o Brasil e outras restrições a autoridades do país com o julgamento de Bolsonaro.

“O receio é de que uma eventual condenação sirva de justificativa para novas retaliações de Trump contra o Brasil, incluindo possíveis sanções adicionais ao Banco do Brasil e restrições comerciais, em meio ao já vigente tarifaço de 50%”, disse João Duarte, especialista em câmbio da One Investimentos.

Investidores também repercutiram a dados do PIB brasileiro divulgados nesta terça pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Segundo o instituto, a economia brasileira avançou 0,4% no segundo trimestre em relação aos três meses iniciais de 2025. O resultado confirma uma desaceleração da economia nacional, que havia crescido 1,3% no primeiro trimestre, quando houve impacto da supersafra de grãos.

A variação veio praticamente em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,3%, de acordo com a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,1% a 0,8%.

O crescimento de 0,4% da economia brasileira no segundo trimestre de 2025 ficou em linha com a previsão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. O governo diz que já esperava uma desaceleração em relação ao avanço de 1,3% nos três primeiros meses do ano.

De acordo com Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, “o resultado reforça a percepção de que a economia brasileira permanece resiliente e coloca em dúvida a velocidade do ciclo de cortes da Selic pelo Banco Central, levando o mercado a reduzir as apostas de cortes ainda em 2025”.

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano em junho. A Selic permaneceu nesse patamar na reunião mais recente do colegiado, em julho.

Na cena internacional, o dólar avançou nos mercados globais, com os investidores norte-americanos retornando de um feriado na véspera cautelosos com os dados econômicos e incertos sobre a política comercial de Trump.

Na última sexta-feira, um tribunal dos Estados Unidos decidiu que as tarifas recíprocas de Trump são ilegais. O tribunal também determinou que as tarifas podem permanecer em vigor até 14 de outubro para permitir recursos à Suprema Corte americana.

Segundo analistas, a incerteza crescente aumenta a lista de preocupações dos mercados, incluindo a independência do Fed e o aumento dos riscos de estagflação nos EUA.

“Seja o nível (das tarifas) ou o momento ou agora as dúvidas sobre sua validade, temos apenas que deixar as coisas acontecerem”, disse Jim Baird, diretor de investimentos da Plante Moran Financial Advisors, sobre a última decisão judicial.

Em reação, o índice DXY, índice que mede o desempenho da moeda norte-americana frente as mais importantes divisas do mundo, avançou 0,55%, a 98.326 nesta terça.

As taxas dos títulos dos EUA também subiram com a maior aversão a risco. O Treasury de 10 fechou avançando de 4,232% para 4,273%.

As taxas dos DIs (Depósitos Interbancários) mais longos também acompanharam o cenário internacional. No mesmo horário, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,67%, em alta de 12 pontos-base ante 13,55%.

Os investidores também monitoraram os desdobramentos da demissão de Lisa Cook, do Fed. Segundo analistas, a tentativa de Trump demitir a diretora gera incertezas sobre a autonomia da autoridade monetária americana.

Nesta terça, quase 600 economistas assinaram uma carta aberta em defesa de Cook, afirmando que a remoção de membros do conselho do Fed exige critérios rigorosos. O documento teve assinaturas de ganhadores do Nobel, como Claudia Goldin, Paul Romer e Christina Romer.

Na última semana, a diretora entrou com uma ação judicial contra presidente Donald Trump, alegando que o republicano não tem poder para destituí-la do cargo.

Uma juíza federal avaliou, na sexta-feira, a possibilidade de bloquear temporariamente a demissão de Cook. A audiência judicial terminou sem decisão.

Acredita-se que a ação judicial é o primeiro passo de uma longa batalha que deve ser resolvida pela Suprema Corte.

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