SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve queda nesta quarta-feira (15) com os investidores analisando o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), Jerome Powell, nessa terça-feira (14), sobre os próximos passos da política monetária do país.
Às 9h08, a moeda norte-americana caía 0,17%, cotada a R$ 5,4615. Na terça, o dólar fechou em alta de 0,19%, cotado a R$ 5,470, e a Bolsa ficou perto da estabilidade, em leve recuo de 0,07%, a 141.682 pontos.
O dia foi embalado pela nova rodada de tensões entre Estados Unidos e China. O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, acusou Pequim de tentar prejudicar a economia mundial ao restringir as exportações de terras raras e minerais críticos.
“Isso é um sinal de quão fraca está a economia deles, e eles querem derrubar todos os outros junto com eles”, disse. “Talvez exista algum modelo de negócio leninista em que prejudicar seus clientes seja uma boa ideia, mas eles são o maior fornecedor para o mundo. Se eles querem desacelerar a economia global, serão os mais prejudicados.”
Na semana passada, o governo de Xi Jinping anunciou a adoção de controles de exportação que devem causar rupturas no fornecimento global de terras raras, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa. Pelas novas regras, empresas estrangeiras precisarão obter autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos que contenham até pequenas quantidades de terras raras extraídas da China.
Citando a “posição extraordinariamente agressiva” dos chineses na imposição de “controles de exportação para todos os tipos de produtos”, o presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir do dia 1º de novembro na sexta-feira.
Em resposta, o Ministério do Comércio chinês defendeu o diálogo, mas disse estar disposto a “ir até o fim” caso os EUA não voltem atrás nas sobretaxas adicionais de 100%. “Se os Estados Unidos optarem pelo confronto, a China o levará até o fim; se optarem pelo diálogo, nossa porta permanecerá aberta”, afirmou na terça.
O cenário reacende o risco de uma guerra comercial, semelhante à do início do ano, quando Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi respondeu com 125% sobre mercadorias americanas. Depois de meses de cabo de guerra, as sobretaxas foram reduzidas para 30% sobre a China e 10% sobre os EUA.
Ainda na cena internacional, investidores repercutiram o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central nos EUA), que reforçou a expectativa de mais um corte na próxima reunião de política monetária.
Segundo o presidente da autarquia, as perspectivas para a inflação e o emprego parecem ter mudado pouco desde o último encontro das autoridades, em setembro, e o mercado de trabalho tem dado sinais crescentes de fraqueza.
“As evidências disponíveis sugerem que tanto as demissões quanto as contratações permanecem baixas, e que tanto as percepções das famílias sobre a disponibilidade de empregos quanto as percepções das empresas sobre a dificuldade de contratação continuam em trajetória descendente”, disse.
A reunião anterior foi marcada pelo primeiro corte de juros no ano, em 0,25 ponto percentual. De lá para cá, porém, o governo federal dos EUA entrou em uma paralisação que suspendeu a divulgação de novos dados oficiais. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para o fim de setembro e ainda não foi publicado, e o mesmo deve acontecer com os dados de inflação do CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês), esperados para esta quarta.
Sem a referência das estatísticas do governo, Powell afirmou que o Fed está monitorando uma série de dados laterais para aferir a temperatura da economia, mas a paralisação pode criar problemas mais sérios em breve.
“Do nosso ponto de vista, começaremos a perder esses dados, especialmente os de outubro, se isso continuar por um tempo”, disse ele. “Pode se tornar mais desafiador.”
No cenário doméstico, os agentes acompanharam a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Haddad defendeu a chamada tributação BBB, de bancos, bets e bilionários, após a rejeição da MP de aumento de impostos sobre esses setores na Câmara dos Deputados, e disse que recebeu aceno de parlamentares na busca de alternativas.
Segundo o chefe da equipe econômica, o cardápio de medidas será discutido nos próximos dias com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nós estamos aguardando a volta do presidente da República hoje [terça], amanhã [quarta] devemos começar a trabalhar o tema”, disse.
“Mas já recebi de vários parlamentares acenos no sentido de corrigir o que aconteceu, vamos buscar alternativas ao que aconteceu, porque, de fato, a chamada taxação dos BBBs [bancos, bets e bilionários] só é injusta na cabeça de pessoas desinformadas sobre o que está acontecendo no Brasil”, acrescentou.
A MP foi derrubada na última quarta-feira (8). A medida era considerada importante pelo governo para sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias em 2026, ano eleitoral. Ao retirar do horizonte uma fonte de arrecadação para os próximos anos, o Congresso torna mais desafiadora a tarefa de cumprir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.