SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar sofre queda nesta quarta-feira (10) com os investidores atentos ao quarto dia de julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal) por tentativa de golpe de estado.
Às 14h24, a moeda norte-americana caía 0,59%, cotada a R$ 5,403. No mesmo horário, a Bolsa tinha forte alta de 0,70%, a 142.620 pontos.
O desempenho do Ibovespa acompanha a alta das ações do Banco do Brasil, que repercute a publicação de uma MP (medida provisória) que libera R$ 12 bi para a renegociação das dívidas do agro, e de lojas do varejo, como o Magalu, impactadas pela queda do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
O mercado do dia permanece atento ao julgamento de Bolsonaro no STF. A Primeira Turma do STF retomou a análise do processo com o ministro Luiz Fux, que descartou condenar o ex-presidente por organização criminosa.
Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino votaram na última terça-feira (9) para condenar os oito réus em julgamento por todos os crimes pelos quais são acusados: abolição do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, associação criminosa, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Dino apontou que pode aplicar penas mais leves aos ex-ministros Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira e ao ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem, por entender que houve menor participação dos três.
O julgamento deve terminar na sexta, quando está prevista a leitura da sentença. Fora o ministro Fux, faltam os votos de Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
O julgamento de Bolsonaro promete impactar a relação comercial entre Brasil e EUA. Quando Trump anunciou a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros em julho, ele vinculou a decisão, entre outros pontos, a uma suposta “caça às bruxas” que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seria vítima.
Ministros do STF dizem esperar uma escalada de ataques de Donald Trump contra eles por causa do julgamento.
Nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente americano aplicou tarifas e sanções contra o Brasil para proteger a “liberdade de expressão” e que o país não terá medo de usar o “poder econômico e militar” para defendê-la.
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a conclusão do processo do ex-presidente Bolsonaro deve dificultar uma reaproximação entre os países. “Pode gerar novas sanções e tarifas, o que aumenta a percepção de riscos de ativos brasileiros e tende a prejudicar o real”, afirma.
O mercado também avalia o resultado da inflação divulgado na manhã desta quarta, que apresentou deflação (queda) de 0,11% em agosto, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado refletiu a baixa dos preços da energia elétrica com o desconto temporário do bônus de Itaipu.
É a primeira redução mensal do índice oficial de preços do país em um ano. A queda anterior, de apenas 0,02%, ocorreu em agosto de 2024.
A deflação de 0,11% é a maior em quase três anos, desde setembro de 2022, quando o recuo havia sido de 0,29%. À época, o resultado refletiu redução tributária do governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições presidenciais.
Os dados impactaram o desempenho da Bolsa nesta quarta. Entre os destaques do pregão, estão as ações do Magazine Luiza e da C&A, que chegaram a registrar alta de 6,27% na máxima do dia.
Segundo Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a redução no IPCA trouxe a perspectiva de uma queda na taxa de juros. “Com a redução, as empresas do varejo são beneficiadas pela possibilidade de vender mais e pagar menos juros em suas dívidas”.
Para Rafael Perez, economista da Suno Research, por outro lado, os indicadores sinalizam que, embora a inflação esteja cedendo, ela permanece resiliente com o impulso de serviços e da atividade doméstica. “Os preços continuam pressionados pelo mercado de trabalho e pela expansão do consumo das famílias […] Esses fatores justificam uma postura mais restritiva do Copom”.
Dados da economia americana também marcam o pregão, com investidores intensificando as expectativas por um corte de juros dos EUA pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) no próximo dia 17.
O índice de preços ao produtor (PPI) dos Estados Unidos caiu 0,1% em agosto na comparação com o mês anterior, após a alta revisada de 0,7% em julho, segundo dados divulgados nesta quarta pelo Departamento do Trabalho americano.
O resultado veio bem abaixo da previsão entre economistas, que era de uma alta de 0,3%. No acumulado de 12 meses, o PPI teve alta de 2,6% em agosto, mostram os dados.
Para Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos, os números reforçam ainda mais a tese de uma diminuição de juros. “O grande ponto a ser discutido é de que magnitude será esse corte”.
Segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores precificam 88% de chance do banco central reduzir a taxa de juros americanas em 0,25 ponto percentual -12% veem uma redução de 0,50.
No mês passado, o chair do Fed, Jerome Powell, sinalizou um possível corte na taxa de juros deste mês.
Analistas projetam novos recordes para a Bolsa brasileiras nos próximos dias, com a economia dos EUA no radar.
“O cenário atual permanece favorável à continuidade da tendência de alta, com o próximo alvo apontando para os 145.800 pontos”, afirmou a equipe de grafistas da Ágora Investimentos, em relatório a clientes.
A equipe do Itaú BBA também reforçou o otimismo. “O Ibovespa está em tendência de alta no curto e médio prazo, e segue em direção aos 150.000 e 165.000 pontos numa visão de médio prazo”, disse.