Dólar oscila e Bolsa sobe com dados dos EUA e impasse sobre tarifaço no radar

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar oscila entre os sinais nesta quinta-feira (4), com investidores repercutindo novos dados de inflação nos Estados Unidos e reajustando apostas para a política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano).

O mercado também segue atento ao impasse tarifário entre os governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump.

Às 12h, a moeda norte-americana tinha variação negativa de 0,02%, cotada a R$ 5,399, e a Bolsa avançava 0,38%, a 137.211 pontos.

Os preços ao produtor dos Estados Unidos aumentaram 0,9% em julho, superando as estimativas de 0,2% de economistas consultados pela Reuters. Em 12 meses, a inflação ao produtor atingiu 3,3%, de 2,4% da leitura anterior.

O segmento de serviços subiu 1,1%, o maior avanço desde março de 2022, em meio a fortes aumentos em máquinas e equipamentos no atacado, custos de gerenciamento de portfólio, hotéis e transporte rodoviário de carga. Já os preços de bens subiram 0,7%, maior alta desde janeiro, com repiques em vegetais, carnes e ovos.

O dado é considerado um dos termômetros da economia norte-americana, já que a inflação ao produtor costuma ser repassada para o consumidor ao longo do tempo.

Com isso em vista, o avanço sugere que os preços poderão ter uma aceleração mais generalizada nos próximos meses —pondo em xeque algumas apostas sobre a política monetária do Fed a partir do próximo encontro.

Dados de emprego e de inflação ao consumidor em julho fizeram o mercado precificar totalmente a probabilidade de um corte nos juros na reunião do próximo mês, com boa parte das apostas apontando para uma redução de 0,25 ponto percentual e uma pequena porcentagem para 0,5 ponto.

Agora, com os números da inflação ao produtor, alguns operadores titubearam em suas posições, apagando a possibilidade do corte maior. Segundo a ferramenta FedWatch, uma redução de 0,25 ponto tem 92,5% de probabilidade, e os 7,5% restantes apostam na manutenção da taxa na banda de 4,25% e 4,5%.

“Esperamos um repasse mais forte das tarifas para os preços ao consumidor nos próximos meses, com a inflação provavelmente subindo modestamente no segundo semestre de 2025”, diz Ben Ayers, economista sênior da Nationwide.

A mudança de perspectiva sustenta a valorização do dólar no exterior: quanto maior a taxa de juros, melhor para o dólar, já que os rendimentos ligados à renda fixa dos Estados Unidos ficam mais atrativos.

O índice DXY, que compara a moeda em relação a uma cesta de seis divisas fortes, subia 0,33%, a 98,10 pontos.

A perspectiva de cortes de juros pelo Fed tem favorecido o real em sessões recentes devido à percepção de que, com a taxa Selic em patamar alto por tempo prolongado, o diferencial de juros entre Brasil e EUA permanecerá favorável para o lado brasileiro.

Por outro lado, o impasse tarifário entre os dois países ainda inspira cautela. O governo Lula apresentou na véspera um plano de contingência para assistir empresas afetadas pela tarifa de 50% a produtos brasileiros.

A MP (Medida Provisória) cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões. Além de um recorte setorial, o governo fez uma avaliação individual para mapear aquelas mais impactadas, pois, dentro de uma mesma atividade, há companhias mais ou menos dependentes das exportações aos EUA. O pacote, batizado de “Brasil Soberano”, inclui também adiamento de impostos federais, maior ressarcimento de créditos tributários e uma reformulação nas garantias à exportação para facilitar a busca de novos mercados.

A MP terá vigência imediata e precisará ser apreciada pelo Congresso em até 120 dias.

Segundo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, o governo vai pedir aos parlamentares uma autorização para excluir o pacote da meta fiscal de 2025. O montante deve alcançar até R$ 9,5 bilhões em medidas e será alvo de um projeto de lei complementar, afirmou.

A decisão vai na direção contrária do que havia sinalizado o ministro Fernando Haddad (Fazenda) um dia antes.

Na terça, após participar de audiência pública no Senado Federal, Haddad disse que os valores ficariam fora do limite de despesas do arcabouço fiscal, como ocorre habitualmente com esse tipo de crédito, mas não da meta de resultado primário.

Após a apresentação do pacote, Haddad disse que essa é uma “primeira medida, pode não ser a única”. O objetivo do governo é atender aos mais atingidos nesse primeiro momento, mas o Executivo já monitora possíveis efeitos em outras atividades. “É uma leva de proposições que vão atenuar esse impacto inicial. Vamos ficar monitorando nossas exportações e o comportamento do mercado”, disse.

A expectativa pelo plano do Executivo tem rondado as mesas de operações desde que Trump primeiro ameaçou a imposição de sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, em 9 de julho.

Ainda que julguem que o pacote é necessário para proteger o setor produtivo, agentes financeiros demonstram receios de que as medidas possam ter um impacto fiscal relevante ou servir como justificativa para que o governo abandone o compromisso com as metas para as contas públicas.

“O mercado está olhando isso como um ponto adicional de gasto do governo que, apesar de estar fora do limite do arcabouço, vai continuar sendo contabilizado para a meta fiscal. A preocupação é se isso vai gerar um desafio adicional para o cumprimento das metas e como o governo vai equalizar esse volume adicional de gasto, já que os R$ 30 bilhões são só o começo, segundo o Executivo, da ajuda fornecida”, diz João Ferreira, sócio da One Investimentos.

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