Douglas Farah, coCEO da AG Capital: “Com a Reforma Tributária em vigor, empresas despreparadas vão pagar multas e juros”

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Empresas em teste do CBS não apresentaram dificuldades além do já previsto ao ler a legislação
Divulgação
  • "Os riscos são grandes. Desde o aumento do custo da operação até o risco de não conseguir atender os requisitos de algum dos dois sistemas"
  • "O ideal é entender os impactos agora, com antecedência, para fazer as mudanças necessárias. Mas algumas empresas vão se endividar"
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DC NEWS]. O período de transição da reforma tributária está próxima. Ele vigora a partir de 2026 (com alteração completa do sistema tributário prevista para 2033). Sobre isso, um dos alertas de Douglas Farah, coCEO da AG Capital, é sobre o despreparo das empresas para a reforma tributária. Ele diz sentir no dia a dia da taxtech (empresa de tecnologia tributária) que o despreparo é geral. “A maioria dos empresários sabe que haverá uma reforma, mas fica paralisado para lidar com ela”, afirmou.

O problema maior nisso, para o CEO, está exatamente na transição. Apesar da coleta de tributos seletivos começarem a ser colhidos apenas em 2027, durante esse período, as empresas terão que trabalhar ambiguamente com dois sistemas tributários e isso pode gerar problemas. “As que eventualmente não conseguirem atender os requisitos de algum dos sistemas vão ter que pagar multas e juros.”

Por isso, ele alerta as empresas do varejo para começarem a se adaptar a reforma. As que não fizerem “podem perder eficiência financeira e até mesmo perceber que o seu modelo de negócio é inviável.” Quem não agir agora pode enfrentar um cenário crítico já no próximo ano. Com a tecnologia como aliada, a AG Capital quer mudar esse cenário nas empresas, contribuindo para a adaptação delas ao novo regime tributário. Confira a entrevista completa.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Com o que as empresas devem se preocupar com o período de transição da reforma tributária, em 2026?
Douglas Farah
Em um período de transição, por natureza, as empresas vão lidar com dois sistemas simultaneamente. Como a mesma equipe que trata do tributo hoje vai tratar de dois sistemas ao mesmo tempo, sem ter uma sobrecarga ou sem necessidade de mais contratações?

AGÊNCIA DC NEWS – Então a preocupação é com o aumento de custos?
Douglas Farah – É uma das coisas. Com certeza, a gente vai perceber um aumento de custos de gestão ou um investimento maior em tecnologias que ajudem as empresas a passarem por esse período de transição.

AGÊNCIA DC NEWS – O que acontece se a empresa não estiver pronta para a transição?
Douglas Farah Os riscos são grandes. Desde o aumento do custo da operação até o risco de não conseguir atender os requisitos de algum dos dois sistemas, o que pode levar a multas, juros, perda de certidão negativa de débitos. Ela pode ter seu desempenho financeiro comprometido ou até ver que seu modelo de negócio foi inviabilizado pelo novo sistema. E perceber isso no meio do ano é justamente o que a gente quer evitar.

AGÊNCIA DC NEWS – O que é o ideal, então?
Douglas Farah – O ideal é entender os impactos agora, com antecedência, para fazer as mudanças necessárias. Mas minha expectativa é que, infelizmente, algumas empresas vão se ver no olho do furacão sem opções e vão ter que tomar medidas drásticas, como desinvestir ou se endividar.

AGÊNCIA DC NEWS – Então essa necessidade de preparo é algo que o mercado ainda não entendeu?
Douglas Farah A maioria das empresas, e os empresários mais especificamente, entendem o que é a reforma, entendem o que está por vir, mas ficam paralisados para lidar com ela. Todo mundo entende o cenário, mas poucas empresas estão visualizando o que fazer agora. Seguem o negócio como sempre tocaram e vão esperar para o ano que vem entender melhor o que fazer. E isso é uma receita para o desastre.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual seria esse desastre?
Douglas Farah Algumas empresas vão perceber que o seu modelo de negócio é inviável. E perceber isso no meio do ano é um problema. O ideal é perceber os impactos que a reforma vai ter no seu modelo de negócios com antecedência para fazer as mudanças necessárias. Mas minha expectativa é que, infelizmente, algumas empresas vão se ver no olho do furacão. E vão ter que tomar medidas drásticas, vão ter que desinvestir, se endividar. Então teremos anos pela frente desafiadores para a indústria brasileira.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual aspecto da reforma pode impactar o caixa das empresas?
Douglas Farah O split payment. É um dos aspectos mais inovadores da reforma. Hoje, o varejo recebe o valor bruto e faz a gestão do tributo devido pela outra parte. Com o split payment, essa divisão já vai acontecer no momento do pagamento, reduzindo a gestão de caixa das empresas.

AGÊNCIA DC NEWS – O que muda na prática
Douglas Farah – Isso vai exigir uma injeção de capital. O fluxo de caixa necessário vai mudar. Por isso, as empresas precisam buscar os créditos dos últimos cinco anos. Créditos tributários que em breve vão deixar de existir com o novo sistema. Essa é uma forma de se capitalizar agora para enfrentar o que está por vir.

AGÊNCIA DC NEWS – Além da reforma tributária, o fim da desoneração da folha até 2027 é uma preocupação?
Douglas Farah Com certeza. É uma agenda que precisa ser tratada agora, e não só em 2027. A folha de pagamento é um ponto sensível e precisa ser analisada com profundidade. Muitas vezes o empresário vê a folha apenas como um custo fixo, mas a composição dela pode ser otimizada com planejamento.

AGÊNCIA DC NEWS – Como a tecnologia entra nesse processo?
Douglas Farah A gente desenvolveu uma solução que é basicamente um co-piloto do RH. A ferramenta simula diferentes cenários e interpreta o comportamento da folha, calculando o impacto de cada escolha sobre o PIS, Cofins, contribuição previdenciária, entre outros tributos. Ela mostra, em tempo real, quanto a empresa está perdendo ao manter determinada política de benefícios, ou o impacto fiscal de bonificações específicas.

AGÊNCIA DC NEWS – Vocês estão testando o novo sistema tributário com seus clientes?
Douglas Farah Alguns clientes nossos estão passando por esse teste do CBS. Ele já está sendo testado em algumas grandes empresas. Mesmo que ainda faltem detalhes, já dá para entender bastante coisa sobre a lógica do sistema.

AGÊNCIA DC NEWS – E que percepções vocês já têm?
Douglas Farah O ponto positivo é que a CBS vai trazer mais previsibilidade e reduzir um pouco da complexidade. Ao nível de informação fiscal, o sistema ele tá funcionando bem, esse é o feedback que a gente tem recebido. Não tem sido fácil também, mas não temos sentido dificuldades além do que a gente já previa lendo a legislação.

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