[AGÊNCIA DC NEWS]. O período de transição da reforma tributária está próxima. Ele vigora a partir de 2026 (com alteração completa do sistema tributário prevista para 2033). Sobre isso, uma das principais preocupações de Douglas Farah, coCEO da AG Capital são as empresas despreparadas para a reforma tributária. E, segundo ele, o que ele sente no dia a dia da taxtech (empresa de tecnologia tributária) é que o despreparo é geral. “A maioria dos empresários sabe que haverá uma reforma, mas fica paralisado para lidar com ela”, afirmou.
O problema maior nisso, para o CEO, está exatamente na transição. Apesar da coleta de tributos seletivos começarem a ser colhidos apenas em 2027, durante esse período, as empresas terão que trabalhar ambiguamente com dois sistemas tributários e isso pode gerar problemas. “As que eventualmente não conseguirem atender os requisitos de algum dos sistemas vão ter que pagar multas e juros.”
Por isso, ele alerta as empresas do varejo para começarem a se adaptar a reforma. As que não fizerem “podem perder eficiência financeira e até mesmo perceber que o seu modelo de negócio é inviável.” Quem não agir agora pode enfrentar um cenário crítico já no próximo ano. Com a tecnologia como aliada, a AG Capital quer mudar esse cenário nas empresas, contribuindo para a adaptação delas ao novo regime tributário. Confira a entrevista completa.
AGÊNCIA DC NEWS – Você está preocupado com o período de transição da reforma tributária, em 2026?
Douglas Farah – Estou. Porque num período de transição você, por natureza, está lidando com dois sistemas simultaneamente. Como a mesma equipe que trata do tributo hoje vai tratar de dois sistemas ao mesmo tempo, sem ter uma sobrecarga ou sem necessidade de mais contratações?
AGÊNCIA DC NEWS – Então a preocupação é com o aumento de custos?
Douglas Farah – É uma das coisas. Com certeza, a gente vai perceber um aumento de custos de gestão ou um investimento maior em tecnologias que ajudem as empresas a passarem por esse período de transição.
AGÊNCIA DC NEWS – O que acontece se a empresa não estiver pronta para a transição?
Douglas Farah – Os riscos são grandes. Desde o aumento do custo da operação até o risco de não conseguir atender os requisitos de algum dos dois sistemas, o que pode levar a multas, juros, perda de certidão negativa de débitos. Ela pode ter seu desempenho financeiro comprometido ou até ver que seu modelo de negócio foi inviabilizado pelo novo sistema. E perceber isso no meio do ano é justamente o que a gente quer evitar.
AGÊNCIA DC NEWS – O que é o ideal, então?
Douglas Farah – O ideal é entender os impactos agora, com antecedência, para fazer as mudanças necessárias. Mas minha expectativa é que, infelizmente, algumas empresas vão se ver no olho do furacão sem opções e vão ter que tomar medidas drásticas, como desinvestir ou se endividar.
AGÊNCIA DC NEWS – Então essa necessidade de preparo é algo que o mercado ainda não entendeu?
Douglas Farah – A maioria das empresas, e os empresários mais especificamente, entendem o que é a reforma, entendem o que está por vir, mas ficam paralisados para lidar com ela. Todo mundo entende o cenário, mas poucas empresas estão visualizando o que fazer agora. Seguem o negócio como sempre tocaram e vão esperar para o ano que vem entender melhor o que fazer. E isso é uma receita para o desastre.
AGÊNCIA DC NEWS – E qual seria esse desastre?
Douglas Farah – Se deixar para lidar com o problema no meio do caminho, quando já estiverem sofrendo com sanções e penalidades, a empresa pode não ter mais fôlego financeiro para reagir.
AGÊNCIA DC NEWS – Você acredita que a reforma vai exigir maior investimento em tecnologia tributária pelas empresas?
Douglas Farah – Com certeza. Um exemplo disso é o split payment, um dos aspectos mais inovadores da reforma. Hoje, o varejo recebe o valor bruto e faz a gestão do tributo devido pela outra parte. Com o split payment, essa divisão já vai acontecer no momento do pagamento, reduzindo a gestão de caixa das empresas.
AGÊNCIA DC NEWS – O que muda na prática
Douglas Farah – Isso vai exigir uma injeção de capital. O fluxo de caixa necessário vai mudar. Por isso, as empresas precisam buscar os créditos dos últimos cinco anos. Créditos tributários que em breve vão deixar de existir com o novo sistema. Essa é uma forma de se capitalizar agora para enfrentar o que está por vir.
AGÊNCIA DC NEWS – Além da reforma tributária, o fim da desoneração da folha até 2027 é uma preocupação?
Douglas Farah – Com certeza. É uma agenda que precisa ser tratada agora, e não só em 2027. A folha de pagamento é um ponto sensível e precisa ser analisada com profundidade. Muitas vezes o empresário vê a folha apenas como um custo fixo, mas a composição dela pode ser otimizada com planejamento.
AGÊNCIA DC NEWS – Como a tecnologia entra nesse processo?
Douglas Farah – A gente desenvolveu uma solução que é basicamente um co-piloto do RH. A ferramenta simula diferentes cenários e interpreta o comportamento da folha, calculando o impacto de cada escolha sobre o PIS, Cofins, contribuição previdenciária, entre outros tributos. Ela mostra, em tempo real, quanto a empresa está perdendo ao manter determinada política de benefícios, ou o impacto fiscal de bonificações específicas.
AGÊNCIA DC NEWS – Vocês estão testando o novo sistema tributário com seus clientes?
Douglas Farah – Sim. Estamos fazendo testes com a estrutura que já foi disponibilizada do CBS. Ele já está sendo testado em algumas grandes empresas. Mesmo que ainda faltem detalhes, já dá para entender bastante coisa sobre a lógica do sistema.
AGÊNCIA DC NEWS – E que percepções vocês já têm?
Douglas Farah – O ponto positivo é que a CBS vai trazer mais previsibilidade e reduzir um pouco da complexidade. Ao nível de informação fiscal, o sistema ele tá funcionando bem, esse é o feedback que a gente tem recebido. Não tem sido fácil também, mas não temos sentido dificuldades além do que a gente já previa lendo a legislação.