Eleições na província de Buenos Aires são 1º grande teste de Milei após escândalo

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

LOMAS DE ZAMORA E BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – As imagens de Javier Milei sendo alvo de pedradas e insultos em um ato de campanha de Lomas de Zamora, na Grande Buenos Aires, ganharam o mundo há pouco mais de uma semana. Na última quinta-feira (4), no entanto, quem passava pela mesma esquina da avenida Hipólito Yrigoyen e o calçadão da rua Laprida parecia pouco preocupado com o fim abrupto daquela carreata do presidente.

“Ele saiu nas ruas em meio a um escândalo e logo em uma parte do conurbano [municípios que contornam a cidade de Buenos Aires] que ele nunca visita? Para mim, estava procurando uma confusão para distrair as pessoas na véspera da eleição”, diz o vendedor de relógios Ermin Pereyra, 56.

O ataque a Milei em uma zona comercial da região metropolitana elevou a tensão dos últimos dias de uma campanha que, em outros momentos, não despertaria tanta atenção dos argentinos. Este domingo (7) será a primeira vez em 42 anos, desde a volta da democracia na Argentina, que a província mais populosa do país vai eleger legisladores separadamente do pleito nacional, que será em 26 de outubro.

A decisão de repartir as eleições foi do governador, Axel Kicillof, hoje o principal oponente de Milei. O peronista ganhou uma disputa interna com a ex-presidente Cristina Kirchner, de quem foi ministro, que preferia que elas não fossem divididas. O mandato dele termina em 2027.

Cristina chegou a lançar sua pré-candidatura a uma vaga de deputada pela província, antes de ter sua condenação a seis anos de prisão confirmada pela Suprema Corte e perder seus direitos de se candidatar.

Embora tenha rachado o peronismo há quatro meses, a decisão pode ter sido acertada para a oposição, dada a atual fragilidade do governo nacional, que sofre desgaste desde o escândalo dos áudios que apontaram um suposto esquema de corrupção na compra de medicamentos no qual a irmã do presidente, Karina Milei, seria beneficiada.

“Kicillof separou as eleições devido a um conflito dentro do partido peronista em Buenos Aires, não por uma estratégia eleitoral voltada para competir com Milei. Com eleições unificadas, Cristina organizaria as listas de candidatos. E isso limitaria o poder do governador”, avalia Miguel De Luca, professor das Faculdades de Ciências Sociais e Direito da Universidade de Buenos Aires.

Ele acrescenta que o governo esperava chegar aos pleitos mais fortalecido, mas está baqueado pelo escândalo dos áudios e a situação econômica mais frágil.

O atual momento de fragilidade política e econômica do governo faz com que as eleições tenham se tornado o primeiro grande teste de popularidade de Milei –a segunda será a disputa nacional. Milei, que há dois meses falava em “arrasar” nas eleições provinciais disse no ato de encerramento da campanha libertária, na última quarta-feira (3), que agora espera um empate.

“Todas as pesquisas mostram que estamos em uma situação de empate técnico, isso significa que qualquer um pode ganhar e significa que os votos daqui e dali definirão qual força triunfará e também que cada voto individual vale, mais do que uma eleição normal”, alertou o presidente, em seu discurso em um clube de bairro em Moreno.

“O governo nacional retira fundos da educação e da saúde pública, tira remédios dos aposentados e ataca as pessoas com deficiência: todas essas são consequências de um presidente que governa odiando seu povo e desprezando nossa história e nossa cultura”, rebateu Kicillof no encerramento da campanha peronista.

A capital do país, Buenos Aires, é uma cidade autônoma e já elegeu seus representantes em maio, antes da província que tem o mesmo nome.

Na província, são 14 milhões de pessoas aptas a votar agora, já que 4 em cada 10 eleitores argentinos vivem nela. O território é dividido em oito distritos eleitorais, cada uma delas funcionando como distritos independentes e com candidatos próprios.

Nas urnas, os eleitores terão de escolher listas partidárias de deputados ou senadores e, em algumas delas, também vereadores e conselheiros escolares. Esse sistema pode levar a uma dupla interpretação sobre quem ganhou as eleições: a força política que obteve o maior número de votos em toda a província ou a que conseguiu mais cadeiras no Parlamento.

A cada dois anos, metade das duas Casas é renovada. Em 2025, estão em jogo 46 das 92 cadeiras de deputados provinciais e 23 das 46 vagas no Senado local. Para conseguir um lugar, cada força política deve ter um piso mínimo de votos, que varia em cada um dos grupos de municípios.

O principal embate será entre os peronistas, agora reunidos com o nome de Frente Pátria, e o grupo de A Liberdade Avança (de Milei) que absorveu os candidatos do PRO (Proposta Republicana, do ex-presidente Mauricio Macri). O primeiro e o terceiro distritos concentram cerca de dois terços do eleitorado, embora não tenham peso proporcional no Legislativo.

Os peronistas são mais fortes no terceiro distrito eleitoral, no sul do conurbano e com 5 milhões de eleitores, onde estão localidades como Avellaneda, La Matanza e Lomas de Zamora. Já o grupo de Milei deve se sair melhor no sexto distrito, com 600 mil eleitores, onde está a cidade de Bahía Blanca.

A principal disputa será pelo primeiro distrito, com 5 milhões de eleitores e com municípios importantes, como Tigre, Vicente López e San Isidro, da parte norte e mais rica do conurbano.

Nenhum partido hoje tem maioria no Legislativo bonaerense. Os peronistas eleitos sob a coalização União pela Pátria, que apoiam Kicillof, compõem a primeira minoria nas duas Casas (têm 37 lugares na Câmara e 21 no Senado). Somados, A Liberdade Avança e PRO têm 26 deputados e 14 senadores. Por isso sair-se bem na disputa é ainda mais importante para o peronismo.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo