Em evento de direita, Milei chama sua vice de burra e promete vitória em outubro

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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mais quatro líderes de esquerda se encontrarem no Chile, a 900 quilômetros dali, Javier Milei dançava e cantava no palco do Direita Fest, evento batizado por seus organizadores de “o mais antiesquerdista do mundo”.

O roteiro não é novo, Milei entrou no palco ao som de “Panic Show”, canção do grupo La Renga que se tornou um de seus símbolos. “Por favor, não fujam de mim, eu sou o rei de um mundo perdido / sou o rei e te destroçarei”, cantou o presidente para, em seguida, defender seu ajuste fiscal sob aplausos do público.

O evento privado na cidade de Córdoba teve ingressos custando 40.000 pesos argentinos (R$ 176, na cotação oficial) e é como uma versão com nomes locais da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora). Foi a terceira edição do encontro, mas a primeira vez em que o presidente participou. Lá, Milei atacou seus oponentes, principalmente a sua vice-presidente, Victoria Villarruel, a quem chamou de “burra traidora”.

Sem mencionar a vice, com quem está rompido, ele disse que a primeira lei da economia é a escassez e que a primeira lei da política é ignorar a primeira lei da economia. “E é isso que os populistas fazem. Ou talvez semanas atrás eles não teriam votado em um gasto de US$ 17 bilhões, e a burra traidora disse que iria financiar isso com US$ 30 milhões”, afirmou o presidente.

Ele se referia a um conjunto de medidas aprovado no Congresso após uma derrota do governo, principalmente o aumento de 7,2% nas aposentadorias e pensões, que Milei atribui à sua vice, já que Villarruel também tem a função de presidir o Senado. Ela enfrentou duras críticas de ministros e de apoiadores do governo por não ter interrompido a sessão.

Nos dias seguintes, Milei manifestou publicamente sua desaprovação nas redes sociais; Villarruel também rompeu o silêncio e começou a criticar o governo abertamente, sugerindo que Milei deveria cortar gastos com viagens e com o serviço de inteligência, e disse que ele deveria começar a “agir como um adulto” e falar com ela em eventos públicos.

Em Córdoba, Milei também criticou o governador de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof, referindo-se a ele como um parasita. Também pediu que seus apoiadores deem uma grande votação aos libertários nas eleições parlamentares da província de Buenos Aires, em setembro, e nas nacionais, em outubro.

O presidente guardou os elogios em seu discurso para o seu grupo político A Liberdade Avança e para sua irmã e secretária da Presidência, Karina Milei. Ele ressaltou a importância das próximas eleições, afirmando que a oposição amargará uma dura derrota e chamando o kirchnerismo de “movimento mais criador de dívida da história argentina”.

O evento não teve cobertura da imprensa, apenas do veículo pró-Milei A Direita – Diário. Ao contrário do que costuma acontecer em atos públicos dos quais Milei participa, a Casa Rosada desta vez não divulgou o discurso do presidente.

Uma repórter do jornal Página/12, que comprou um ingresso para fazer a cobertura, afirmou ter sido retirada do salão principal ao ser reconhecida. Em seguida, foi levada até um terreno ao lado do hotel onde o evento aconteceu e proibida de voltar.

Apesar de ter discursado para apoiadores, o ato ocorre em um momento de atrito entre o agrupamento político de Milei e a militância mais aguerrida, já que as listas de candidaturas a deputados da província de Buenos Aires divulgada nos últimos dias privilegiaram funcionários públicos alinhados aos irmãos Milei em detrimento dos militantes.

Em uma estratégia que parece contradizer a promessa de campanha do presidente, de acabar com a “casta política”, o esquema de candidaturas governistas elaborado pelo senador provincial Sebastián Pareja e com a supervisão de Karina Milei inclui diretores de instituições, como a Anses (agência de seguridade social) e o Pami (Instituto de Serviços Sociais para Aposentados e Pensionistas), além de funcionários ministeriais.

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