SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Numa decisão que é considerada uma vitória política para Israel, o Conselho de Segurança da ONU determinou nesta quinta-feira (28) o fim das operações da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), uma das missões de paz mais longevas da história da organização, em 2026.
Criada em 1978 após a invasão do Líbano por Israel no contexto da guerra civil libanesa e da atuação de milícias palestinas no sul do país, a Unifil tem como principal objetivo garantir que os atores armados da região respeitem a chamada Linha Azul, demarcação da ONU para separar os territórios dos dois países, mas que não é oficialmente uma fronteira.
Nos últimos anos, no contexto dos conflitos no Oriente Médio, tropas da Unifil sofreram ataques das Forças Armadas de Tel Aviv e ganharam projeção em todo o mundo. Em outubro do ano passado, por exemplo, um tanque israelense chegou a invadir uma base da missão em território libanês, numa ação amplamente criticada pela comunidade internacional. Vários soldados ficaram feridos na ocasião.
Em reunião nesta quinta, o Conselho de Segurança da ONU decidiu estender até o fim de 2026 o mandato da Unifil. Mas a resolução aprovada por unanimidade estabelece que esta será a última renovação da missão, que começará, a partir de 31 de dezembro de 2026, um processo de retirada gradual, previsto para durar um ano, em coordenação com o governo libanês. O objetivo é que, ao final desse período, a segurança da região fique exclusivamente sob responsabilidade das forças estatais libanesas.
O texto foi elaborado pela França e contou com o apoio dos Estados Unidos após negociações. A embaixadora interina americana na ONU, Dorothy Shea, afirmou que a segurança no Líbano mudou de forma significativa no último ano e que chegou o momento de o país assumir maiores responsabilidades. Segundo ela, esta será a última vez que Washington apoiará uma prorrogação das ações da Unifil.
A missão ganhou novas atribuições em 2006, depois da guerra de um mês entre Israel e Hezbollah. As novas funções permitiram que os chamados capacetes azuis, como são conhecidos os soldados da Unifil, apoiassem o Exército libanês em operações para manter a região Sul do Líbano livre de armas ou de combatentes que não fossem das forças estatais.
Para Israel, contudo, a Unifil fracassou em sua missão. De acordo com Tel Aviv, o Hezbollah permaneceu controlando a área, o que representava um risco à segurança dos israelenses.
Logo após a votação do Conselho de Segurança, o embaixador israelense na ONU, Danny Danon, afirmou que a decisão foi acertada, uma vez que a presença da força de paz permitiu ao Hezbollah se consolidar como uma ameaça regional.
O Hezbollah é aliado do grupo terrorista Hamas. E, após o início da guerra entre Israel e a facção palestina na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023, a Unifil disse que seus soldados passaram a ser alvo de ataques em ações israelenses no território libanês.
Em novembro, os EUA mediaram uma trégua entre Israel e o Líbano, após mais de um ano de confrontos motivados pela guerra em Gaza. Agora, Washington tenta articular um plano para o desarmamento gradual do Hezbollah, atrelado à retirada gradual de tropas israelenses do sul do Líbano.
O projeto prevê ainda a criação de uma zona de desenvolvimento econômico no Sul do país, apoiada pelos EUA e por países do Golfo, para reduzir a dependência financeira do grupo em relação ao Irã.
O primeiro-ministro libanês, Nawaf Salam, saudou a prorrogação da missão e afirmou que a resolução reitera o pedido para que Israel se retire de cinco áreas ainda ocupadas no território libanês. Ele também afirmou que o texto reforça a necessidade de o Estado consolidar sua autoridade em todo o país.
Com quase 50 anos de atuação, a Unifil é uma das missões de paz mais longevas da história das Nações Unidas. Entre a sua criação e 30 de junho deste ano, 339 soldados da força foram mortos em confrontos na região. Seu orçamento é de cerca de US$ 474 milhões por ano, ou por volta de R$ 2,5 bilhões.
Os capacetes azuis só podem fazer uso da força em legítima defesa ou em uma série restrita de hipóteses, como: impedir que suas instalações sejam usadas para “atividades hostis”; proteger civis, socorristas e funcionários da ONU; garantir a liberdade de ir e vir da população da região; e reagir a tentativas violentas de impedir a missão de cumprir com seu mandato.