SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A esquerda sofreu uma derrota histórica na Bolívia, ficando de fora não só do segundo turno das eleições à Presidência, que será disputado pelos candidatos de direita Rodrigo Paz e Jorge “Tuto” Quiroga, mas também do Congresso.
O MAS (Movimento ao Socialismo), partido governista que tem Evo Morales como sua figura mais emblemática, havia sido a força hegemônica nas eleições gerais de 2020, quando Luis Arce saiu vitorioso. Agora, a sigla de esquerda perdeu as eleições em todos os departamentos do país.
Há cinco anos, o MAS recebeu 55% dos votos em nível nacional e dominou o pleito em seis dos nove departamentos bolivianos. Tarija, no sul do país, foi um dos poucos distritos em que o agrupamento de esquerda perdeu à época, aliando-se a Santa Cruz, tradicional reduto da oposição a Evo.
O Creemos, do ex-governador Luis Fernando Camacho, teve vantagem nas duas regiões em 2020.
No departamento de Beni, que faz fronteira com o Brasil, o MAS também ficou numericamente em segundo lugar, mas praticamente empatado com o grupo político Comunidad Ciudadanía (CC), do ex-presidente Carlos Mesa.
Nas eleições do último domingo (17), o MAS sumiu do mapa, e o Partido Democrata Cristão (PDC), de Rodrigo Paz, consolidou-se como a maior força política das eleições, conquistando cinco departamentos: La Paz, Chuquisaca, Cochabamba, Oruro e Potosí.
Já os departamentos Tarija e Beni trocaram o Creemos, de 2020, pela Aliança Unidade, do empresário Samuel Doria Medina, em 2025. O distrito de Pando, que há cinco anos havia dado vitória ao MAS no norte do país, agora optou pela Aliança Livre, do ex-presidente Quiroga, assim como Santa Cruz.
O MAS, que até então detinha a maioria no Congresso, teve um dos piores resultados e quase sumiu do Legislativo, segundo dados preliminares do instituto de pesquisas Ciesmori.
Já o PDC, do opositor Rodrigo Paz, consolidou-se como a principal força parlamentar nas duas Casas, conquistando 13 cadeiras no Senado e outras 45 na Câmara dos Deputados. Apesar do avanço, os assentos não garantem maioria absoluta (66 cadeiras). Portanto, para garantir a governabilidade, o partido terá de firmar acordos com outras forças políticas.
Em segundo lugar ficou a Aliança Livre, com ao menos 37 deputados e 11 senadores. Já a Aliança Unidade apareceu em terceiro, com pelo menos 28 deputados e seis senadores.
A quarta maior bancada será a do APB-Súmate, de Manfred Reyes Villa, que terá pelo menos seis deputados e um senador.
Enquanto isso, a Aliança Popular, de Andrónico Rodríguez, da esquerda, obteve apenas cinco cadeiras de deputados, e o MAS só um lugar na Câmara. Nenhuma das legendas conseguiu votos suficientes para eleger senadores.
Até a noite desta terça (19) havia ainda 13 cadeiras em disputa, das quais oito da Câmara e cinco do Senado.
O resultado reflete o pior desempenho do MAS dos últimos 23 anos, desde a sua primeira participação marcante nas eleições em 2002, quando foi a segunda força política do Congresso Nacional, elegendo oito senadores e 27 deputados. A maior vitória da sigla ocorreu em 2014, quando conquistou 25 assentos no Senado e 88 na Câmara.
Agora, o país volta às urnas em 19 de outubro, data do segundo turno, para escolher seu novo presidente.