BRASÍLIA, DF UOL/FOLHAPRESS) – Os Estados Unidos adiaram a deportação, que aconteceria nesta sexta-feira (1), da segunda brasileira fugitiva condenada pelos ataques de 8 de Janeiro que estava presa em solo norte-americano após entrar como imigrante ilegal, um dia após a posse de Donald Trump. Hoje, as autoridades americanas informaram que ela não estava mais em penitenciárias da ICE (Polícia de Imigração e Alfândega) enquanto advogados, familiares e autoridades brasileiras a aguardavam sua chegada na noite de hoje em Belo Horizonte.
No final da tarde de hoje, o governo brasileiro informou que o voo de todo os deportados foi adiado para a próxima segunda-feira. Isso ocorreu em “decorrência de problemas na aeronave norte-americana que faria a viagem”. De sua parte, a ICE passou a informar, agora no fim da tarde, que Rosana foi levada para uma unidade do controle de fronteiras no Texas.
O avião com dezenas de brasileiros deportados chegaria ao aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, por volta das 20h. Agora, a previsão é segunda-feira (4) às 17h15, informou o Ministério dos Direitos Humanos. Nele, estará a autônoma Rosana Maciel Gomes, 52, condenada a 14 anos de prisão por golpe de Estado, associação criminosa, dano a patrimônio público, dano a patrimônio tombado e abolição violenta do Estado democrático de Direito. Ela nega todos os crimes.
Ao desembarcar, Rosana deve ser presa pela Polícia Federal, segundo apurou o UOL. Há um mandado de prisão aberto contra ela desde que fugiu do Brasil, em janeiro de 2024.
Rosana e mais três brasileiras Cristiane da Silva, Raquel de Souza Lopes e Michelly Paiva foram detidas na fronteira do México com o Texas, em janeiro de 2025. Foi a terceira fuga de Rosana desde que saiu do Brasil, em janeiro de 2024, para ir a Uruguai, Argentina, Colômbia, México e EUA. Ao todo, Rosana percorreu mais de 10 mil quilômetros desde que deixou Goiânia, onde morava.
Rosana conversou com o UOL de dentro da penitenciária da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE) dos EUA, em abril. Ela disse que as condições eram precárias e que os agentes norte-americanos omitiram socorro quando ela passou mal na detenção.
“Eles não respondem nada aqui”, disse ela. “É uma perseguição. Eles não aceitam a gente falar nada. Eu fui omitida de socorro [sic] essa semana. Eles não me deram socorros. Tem pessoas que estão presas aqui há dois anos, que moram nos EUA e não entram.”
Com seus bens bloqueados no Brasil, Rosana afirmou que não tinha dinheiro para pagar pelos telefonemas de dentro da detenção. Eles custavam US$ 0,37 (R$ 2,05) por minuto. “Não tenho condições de ligar. O dinheiro aqui, o dólar, é pouco”, falou.
A condenação de Rosana é definitiva não cabem mais recursos. No processo, o advogado Hélio Ortiz Júnior disse que não havia provas contra sua cliente. Rosana negou ter participado de golpe ou depredado patrimônio: “Quando entrou no Palácio do Planalto, viu que os bens públicos estavam danificados e não danificou qualquer bem, tanto que ficou em estado de choque de ver uma situação daquela”.
Hélio Júnior disse ao UOL que as fugas de Rosana não vão impedi-la de reduzir seus dias de prisão através de trabalho, estudo e leitura de livros na penitenciária. “A gente vai poder trabalhar na remissão [redução de dias de prisão] dentro do possível para abater as penas. Há algumas semanas, ele afirmou à reportagem que pretendia tentar a prisão em regime semiaberto para Rosana.
Hélio Júnior disse que vai pedir a mudança de Rosana para uma carceragem em Goiânia (GO), perto dos familiares. Ele imagina que hoje a cliente fique na Polícia Federal e, depois, seja transferida para a penitenciária feminina de Estêvão Pinto.
Em junho, Rosana foi transferida pelos americanos. Ela estava na detenção da ICE no Texas para uma unidade no estado da Louisiana, a 1.000 quilômetros de distância, aguardando embarque em um avião de deportados. Mas só esta semana ela foi liberada para embarcou num avião. Com o problema na aeronave, foi removida para uma cidade no estado Texas nas proximidades de onde estava.
Em 7 de abril, a ICE confirmou à Interpol, ao Ministério da Justiça e à PF que as quatro brasileiras estavam detidas no Texas e que o órgão estava pronto para deportá-las. Até agora, Rosana e Cristiane foram embarcadas em voos de volta. “Se o ERO [órgão da ICE responsável por deportações] receber uma ordem final de remoção para o Brasil para a pessoa nomeada, nós a removeremos no primeiro voo fretado disponível”, informou a polícia norte-americana, em documento obtido pelo UOL.
Em maio, a Procuradoria-Geral da República havia pedido ao STF, “com urgência, todas as providências necessárias à efetivação da extradição de Rosana Maciel Gomes”. No mesmo mês, o Supremo autorizou que as autoridades brasileiras pedissem à Interpol para incluir o nome de Rosana na difusão vermelha.
Fugitiva falou em milagre e usou bandeira dos EUA. Em 11 e 12 de janeiro, quando estava em fuga pelo México e dias antes de ser presa nos Estados Unidos, Rosana fez duas publicações num perfil de rede social que havia criado na Argentina. O texto é acompanhado de uma bandeira dos EUA. “Não fique preso ao passado”, disse ela. “Você está agora diante de uma nova experiência. Dedique-se a ela de corpo e alma, e verá surgir o próximo degrau de evolução.” Ela escreveu também uma mensagem de fé em um milagre de Deus.
Desde 2024, dezenas de condenados e investigados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 fugiram do Brasil para a Argentina. Mais de 180 pediram refúgio ao governo vizinho, alegando perseguição política. Mas, quando a Argentina passou a prender pessoas com ordem de extradição, em novembro de 2024, um grupo de cerca de 30 pessoas deixou o país. Entre eles, estão:
– Alethea Verusca Soares. Local: México. Ela foi condenada a 17 anos de prisão no Brasil por golpe de Estado e outro crimes. O UOL apurou que ela vive no México. Ao contrário de Cristiane, Rosana, Michely e Raquel, ela decidiu não cruzar a fronteira com os EUA por causa da possibilidade de prisão por imigração ilegal. Uma fonte afirmou à reportagem que ela chegou a arranjar um trabalho no país.. Já fugiu para o Uruguai, Argentina, Peru e Colômbia.
– Romário Garcia Rodrigues. Local: México. Ele foi condenado a 2 anos e cinco meses de prisão por incitação ao crime e associação criminosa. A defesa pediu ao ministro Alexandre de Moraes para cancelar o mandado de prisão preventiva dele (ou seja, em regime fechado) para ele poder retornar ao Brasil para cumprir sua pena, ordenada para ser um regime semiaberto, numa colônia penal. O pedido foi negado.
– Antônio Alves Pinheiro Júnior. Local: América Central. Antônio Júnior é réu em ação penal dos ataques. Fugiu da Argentina, mas tomou rota para a Bolívia. De lá, rumou para o Peru. Teria chegado à Colômbia em dezembro de 2024. De lá, segundo o UOL apurou, chegou à América Central.
– Edilaine da Silva Santos. Local: América Central. Edilene é ré em ação criminal dos ataques de 8 de Janeiro. Fugiu da Argentina para o Chile, seguiu para o Peru e teria chegado à Colômbia em dezembro. De lá, segundo o UOL apurou, chegou à América Central.
– Raquel de Souza Lopes. Local: Raymondville, Texas, EUA. Está presa numa detenção da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE). Tentou pedir um asilo nos EUA, mas o tribunal de imigração negou o pedido. A polícia norte-americana informou ao UOL que estava em processo de deportação acelerada.
– Rosana Maciel Gomes. Antigo local: El Paso, Texas, EUA. Fugiu do Brasil para Uruguai, Argentina, Colômbia, México e EUA. Está presa numa detenção da ICE desde 21 de janeiro. Foi deportada hoje. Deve ficar em carceragens em Minas Gerais até a defesa conseguir transferi-la para Goiânia (GO).
– Michely Paiva Alves. Local: El Paso, Texas, EUA. Está presa numa detenção da ICE. A polícia informou ao UOL que estava em processo de deportação acelerada. Mas duas fontes informaram à reportagem que ela conseguiu uma decisão de tribunal de imigração pode deixá-la solta nas ruas dos EUA, ainda que sem documentos, nos próximos meses.
– Outras pessoas. O grupo que deixou a Argentina em novembro de 2024 teria cerca de 30 pessoas, segundo o UOL apurou. Ao menos uma pessoa está foragida no Chile. Outras teriam fugido para El Salvador e Guatemala, segundo fontes ouvidas pela reportagem.