Euricion Murari, diretor da ABBC: “Pix Parcelado impacta toda cadeia varejista”

Uma image de notas de 20 reais
Euricion Murari diz que uso do Pix parcelado não deve aumentar significativamente o endividamento
(Divulgação)
  • “Do lado do consumidor, você tem mais inclusão financeira. No lado do varejista, novas fontes de receita”
  • “É mais sobre trazer novos clientes do que propriamente ter uma migração do cartão para o Pix Parcelado”
Por Letícia Cassiano

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros não dispõem de cartão de crédito, segundo o Banco Central. Ao mesmo tempo, o número de chaves Pix cadastradas chega a quase 880 milhões, com popularidade crescente. O Pix Parcelado, já aderido por algumas instituições financeiras, lança uma nova temporada no varejo brasileiro. Para Euricion Murari, diretor de inovação da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a previsão é de que a modalidade “impacte na cadeia inteira do varejista”. “É muito mais sobre trazer novos clientes do que propriamente ter uma migração do cartão para o Pix parcelado”, afirmou em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS.

O tema é discutido desde abril de 2025, quando o Banco Central anunciou a nova modalidade e outras funcionalidades do Pix. Na segunda-feira, dia 8, a instituição confirmou que anuncia ainda em setembro as regras de padronização do Pix Parcelado. A nova função representa uma alternativa de crédito para os 35,3 milhões de brasileiros invisíveis aos serviços financeiros, conforme última pesquisa do Serasa Experian realizada em 2023. Ou seja, 21,7% da então população adulta do país não possui contas de consumo, financiamentos, empréstimos ou faturas de cartão de crédito registrados em seu CPF, nem mesmo estão no Cadastro Positivo.

Desde agosto, alguns bancos já passaram a oferecer a própria versão do Pix Parcelado nas modalidades de empréstimo pessoal e cartão de crédito. Segundo a nova pesquisa Jornada de Crédito: como consumidores e executivos avaliam oportunidades e riscos, realizada pela consultoria Matera, 53% dos entrevistados afirmaram já fazer uso do Pix Parcelado, atrás apenas do cartão de crédito (77%). O relatório, que apresenta dados coletados em outubro de 2024, mostra que os principais motivos para uso do Pix Parcelado são emergências pessoais (28%), compras ou pagamentos à vista (27%) e compras do dia a dia (17%). Murari vê a novidade como potencial. “É uma questão de inclusão financeira, de dar mais poder de compra para milhões de potenciais novos clientes”, afirmou. O diretor apontou alguns aspectos da modalidade que podem influenciar no planejamento do varejista, como se preparar para a demanda de novos consumidores e avaliar quais modalidades de pagamento são mais interessantes para cada negócio. Confira a entrevista abaixo.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Na avaliação da ABBC, qual é a expectativa sobre o Pix Parcelado?
EURICION MURARIO – Pix Parcelado favorece o sistema como um todo. Vai atingir clientes que não dispõem do cartão de crédito físico, em torno de 60 milhões de pessoas, e que se tornarão consumidores. Isso também reflete no potencial incrementado em relação às vendas do varejo. Novos clientes serão atingidos com essa nova modalidade. Então, de um lado você tem mais inclusão financeira e, no outro, novas fontes de receita.

AGÊNCIA DC NEWS – O recebimento instantâneo é uma das características da modalidade. Na prática, afetaria em quais aspectos o planejamento do varejista?
EURICION MURARI – O natural, quando surgem novas modalidades de linha de crédito, é que isso impacte na cadeia inteira do varejista. Por exemplo, o leque de clientes é potencializado, então o empresário precisa estar preparado para essa nova demanda.

AGÊNCIA DC NEWS – Há algum risco na nova modalidade?
EURICION MURARI – Para o varejista não existe risco nenhum, porque ele recebe o valor integral na mesma hora, adiantado pelo banco do cliente. O risco da modalidade é o mesmo do crédito tradicional, para os bancos.

Aspas

O natural, quando surgem novas modalidades de linha de crédito, é que isso impacte na cadeia inteira do varejista. Por exemplo, o leque de clientes é potencializado, então o empresário precisa estar preparado para essa nova demanda

Aspas
Euricion Murari, diretor de inovação da ABBC

AGÊNCIA DC NEWS – Como funciona neste caso?
EURICION MURARI – No caso, as instituições financeiras fazem uma análise do cliente para só então definir os limites individuais para o Pix Parcelado. O nome do cliente precisa estar limpo, deve ter um bom score de crédito, um histórico financeiro regular, entre outros fatores que influenciam na concessão do crédito.

AGÊNCIA DC NEWS – A modalidade afeta outros modelos de crédito, como o carnê?
EURICION MURARI – Vai depender muito da necessidade que o varejista tem de garantias. Com o carnê de recebíveis como garantia para operações de crédito, existe um custo. Quando muda para um modelo onde o varejista recebe à vista, esse custo não existe mais. O varejista vai ter, eventualmente, um aditivo, mais uma fonte de receita para compor essa carteira. Ou então, ele tem necessidade de capital de giro à vista. Enfim, vai ter uma curva de aprendizado que varia de operação para operação.

AGÊNCIA DC NEWS – Acredita que pode prejudicar as bandeiras dos cartões de crédito a longo prazo?
EURICION MURARI – Roubar cliente das bandeiras eu diria que não. São prefixos diferentes. É muito mais sobre trazer novos clientes do que propriamente ter uma migração do cartão para o Pix Parcelado.

AGÊNCIA DC NEWS – O uso pode vir a interferir na concessão de crédito tradicional posteriormente?
EURICION MURARI – Neste sentido, o Pix Parcelado não é diferente das outras modalidades de crédito. Se houver qualquer tipo de comportamento financeiro negativo por parte do consumidor, em que ele não consiga honrar com aquele compromisso, vai ficar no histórico dele. 

AGÊNCIA DC NEWS – Críticos do Pix Parcelado apontam à alta do endividamento, especialmente entre as famílias de baixa renda que já utilizam o Pix por ser um modelo mais acessível. A nova modalidade pode aumentar esse endividamento?
EURICION MURARI – Acredito que não. Pelo Pix Parcelado se assemelhar a uma operação de crédito, existem avaliações de score, da capacidade de cada consumidor de pagar a dívida. Vai depender do próprio controle dos bancos na hora de fornecer esse crédito, de saber quanto o cliente movimenta, recebe mensalmente e boletos para pagar. Não acredito que existe um risco de endividamento fora da normalidade.

AGÊNCIA DC NEWS – A ABBC tem trabalhado para tratar do Pix Parcelado com os associados e população? Qual tem sido a reação dos associados com a nova modalidade?
EURICION MURARI – A associação acompanha o tema junto com o cronograma de implementação do BC. Esses assuntos são debatidos eventualmente nas nossas comissões, especialmente na comissão de tecnologia e inovação. Quando surgem essas novas modalidades, levamos a discussão no âmbito das instituições associadas, sobre o impacto desses novos produtos em tecnologia, desenvolvimento e assim por diante. Nosso time de comunicação também está sempre fomentando conhecimento para a população, criando conteúdo educacional nas nossas redes. Claro, educação financeira é a base de tudo.

AGÊNCIA DC NEWS – Além do Pix Parcelado, o BC quer lançar em 2026 o Pix em Garantia, voltado exclusivamente para estabelecimentos comerciais e empresas. O que podemos esperar?
EURICION MURARI – O Pix em Garantia vai funcionar com base nos recebíveis futuros do Pix, aí sim é parecido com o carnê. A pessoa jurídica, um varejista, por exemplo, poderá utilizar seus recebíveis como forma de garantia para contratar empréstimos.

Voltar ao topo