BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-assessor do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Eduardo Tagliaferro prepara uma denúncia contra o ministro Alexandre de Moraes para ser entregue ao Parlamento europeu, informaram à Folha de S.Paulo dois de seus aliados.
Tagliaferro alega ter documentos e trocas de mensagens preservadas da época em que foi auxiliar de Moraes na Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação no TSE, durante o período eleitoral de 2022.
Ele acusa Moraes de perseguir políticos de direita e restringir a liberdade de expressão pela derrubada de publicações e perfis das redes sociais.
“Destruiu a minha vida e a de várias pessoas, isso é pouco, logo EU estarei mostrando para o Brasil quem é Alexandre de Moraes, e os bastidores do seu gabinete”, escreveu o ex-assessor nas redes sociais na quarta-feira (31).
Tagliaferro se mudou para a Itália após ser alvo de investigação da Polícia Federal. Ele acabou indiciado em abril deste ano sob suspeita de ter violado o sigilo funcional envolvendo informações sobre procedimentos adotados no gabinete de Moraes.
O inquérito foi aberto, sob sigilo, após a Folha revelar em agosto de 2024 que o gabinete de Moraes no Supremo ordenou, por mensagens e de forma não oficial, a produção de relatórios pelo TSE para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas no inquérito das fake news na corte em 2022.
A Folha de S.Paulo teve acesso a mais de seis gigabytes de mensagens e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares do ministro -entre os quais estava Tagliaferro.
À época, o gabinete de Moraes disse em nota que todos os procedimentos relatados na reportagem eram “oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria-Geral da República”.
Desde que se mudou para a Itália, Tagliaferro passou a utilizar as redes sociais para fazer oposição a Moraes e ao governo Lula (PT). Mais recentemente, se uniu ao blogueiro Allan dos Santos -foragido da Justiça brasileira desde 2021, quando o ministro decretou sua prisão preventiva no âmbito do inquérito das fake news.
Dos Santos e Tagliaferro participaram juntos de um programa no Youtube na quarta. O ex-assessor disse que em pouco tempo de trabalho no TSE percebeu que havia uma “perseguição contra a direita”.
“Só chegavam coisas no gabinete da direita, nada da esquerda, e isso me chamou atenção e comecei a questionar esse tipo de coisa”, disse. Ele afirmou que não daria detalhes do que possui para “não perder a graça”.
A Folha de S.Paulo procurou o advogado de Tagliaferro, Eduardo Kuntz, que disse que não comentará o caso. O ex-assessor e o STF também não se posicionaram.
O movimento de Tagliaferro se junta a outras ações no exterior de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que tentam denunciar o ministro.
Pessoas próximas a Eduardo Bolsonaro e ao ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo negam que o ex-assessor de Moraes atue em parceria com eles na busca por sanções contra o ministro do Supremo.
Alexandre de Moraes foi alvo de sanção financeira do governo dos EUA na quarta. A ordem executiva de Donald Trump que anunciou a aplicação da Lei Magnitsky diz que o ministro do STF abusou de prisões preventivas injustas e atenta contra a liberdade de expressão.
O pano de fundo é o avanço do processo contra Jair Bolsonaro pela trama golpista de 2022. O ex-presidente é acusado de cometer cinco crimes e, caso condenado, pode cumprir até 43 anos de prisão.