Ex-chefe do Exército de Israel confirma mais de 200 mil vítimas na Faixa de Gaza

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-comandante do Exército de Israel Herzi Halevi afirmou que mais de 200 mil palestinos foram mortos ou feridos desde o início da guerra em Gaza, em outubro de 2023. A estimativa, feita em encontro comunitário no sul de Israel nesta semana, corresponde a cerca de 10% da população do enclave, que soma 2,2 milhões de habitantes.

Halevi, que deixou o cargo de chefe do Estado-Maior em março após liderar as forças israelenses nos primeiros 17 meses do conflito, declarou que “nenhuma vez” as operações militares foram limitadas por conselhos jurídicos. “Nenhuma vez alguém me restringiu. Nenhuma vez. Nem a advogada-geral militar [Yifat Tomer-Yerushalmi] que, aliás, não tem autoridade para me restringir”, disse.

O número relatado por Halevi se aproxima dos divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas. Até agora, segundo os dados oficiais da pasta, 64.718 palestinos foram mortos e 163.859 ficaram feridos. O balanço não distingue civis de combatentes, mas informações de inteligência militar israelense vazadas em maio indicavam que mais de 80% das vítimas fatais eram civis. Além disso, milhares estariam soterrados sob escombros ainda não removidos.

Halevi, em suas declarações, classificou a ofensiva como dura desde o início. “Esta não é uma guerra branda. Tiramos as luvas desde o primeiro minuto. Infelizmente não antes”, afirmou. Segundo ele, Israel deveria ter adotado medidas mais duras antes do ataque que desencadeou a guerra, em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas invadiram o território israelense, matando cerca de 1.200 pessoas -das quais 815 eram civis israelenses ou estrangeiros.

O encontro ocorreu em Ein HaBesor, uma cooperativa agrícola no sul de Israel que conseguiu repelir os combatentes do Hamas há dois anos. Um áudio da reunião foi publicado pelo site israelense Ynet. “Ninguém está agindo com suavidade”, declarou Halevi, acrescentando que, apesar da intensidade, as ações do Exército seguiriam “os limites do direito humanitário internacional”.

No entanto, ele reconheceu que pareceres jurídicos nunca interferiram em suas ordens ou nas de seus subordinados diretos. Em trecho citado pelo Ynet, mas não presente no áudio, o general aposentado teria dito que a principal função dos advogados militares é fornecer respaldo externo: “Há assessores jurídicos que dizem: Saberemos como defender isso legalmente no mundo, e isso é muito importante para o Estado de Israel”.

O jornal Haaretz publicou, na última quarta (3), que Eyal Zamir, sucessor de Halevi, também teria ignorado alertas da assessoria jurídica. Segundo a reportagem, a advogada-geral Tomer-Yerushalmi teria recomendado adiar ordens de evacuação de cerca de 1 milhão de habitantes da Cidade de Gaza até que houvesse condições adequadas no sul para recebê-los. Ainda assim, a operação prosseguiu.

Muitos dos palestinos mortos nos ataques mais recentes estariam entre os que não conseguiram deixar o norte ou se recusaram a abandonar casas e abrigos para deslocar-se a áreas sem proteção contra os bombardeios.

As declarações de Halevi provocaram críticas internas. Para o advogado de direitos humanos Michael Sfard, ouvido pelo jornal britânico The Guardian, “as falas de Halevi confirmam que os assessores jurídicos servem como carimbos de borracha”. “Os generais os veem como conselheiros comuns, cujas opiniões podem ser adotadas ou descartadas, e não como juristas profissionais cujas posições delimitam o que é permitido e o que é proibido”.

A posição oficial de Israel, reiterada desde o início da guerra, é a de que o Exército atua em conformidade com o direito internacional. Procuradas pelo Guardian para comentar as falas de Halevi, as forças israelenses não responderam.

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