Ex-diretor da Americanas fecha acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O escândalo contábil da Americanas teve uma nova delação. O ex-diretor estatutário Márcio Cruz Meirelles firmou acordo com o Ministério Público Federal.

O conteúdo levado pelo ex-executivo deve ser adicionado à denúncia que o órgão apresentou em março citando outros 12 ex-executivos e ex-funcionários, além do próprio Meirelles. Eles foram apontados pelo MPF como os responsáveis por fraudes calculadas pelos procuradores em pelo menos R$ 22,8 bilhões.

Segundo o Ministério Público, as falas de Meirelles são complementares no caso.

Até agora, foram feitas três delações pelos ex-executivos Marcelo Nunes, Flávia Carneiro e Fabio Abrate.

Entre os denunciados pelo MPF estão Miguel Gutierrez (ex-CEO da Americanas), Anna Saicali (ex-CEO da B2W) e os ex-vice-presidentes Thimoteo Barros e Marcio Cruz. Integram a lista também os ex-diretores Carlos Padilha, João Guerra, Murilo Correa, Maria Christina Nascimento, Fabien Picavet, Raoni Fabiano, Luiz Augusto Saraiva Henriques, Jean Pierre Lessa e Santos Ferreira e Anna Christina da Silva Sotero.

A delação de Meirelles foi dividida em quatro anexos. Além dos anexos sobre sua relação patrimonial, que vai subsidiar as multas, e seu histórico na companhia, incluindo o momento em que Meirelles vendeu ações antes do estouro do escândalo, há outros dois anexos sobre a cultura de pressão por resultados na empresa, seu primeiro contato com as manobras contábeis e a fraude em si, com relatos sobre o VPC (verba de propaganda cooperada) e o risco sacado.

Mecanismos comuns no varejo, o contrato de VPC é um reconhecimento de créditos que pode melhorar o resultado do ponto de vista contábil elevando a receita, e a operação de risco sacado envolve antecipação de pagamentos a fornecedores com crédito bancário. Após o escândalo contábil, essas ferramentas foram apontadas pela nova gestão da Americanas como instrumentos usados pela antiga diretoria para a fraude.

Entre as falas apontadas pelo Ministério Público como destaques no depoimento de Meirelles, há trechos em que ele comenta a atuação de Miguel Gutierrez, como o momento em que os procuradores lhe questionam se o ex-CEO sabia de fraudes contábeis na B2W.

“Acho que sabia, porque… aí depende do período, né? Tem períodos que a gente tem certeza que sabia”, afirma o delator no depoimento transcrito pelo MPF.

“Um período mais recente ele sabia, com certeza, porque o Marcelo Nunes mostrava para ele, inclusive, os ajustes que eram feitos e também falava diretamente com ele. Depois da combinação [fusão entre B2W e Lojas Americanas], principalmente, de 2021 para frente”, aponta o depoimento.

Mais adiante, os procuradores lhe perguntam se Miguel dava a última palavra na fraude, ao que Meirelles responde que o ex-CEO “era a última palavra ali na nossa estrutura”.

Procurada, a defesa do ex-CEO afirmou que não iria comentar.

O delator também foi questionado pelo MPF se o conselho de administração tinha consciência da adulteração de resultados financeiros que sofriam ajustes. Entre os membros do conselho estava Beto Sicupira, um dos empresários do trio de bilionários acionistas da empresa.

“Do conselho, o que eu posso dizer? Essa foi uma pergunta que eu me fiz durante muito tempo. Se o conselho sabia ou não sabia. O que eu tenho de elemento sobre isso? Todas as informações que a gente gerava que iam para o conselho ou para o acionista de referência, no caso Beto, especificamente, elas iam ajustadas. Que eu tenha conhecimento, todas as informações. Sejam informações que eram apresentadas em reunião de conselho, sejam informações que eram passadas e quando eram solicitadas, gerenciais mesmo, a gente já fazia ela se falar com a versão do conselho. Então, todas as informações -que eu tenha conhecimento- eram passadas e apresentadas em uma reunião de conselho, todos os números já ajustados”, afirma Meirelles no depoimento.

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