Fast Shop contrata CEO e promove reestruturações após escândalo com ICMS

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No centro de uma das maiores investigações envolvendo fraude tributária em São Paulo, a Fast Shop se movimentou internamente para sobreviver a uma possível onda de multas e acordos judiciais milionários que podem prejudicar a estrutura financeira da companhia.

De imediato, a companhia contratou um CEO interino na virada do mês, cargo inexistente nos quase 40 anos de atuação da Fast Shop no varejo. Para o posto, a rede contratou Rodrigo Ogawa, engenheiro eletrônico com experiência em gestão de crises e que já presidiu empresas como a Tyco e a Olympus. Ele também dá aulas de compliance e gestão de riscos no Insper.

De acordo com documentos registrados na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), a varejista é controlada por uma holding dos Kakumoto, família fundadora da rede, e possui sete diretores, sendo um deles Mário Otávio Gomes, que confessou sua participação no esquema de corrupção envolvendo o recolhimento de ICMS em São Paulo, descobertos na Operação Ícaro.

Em nota, a companhia disse que a contratação de Ogawa é parte do plano de aprimoramento dos processos internos, cujo objetivo é renovar o negócio. Ele também deve ajudar no fortalecimento de controles da varejista e na cultura de compliance e governança.

Como parte dessa reestruturação, a Fast Shop também promoveu demissões em cerca de 25% das equipes no início da semana, segundo o jornal Valor Econômico. A companhia não confirma a informação e disse somente que as mudanças recentes envolveram “alterações no quadro de profissionais”.

“Por operarmos no varejo, estamos sempre buscando aumentar a eficiência operacional, principalmente em um cenário de juros altos prolongados”, afirmou em nota a Fast Shop.

Além disso, o advogado Francisco Petros foi contratado para conduzir uma investigação independente com objetivo de repassar práticas internas da companhia. Atualmente, além de sócio do escritório Fernandes, Figueiredo, Françoso e Petros Advogados, ele é membro do comitê de auditoria da Mapfre, árbitro da Câmara de Arbitragem do Mercado (B3) e conselheiro de administração da Petrobras.

Até junho, pelo que se pode apurar nos documentos da Junta, a varejista mirava um plano de expansão de lojas pelo país, principalmente com foco no fortalecimento da operação online. Para isso, foram criados naquele mês cargos de diretoria para as áreas de operações, ecommerce, negócios corporativos e de novos negócios e marketplace.

Os novos diretores se juntaram aos outros seis diretores que já atuavam nos departamentos de negócios e comercial, geral, logística, financeiro, comercial de serviços e tecnologia da informação.

Menos de dois meses após a chegada da nova diretoria, o MP-SP (Ministério Público de São Paulo) deflagrou a operação Ícaro e desmontou uma rede de propinas supostamente organizada pelo auditor fiscal Artur Silva Neto, ex-chefe de fiscalização da Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Além do auditor, que segue detido desde o dia 12 de agosto, foram presos o então diretor financeiro e de controladoria Mario Gomes e o dono da Ultrafarma, Sidney Oliveira -os dois foram soltos menos de uma semana após o início da operação.

De acordo com a Fast Shop, Gomes foi afastado imediatamente de suas funções na companhia e não tem previsão de retorno.

Até 2023, segundo último balanço atualizado do grupo, os diretores recebiam remuneração de R$ 10,4 milhões por ano. Em maio deste ano, os seis membros que compunham a direção da empresa receberam R$ 4 milhões em dividendos.

Em junho, quando a Operação Ícaro ainda não havia sido deflagrada, a diretoria discutiu a abertura de filiais pelo país, que se somariam às mais de 80 em funcionamento atualmente. Foram aprovadas em reuniões colegiadas quatro novas lojas na Bahia e outras quatro no Paraná.

Segundo documentos oficiais, foram encerradas algumas operações ao longo do ano na capital paulista e Ribeirão Preto (SP). Questionada, a companhia não informou quais operações serão revistas no atual processo de reestruturação.

ACORDOS COM O MP

No final do mês passado, o diretor afastado Mario Otávio Gomes assinou acordo de não persecução penal (ANPP) com a promotoria paulista e se comprometeu a pagar R$ 15 milhões como forma de confissão de crime para não responder a um processo criminal.

Logo após o acordo de Gomes, os acionistas controladores Milton Kazuyuki Kakumoto e Julio Atsushi Kakumoto também acertaram os termos de uma ANPP com o Ministério Público e vão pagar, juntos, outros R$ 85 milhões.

Em sua confissão detalhada, Gomes, que está há 31 anos na Fast Shop, esmiuçou o que seria o modus operandi de Artur Gomes da Silva Neto, apontado como líder do esquema, e disse ter seguido ordens internas para negociar as ilegalidades com o auditor.

No acordo, o diretor da varejista afirma que a busca por valores mais altos de ressarcimento de ICMS teria começado após a insatisfação de Milton Kakumoto, presidente da Fast Shop, com os resultados de uma empresa contratada anteriormente.

O esquema investigado pelo Ministério Público envolve a chamada substituição tributária, uma forma de cobrar de forma concentrada, de um único contribuinte, todos os impostos de uma cadeia inteira de produção.

No caso, o ICMS. A empresa que quita os impostos tem direito a receber uma parte do dinheiro de volta, mas isso pode demorar meses ou até anos. Segundo o Ministério Público, Silva Neto agia para acelerar esse recebimento, além de inflar os valores, em procedimentos que incluíam o pagamento de propina.

Entre 2021 e 2025, a Fast Shop teria recebido em torno de R$ 1,59 bilhão em ressarcimentos de ICMS, segundo informado pelo diretor no acordo. Desse total, R$ 553 milhões seriam de créditos que a empresa de fato teria direito de acordo com sua operação. O outro R$ 1,04 bilhão teria sido inflado pelo auditor Silva Neto.

Em nota, a Fast Shop disse que vem colaborando de forma integral com as autoridades competentes. “E reafirmamos o nosso compromisso com a ética, a legalidade e a conformidade.”

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