SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após avançar pelas Bahamas na madrugada desta quinta-feira (30), o furacão Melissa agora de categoria 2 ganhou velocidade enquanto avança pelo Atlântico em direção às Bermudas. Enquanto isso, autoridades e equipes de resgate seguem tentando contabilizar os mortos deixados pelo rastro de destruição no Caribe.
Autoridades informaram que pelo menos 23 pessoas morreram no Haiti, 1 na República Dominicana e 5 na Jamaica. O Melissa foi o terceiro furacão mais intenso já registrado no Caribe e, por ter avançado lentamente, foi particularmente destrutivo, segundo o serviço meteorológico AccuWeather.
Na noite de quarta-feira (29), o Melissa trouxe ventos fortes, chuvas intensas e ressaca no mar enquanto se deslocava para o nordeste pelo arquipélago das Bahamas. O governo local já havia retirado cerca de 1.500 pessoas da rota da tempestade, naquela que classificou como uma das maiores operações do tipo de sua história.
A previsão é de que o furacão siga acelerando em sentido nordeste e passe por Bermudas na noite desta quinta-feira, antes de enfraquecer na sexta-feira (31), segundo o serviço de previsão meteorológica da Flórida.
O Melissa poderá ainda atingir ou passar perto da ponta sudeste de Terra Nova, no leste do Canadá, no início da manhã de sábado (1º). Ainda não se sabe, no entanto, se a tempestade ainda terá a força de um furacão ao atingir a costa.
O Melissa chegou a alcançar a categoria 5, o nível máximo na escala de intensidade, e, na Jamaica, tornou-se o furacão mais forte a atingir o solo em 90 anos na terça-feira (28), com ventos próximos de 300 km/h, segundo análise da agência de notícias AFP com base em dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Depois, perdeu força.
A devastação provocada pelo Melissa atingiu níveis sem precedentes, afirmou na quarta-feira o principal representante da ONU na Jamaica. Segundo ele, mais de um milhão de pessoas cerca de um terço da população do país foram diretamente afetadas pela tempestade.
Autoridades jamaicanas informaram que a prioridade era restabelecer os serviços de energia e telecomunicações e desobstruir as estradas bloqueadas e alagadas para permitir uma avaliação mais precisa dos danos.
Os problemas de comunicação e os cortes de energia dificultavam os esforços de resposta e emergência. Quase 80% do país estava sem eletricidade na manhã de quarta-feira, informou Dana Morris Dixon, ministra da Informação da Jamaica.
Dayton Campbell, membro do Parlamento jamaicano, relatou que “diversas comunidades foram isoladas” e que, em algumas delas, “a maioria dos edifícios foi danificada”. Segundo ele, “o que estamos vendo acontecer no leste de Westmoreland é devastador”, em referência a uma área costeira no oeste da ilha.
Cinco corpos foram encontrados em St. Elizabeth, uma paróquia no sudoeste da Jamaica que ficou praticamente debaixo d’água. Entre as vítimas estavam 4 homens e 1 mulher, disse o superintendente Coleridge Minto, chefe da polícia local. “Tudo foi levado pelas águas da enchente, então a situação é, de fato, muito ruim”, afirmou, destacando “uma necessidade urgente de ajuda”.
A capital, Kingston, escapou dos piores danos e seu principal aeroporto estava programado para reabrir na quinta-feira. Todos os 25 mil turistas que estão na Jamaica foram localizados e poderão começar a deixar o país em poucos dias, afirmou Edmund Bartlett, ministro do Turismo da Jamaica, citado pelo New York Times.
A tempestade levou horas para atravessar a Jamaica, o que reduziu seus ventos para a categoria 3, para depois subir novamente para 4. Cerca de cinco horas após tocar o solo de Cuba, o furacão havia perdido força novamente, atingindo a categoria 2.
Em Cuba, pelo menos 241 comunidades permaneceram isoladas e sem comunicação após a passagem da tempestade pela província de Santiago, segundo informações preliminares da mídia estatal. As inundações e os deslizamentos decorrentes afetaram cerca de 140 mil moradores.
Em toda a região leste do país, as autoridades haviam retirado cerca de 735 mil pessoas antes da chegada do furacão, em uma das maiores operações preventivas já realizadas na ilha. O líder cubano, Miguel Díaz-Canel, alertou na terça-feira que o furacão causaria “danos significativos” e pediu que a população obedecesse às ordens de retirada.
A tempestade não atingiu diretamente o Haiti, o país mais populoso do Caribe, mas o castigou com dias de chuva. Segundo autoridades citadas pelo jornal New York Times, pelo menos 23 morreram no país, em grande parte devido às inundações em Petit-Goave, uma cidade costeira a 64 km a oeste da capital, onde um rio transbordou.
Pelo menos 10 crianças morreram e outras 12 pessoas estão desaparecidas, informou a agência de gestão de desastres do Haiti, acrescentando que mais de mil casas foram inundadas em todo o país e quase 12 mil pessoas foram levadas para abrigos de emergência.
Cientistas afirmam que os furacões estão se intensificando mais rapidamente e com maior frequência como resultado do aquecimento das águas oceânicas causado pelas emissões de gases de efeito estufa.
Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para questões do clima, indicam que eventos climáticos extremos mais do que triplicaram ao longo dos últimos 50 anos em consequência do aquecimento global. Outro órgão ligado à ONU, o IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança Climática), já afirmou em relatório que hoje é inequívoco que parte dessas mudanças foi causada pela ação humana.
Muitos líderes caribenhos têm pedido que nações ricas e altamente poluentes ofereçam reparações na forma de ajuda ou alívio da dívida de países da região.
O Departamento de Estado anunciou que os Estados Unidos enviarão equipes de resposta a desastres para os países caribenhos afetados pelo furacão Melissa. Em anos anteriores, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) liderava os esforços de resposta a desastres relacionados a furacões no Caribe. Mas o governo Trump fechou a agência no início deste ano.
O último fenômeno com força comparável foi o chamado “furacão do Dia do Trabalho”, que devastou o arquipélago de Florida Keys, nos Estados Unidos, em 1935, com ventos também próximos de 300 km/h. Desde o início dos registros oficiais da NOAA, em 1842, poucas tempestades atingiram níveis semelhantes de intensidade ao tocar terra.
Entre todas essas categorias, apenas o tufão Goni, que atingiu as Filipinas em 2020, provocou ventos mais fortes e pressão mais baixa do que Melissa próximo à costa, embora os dados da NOAA não confirmem se essa intensidade se manteve no momento do impacto.
Na série histórica, o recorde absoluto de ventos mais fortes pertence ao furacão Patricia, que se formou no Pacífico antes de atingir o México em outubro de 2015, com rajadas de 343 km/h, e com o tufão Nancy, em 1961, que registrou a mesma marca.