BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O gabinete do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reúne-se nesta quinta-feira (9) para decidir se aprova o acordo para encerrar a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, poucos dias após o conflito completar dois anos.
O premiê defendeu, pouco antes da reunião, que o presidente americano Donald Trump deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz, indicando o desfecho provavelmente positivo. O perfil do gabinete de Netanyahu publicou montagem em que Trump aparece com um grande colar com a medalha da láurea ao lado do primeiro-ministro. O americano é esperado em Jerusalém no próximo domingo (12).
Aprovado o acordo, um cessar-fogo no território palestino entra imediatamente em vigor, e o fim do conflito deve ser anunciado oficialmente por Tel Aviv e o grupo terrorista.
A partir disso, a expectativa é de que Exército de Israel inicie sua retirada de Gaza. Nas primeiras 24 horas após o anúncio, os militares devem recuar para uma primeira linha que possibilite ao grupo terrorista reunir todos os reféns.
De 48 horas a 72 horas depois do anúncio, todos os reféns vivos devem ser libertados pelo Hamas -não há clareza se os corpos dos reféns mortos também serão retornados no mesmo período. Durante esses três dias, a facção e Tel Aviv precisam negociar a lista de prisioneiros palestinos que serão libertados por Israel.
O Exército afirmou em comunicado que já iniciou “preparações operacionais” para a primeira fase do acordo. O chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, instruiu as tropas a permanecerem em suas posições enquanto o pacto era discutido, e novos bombardeios foram realizados em Gaza nesta quinta.
O trato não implica a retirada total das tropas de Israel de Gaza num primeiro momento. A segunda fase, ainda a ser debatida a partir das diretrizes do plano anunciado por Trump, prevê a retirada para uma segunda linha de recuo ainda dentro de Gaza apenas após o estabelecimento de uma força internacional de estabilização do território palestino.
Com o acordo eventualmente concluído, Israel ainda manterá uma zona tampão por todo o perímetro de Gaza, inclusive no chamado corredor Filadélfia, área no sul do território palestino que vai da costa até o território israelense.
Ou seja, na prática, a previsão é de que Tel Aviv mantenha o controle da fronteira de Gaza com o Egito, ainda que o plano do presidente americano proponha a entrada de ajuda humanitária no território palestino sem interferências.
Embora a proposta de 20 pontos anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, construída em conjunto com países árabes e muçulmanos, seja vantajosa para Tel Aviv, Netanyahu sofre pressão externa e interna para concordar com os termos negociados.
A começar pelo próprio presidente americano, que anunciou na noite desta quarta-feira (8) a conclusão do acordo, antes da deliberação oficial do governo israelense. Trump faz campanha para receber o Prêmio Nobel da Paz, agora endossada por Netanyahu, tem proximidade com países árabes mediadores do conflito e incluiu em seu plano para Gaza menções a um “caminho crível” para o estabelecimento de um Estado palestino. Ainda que nebulosa, a ideia é rejeitada pelo premiê israelense.
Internamente, Netanyahu tenta colher créditos pelo fim de uma guerra que ele próprio estendeu além do que a sociedade israelense parece suportar: poucos meses após o mega-ataque terrorista do Hamas, que deu início ao conflito, Netanyahu passou a ser duramente cobrado por críticos e familiares de reféns pela demora no retorno dos sequestrados -dos 251 levados pela facção palestina, 50 ainda estão em Gaza, e apenas 20 deles supostamente vivos.
A percepção generalizada entre opositores e críticos do prolongamento do conflito é de que o premiê o fez colocando interesses políticos pessoais acima da população. Antes do ataque do Hamas, Netanyahu era alvo de protestos massivos contra uma reforma judicial controversa que retirava poderes do Judiciário em meio a investigações criminais contra ele por corrupção.
Seu gabinete, o mais à direita desde a criação do Estado judeu, tem integrantes da extrema-direita nacionalista que sustentam a coalizão governista e são contrários a um acordo que termine a guerra sem a destruição completa do Hamas -Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) falam ainda abertamente na anexação dos territórios palestinos.
Por isso, o fim do conflito em termos que não agradam a ala mais extremista do governo pode se transformar em um novo desafio para que Netanyahu, que perde com o fim da guerra o principal elemento para desviar o holofote das críticas, mantenha-se no poder.