General revela plano da Otan para tomar Kaliningrado da Rússia

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Otan tem pronto um plano para tomar o exclave russo de Kaliningrado, um dos principais pontos de atrito entre a aliança militar ocidental e Moscou, em uma velocidade “que nunca se viu”, nas palavras do comandante das forças americanas na Europa.

O general Christopher Donahue descreveu as capacidades da aliança em uma conferência militar em Wiesbaden, na Alemanha, na quarta (16). O tema passou despercebido até que o relato de sua fala, feito pelo site Defense News, começou a reverberar entre parlamentares russos no dia seguinte.

Nesta sexta (18), foi a vez do Kremlin reagir. O porta-voz Dmitri Peskov considerou a fala de Donahue “hostil”, dentro de um ambiente de escalada de tensões entre Ocidente e Rússia devido ao impasse em torno da Guerra da Ucrânia.

Na véspera, o comandante militar da Otan, o também general americano Alexus Grynkewich, havia dito que a aliança tinha de estar equipada e pronta para uma guerra conjunta contra os russos e seus aliados chineses já em 2027.

A descrição de Donahue não é surpreendente no conteúdo, mas sim pelo fato de ter sido feita em público. Todas as Forças Armadas do mundo desenham planos e jogos de guerra, até as do Brasil, mas raramente eles vêm à luz, o que sinaliza os ânimos de lado a lado.

“Kaliningrado é cercada por países da Otan”, disse. “O domínio terrestre não está ficando menos importante, está ficando mais importante. Você pode tomar as bolhas A2AD [jargão militar para áreas defendidas por defesas antiaéreas e eletrônicas] pelo chão. Isso está acontecendo na Ucrânia”, disse.

Os EUA e seus aliados “têm a capacidade de tomar aquilo pelo chão [em Kaliningrado] em um espaço de tempo inédito, mais rapidamente do que nós jamais pudemos fazer”. “Nós já planejamos e já desenvolvemos isso. O problema de massa e momento que a Rússia apresenta para nós… desenvolvemos a capacidade de pará-lo”, disse.

O problema em questão é o temor da aliança de que, em um hipotético ataque direto à Otan, a Rússia use suas forças em Kaliningrado e na aliada Belarus para tomar o chamado corredor de Suwalki, a faixa de 65 km de terra que as separa e passa pela fronteira da Polônia e da Lituânia.

Os dois países da Otan que cercam o exclave, um território russo tomado da Alemanha pela União Soviética na Segunda Guerra que ficou para trás quando as fronteiras do império comunista ruiu em 1991.

Segundo Donahue, o plano é baseado na capacidade de uma plataforma de inteligência artificial chamada Mavem Smart System, da empresa Palantir. Ela identifica automaticamente alvos no mundo todo e aponta a melhor solução para destrui-los.

Em Kaliningrado, seriam atacados sistemas de defesa antiaérea S-400, de defesa costeira Bastion, campos de aviação, a base da Frota do Báltico e unidades de mísseis balísticos Iskander-M, que a Otan suspeita já estarem armados com ogivas nucleares capazes de atingir Berlim.

Donahue comanda as forças terrestres americanas na Europa e na África desde o fim do ano passado, quando caiu o veto à sua quarta estrela de general devido à investigação acerca da condução da retirada dos EUA do Afeganistão, em 2021. Ele foi o último militar estrangeiro a embarcar num avião para fugir de Cabul, retomada pelo Talibã, momento capturado numa famosa foto.

A animosidade ocorre após Moscou ter recebido, na segunda (14), um ultimato de Donald Trump para ou acertar uma trégua com a Ucrânia em 50 dias, ou receber novas sanções que podem atingir seus parceiros do Brics, como China, Índia e Brasil, compradores de petróleo e derivados do país de Vladimir Putin.

Peskov voltou a dizer nesta sexta que Moscou está pronta para abrir a terceira rodada de negociações diretas com Kiev, mas agora foi a vez do presidente Volodimir Zelenski dizer que talvez não esteja na hora. O ucraniano fez a declaração após conversar por uma hora ao telefone com o francês Emmanuel Macron, que lhe prometeu mais ajuda militar.

Também nesta sexta a União Europeia aprovou, após dobrar a resistência da compradora de gás russo Eslováquia, a 18ª rodada de sanções contra a Rússia.

Elas atingem principalmente o setor de energia, como uma refinaria da russa Rosneft na Índia e 105 navios da “frota fantasma” que transporta óleo sem a bandeira russa. Outras embarcações já haviam sido alvo antes, gerando o temor de que a medida afetasse o Brasil, que compra diesel de Moscou. Mas até agora o fornecimento segue.

Peskov disse que a ação demonstra a disposição europeia contra a paz, mas que a Rússia já se acostumou a viver com as sanções, em vigor desde que invadiu o vizinho em 2022.

Em solo, os russos anunciaram a tomada de mais vilas na região de Donetsk, no leste. Não houve ataques aéreos maciços nesta noite, mas um bombardeio contra na província de Dnipropetrovsk (centro-sul) matou 2 pessoas e feriu outras 11 nesta manhã de sexta.

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