BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Otimista com o crescimento dos negócios em países latinos, executivos da multinacional de logística alemã DHL não projetam, por ora, grande impacto das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump a diversos parceiros comerciais. É outra medida do governo americano que os preocupa: o fim da isenção de impostos para importações de baixo valor.
A isenção “de minimis” é aplicada pelos EUA atualmente e isenta de tributos pacotes de até US$ 800 (cerca de R$ 4.400 na cotação atual). No entanto, um decreto de 30 de julho assinado por Trump determina o fim do benefício a partir de 29 de agosto.
Mirele Mautschke, CEO da DHL Express Brasil (braço de entrega de última milha da empresa), disse à reportagem que os Estados Unidos são hoje o principal destino de envio de pequenas e médias empresas do segmento de ecommerce. Segundo ela, com a medida adotada pelo governo americano, o cenário pode mudar.
A executiva afirma que as empresas terão de diversificar as exportações, mirando outros países como destino das remessas.
“Para quem já tem o negócio estabelecido, a gente vai precisar ajudar com a nossa cadeia logística, com as ofertas que a gente tem, para eles verem para onde mais podem enviar os produtos e fugir um pouco dos Estados Unidos”, afirma.
Mautschke diz que a DHL Express não deve sentir os efeitos do tarifaço de Trump. Isso porque a empresa exporta, sobretudo, produtos manufaturados, mais do que commodities, explica. Carne e café são alguns dos itens sobretaxados pelo governo americano.
Neste mês, a DHL reuniu jornalistas em um evento em um dos edifícios da companhia em Bogotá para celebrar o crescimento na América Latina. De acordo com Andrew Williams, CEO da DHL Express para Américas, Brasil, México e Colômbia são os três países da região que fazem parte do GT20 grupo de nações onde a empresa enxerga maior oportunidade de crescimento acelerado. Em outros continentes, países como Índia, Tailândia, Polônia e Egito compõem o grupo monitorado pela companhia.
“Neste momento, os EUA e o Canadá enfrentam alguns desafios, como todos acompanham nas manchetes. Mas eu descreveria Brasil, Colômbia e México como faróis de esperança em relação ao comércio. Nos três mercados, estamos registrando crescimento de dois dígitos neste ano. Esses mercados são a razão de nossos investimentos pesados, com confiança real na resiliência do comércio global”, disse Williams durante o evento.
No segundo trimestre deste ano, o Grupo DHL registrou um lucro operacional de 1,4 bilhão de euros, um crescimento de 5,7% em relação ao mesmo período de 2024. O lucro líquido foi de 815 milhões de euros, um aumento de 9,6%. Na mesma base comparativa, a receita caiu 3,9%, para 19,8 bilhões de euros.
Tim Robertson, CEO para as Américas da DHL Global Forwarding (divisão da empresa que fornece serviços aéreos, marítimos e rodoviários para indústrias), acredita que, desde a pandemia, o comércio global está sendo remodelado.
Segundo o executivo, a pandemia gerou um choque disruptivo, tanto do lado da oferta quanto do lado da demanda, o que obrigou as empresas a repensarem como é possível diversificar as cadeias globais de suprimentos.
Robertson afirma ainda que o fim da isenção de “de minimis” impactará o comércio entre Brasil e Estados Unidos. “Uma parte relevante dos negócios que movimentamos hoje se enquadra nesse formato.”
Augustín Croche, CEO da DHL Supply Chain América Latina (braço da companhia que provê soluções como armazenagem, transporte, estoque, embalagem e montagem), demonstra empolgação com a economia brasileira. Ele afirma que o país é o principal mercado da empresa na região.
Croche afirma que a Selic (taxa básica de juros) em patamar elevado não afeta os negócios, porque a empresa se financia com recursos próprios, explica.
O tarifaço americano também não será um problema, segundo o executivo. “Como supply chain, a gente atende o mercado doméstico, de armazenagem e distribuição doméstica.”
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O repórter viajou a convite da DHL
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RAIO-X | GRUPO DHL
Fundação: 1969
Receita: 19,8 bilhões de euros (2º trimestre)
Lucro operacional: 1,4 bilhão de euros (2º trimestre)
Lucro líquido: 815 milhões de euros (2º trimestre)
Número de funcionários: 600 mil (total em 220 países)
Principais concorrentes: FedEx, UPS (United Parcel Service), TNT Express e DB Schenker