Governo Netanyahu enfrenta nova pressão após saída de partido ultraortodoxo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O partido Judaísmo Unido da Torá (UTJ, na sigla em inglês) deixou a coalizão do governo do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, em meio a uma disputa sobre o alistamento militar obrigatório para os judeus ultraortodoxos.

Seis membros da sigla entregaram durante a madrugada desta terça-feira (14) cartas de renúncias aos cargos que ocupavam em comissões parlamentares e em ministérios. O presidente do UTJ, Yitzhak Goldknopf, já havia renunciado há um mês.

Com a saída, Netanyahu ficará com maioria mínima de 61 assentos no Knesset, como o Parlamento israelense é conhecido, que tem um total de 120 cadeiras. O Shas, outro partido ultraortodoxo e que ocupa 11 cadeiras, pode seguir o mesmo caminho.

A coalizão de Netanyahu, cujo governo é o mais à direita da história de Israel, enfrenta crises internas há meses. No mês passado, os ultraortodoxos ameaçaram votar a favor de uma proposta preliminar para dissolver o Knesset. Caso fosse aprovado, o texto seria um primeiro passo para a realização de eleições antecipadas.

No fim, o projeto, apresentado pela oposição, foi rejeitado após receber 61 votos contrários e 53 favoráveis.

A situação expôs divisões profundas na coalizão liderada por Netanyahu, que está sob pressão. O gatilho foi a tramitação de um projeto de lei que pretende acabar com a isenção do alistamento militar obrigatório para os judeus ultraortodoxos.

O serviço militar é uma obrigação para a maioria dos cidadãos judeus de Israel. Mas os ultraortodoxos, que representam 13% da população, tradicionalmente recebem isenções se estiverem estudando em seminários religiosos.

Com a guerra em Gaza ainda em curso, esse tratamento diferenciado ficou ainda mais polêmico, já que o país registra sua maior mobilização militar desde 1973.

Os parlamentares do UTJ informaram que o afastamento entra em vigor após 48 horas, dando a Netanyahu dois dias para tentar resolver a crise.

O Parlamento entra em recesso no fim de julho, o que daria ao primeiro-ministro mais três meses para buscar uma solução antes que a perda da maioria represente uma ameaça ainda mais concreta ao seu governo.

Israel teve cinco eleições em menos de quatro anos, o que se explica, em parte, pela dificuldade que principalmente o Likud (o partido de Netanyahu, entre os mais votados em todas elas) enfrentou para formar uma coalizão que sustentasse um governo no sistema parlamentarista. Na última delas, em novembro de 2022, o atual premiê só conseguiu isso ao forjar a aliança mais à direita da história do país.

Netanyahu também está sob pressão devido às negociações de cessar-fogo em andamento no Qatar. O acordo prevê uma trégua de 60 dias na qual o grupo terrorista Hamas libertaria reféns israelenses vivos e corpos de sequestrados no ataque de 7 de outubro de 2023. Em troca, Tel Aviv determinaria a soltura de palestinos detidos em Israel.

O Hamas, no entanto, exige garantias para o cessar-fogo, incluindo a interrupção dos combates durante as negociações e o retorno do sistema de distribuição de ajuda administrado pela ONU.

Os ministros da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e das Finanças, Bezalel Smotrich, querem que Israel continue a ofensiva militar, mas Netanyahu provavelmente ainda teria votos suficientes para aprovar um cessar-fogo sem o apoio das pastas —os dois ministros são os mais extremistas da coalizão.

Bibi, como o premiê é conhecido, tem enfrentado críticas por não ter conseguido impedir as ações terroristas do Hamas em outubro de 2023 e está sob pressão de manifestantes e familiares de reféns ainda mantidos em Gaza para encerrar a guerra e garantir a libertação dos israelenses.

Após os ataques terroristas do Hamas em outubro de 2023, o governo israelense convocou 360 mil reservistas, e muitos deles vêm cumprindo repetidas rodadas de serviço que somam centenas de dias. O desgaste é tão grande que alguns estão se recusando a continuar na frente de batalha, e o Exército recorreu até às redes sociais para aumentar o contingente.

Historicamente, a isenção aos religiosos remonta à fundação de Israel, em 1948, quando grupos foram liberados do serviço como forma de preservar o estudo religioso após a devastação do Holocausto. No entanto, com o aumento populacional dos ultraortodoxos e com o fortalecimento político dos partidos religiosos, o número de isentos explodiu.

A Suprema Corte israelense declarou as isenções ilegais em 2017, mas o governo, com Netanyahu à frente, vem prorrogando a situação com sucessivos adiamentos. Nos últimos meses, o premiê evitou comentar o tema.

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