SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia espanhola prendeu oito pessoas após três noites de confrontos entre grupos de extrema-direita e imigrantes norte-africanos na cidade de Torre Pacheco, no sul da Espanha. A informação foi confirmada pelo governo nesta segunda-feira (14).
O estopim para os distúrbios foi a agressão a um idoso no fim da semana passada. Ele ficou ferido e se recupera em casa. Segundo o Ministério do Interior, dois dos detidos estariam envolvidos no crime, embora o principal autor continue foragido.
A identidade dos suspeitos não foi divulgada pelas autoridades, mas o homem agredido afirmou que eles seriam de origem magrebina. Os confrontos envolveram moradores de um bairro majoritariamente habitado por imigrantes magrebinos e grupos de extrema direita que chegaram à cidade após convocações nas redes sociais.
Na sexta-feira (11), uma manifestação foi realizada, e grupos de extrema direita foram ao ato e entoaram slogans anti-migração. Um deles, chamado “Depórtenlos ya” (deportem-os já), incentivou no Telegram uma “caçada” contra pessoas de origem norte-africana.
Mais de 20 veículos foram interceptados ao tentar entrar na cidade pela polícia. Algumas das pessoas nos carros carregavam bastões e cassetetes retráteis, afirmou o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, em entrevista à rádio Cadena Ser.
Na noite de domingo (13), houve confronto entre a polícia e membros de grupos de direita, que teriam jogado garrafas de vidro e outros objetos contra os agentes. A polícia usou balas de borracha para dispersar os manifestantes.
Além dos dois detidos acusados de agredir o homem idoso, cinco espanhóis e um cidadão de origem norte-africana foram presos por crimes como agressão, desordem pública, incitação ao ódio e danos ao patrimônio.
Torre Pacheco tem cerca de 40 mil habitantes, e os imigrantes muitos de segunda geração representam aproximadamente um terço da população. A cidade e seus arredores são conhecidos pela forte presença de trabalhadores estrangeiros no setor agrícola, um dos pilares da economia local.
Grande-Marlaska culpou a retórica anti-imigração de partidos como o Vox, de ultradireita, pela escalada da violência, destacando o papel das redes sociais na organização dos atos violentos.
“Há pessoas tentando resolver a questão da agressão por conta própria. Não queremos esse tipo de atitude”, afirmou o prefeito Pedro Ángel Roca, em entrevista à emissora TVE.
A Associação Marroquina para a Integração dos Imigrantes afirmou em comunicado que “as ameaças, os ataques e o medo nas ruas precisam acabar” e exigiu “proteção real para as pessoas afetadas”.
Abdelali, um migrante norte-africano que vive em Torre Pacheco e preferiu não revelar o sobrenome, relatou temer circular de scooter pelas ruas da cidade, com medo de ser atingido. “Queremos paz, só isso.”, disse ele à agência de notícias Reuters.
Este não é o primeiro episódio de tensão étnica na região. Em 2000, protestos violentos irromperam na cidade de El Ejido, também no sul da Espanha, após a morte de três espanhóis por imigrantes marroquinos.