Guerra em Gaza e ataque em Jerusalém ofuscam abertura da Assembleia-Geral da ONU

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A Assembleia-Geral das Nações Unidas começa oficialmente nesta terça-feira (9) com foco no conflito israelo-palestino, persistente e indissociável de toda a história da organização mundial de 80 anos, completados neste ano.

Embora o debate em que tradicionalmente falam os líderes mundiais se inicie apenas no final do mês, no dia 23, o anúncio prévio de países como Reino Unido, França e Canadá de que vão reconhecer a Palestina durante a reunião global já coloca a questão no cerne do encontro e de declarações de chefes de Estado.

Os anúncios se juntam ainda à situação dramática da guerra na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas, às vésperas de completar dois anos, e ao atentado desta segunda-feira (8) no trevo de Ramot, em Jerusalém, para ofuscar outras agendas importantes, como a da própria reforma da ONU em tempos de cortes orçamentários a agências internacionais, em particular vindos dos Estados Unidos sob Donald Trump.

Não há, no entanto, quaisquer expectativas de avanços práticos na Assembleia-Geral, como seria a admissão do Estado da Palestina como membro pleno da ONU, ou mesmo de negociações que mudem o rumo do conflito no território palestino.

Além disso, movimentos da política israelense indicam, pelo contrário, um aprofundamento do controle de Israel da Cisjordânia ocupada.

A imprensa do país relata que o gabinete de Binyamin Netanyahu pondera formas de reagir em caso de confirmação do aumento do reconhecimento da Palestina na ONU. O governo cogitaria, inclusive, anexar partes do território que ocupa desde 1967, o que seria inadmissível para parceiros árabes recentes, como os Emirados Árabes Unidos, e outros que ensaiavam se aproximar de Israel antes do ataque do Hamas em 2023.

O Exército israelense segue avançando sobre a Cidade de Gaza, o maior centro urbano do território conflagrado, enquanto o governo de Netanyahu não responde à última rodada de negociação para um cessar-fogo —o Hamas afirma que já aceitou a mais recente proposta e aguarda um posicionamento de Tel Aviv.

Apesar da pressão de manifestações massivas em Israel pelo fim do conflito e retorno dos reféns, a já baixa disposição de Netanyahu de chegar a um acordo diminuiu nesta segunda-feira, após o atentado no trevo de Ramot, em Jerusalém. Ao menos 6 pessoas morreram e 11 ficaram feridas após 2 palestinos abrirem fogo contra um ponto de ônibus, que fica a poucos metros da chamada Linha Verde, fronteira delimitada por armistícios de 1949 e reconhecida pela maioria da comunidade internacional como o limite entre Israel e o território palestino da Cisjordânia.

O premiê israelense visitou o local logo após o ataque e disse que o país está lutando uma “poderosa guerra contra o terror”. Já o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que “um poderoso furacão atingirá os céus da Cidade de Gaza”. O Hamas elogiou o ataque, mas não reivindicou a autoria.

Para o governo mais à direita da história de Israel, qualquer desdobramento que aponte para a criação de um Estado palestino é um problema por si só. Nas palavras do próprio Netanyahu, em julho:

“Vamos trabalhar pela paz com nossos vizinhos palestinos que não querem nos destruir, uma paz em que nossa segurança continue nas nossas mãos. Vão dizer: ‘isso não é um Estado completo.’ Não nos importamos”, disse o premiê, acrescentando que ataques como o 7 de Outubro nunca mais poderiam acontecer.

A Autoridade Nacional Palestina (ANP), que administra a Cisjordânia, emitiu uma nota afirmando que rejeita e condena “qualquer dano a civis palestinos e israelenses, e rejeita todas as formas de violência, independentemente de sua origem”. O comunicado acrescenta que a concretização dos direitos do povo palestino em um Estado independente “é a única garantia para romper o ciclo de violência na região.”

A declaração chama a atenção pois a ANP, que representa a Palestina na ONU como Estado observador, tem evitado nos últimos anos comentar ataques realizados por palestinos, e reflete a compreensão da entidade sobre o movimento inercial favorável a um Estado palestino na arena global.

Na prática, porém, o ponteiro só deve se mover de um ponto de vista estritamente discursivo durante a Assembleia-Geral da ONU neste mês. Em particular, em razão da posição solidamente pró-Israel dos EUA.

Washington faz a mediação da negociação por um cessar-fogo entre Israel e Hamas e busca eventual acordo de paz, ainda que desequilibrado —uma obsessão do presidente Donald Trump demonstrada pela sua atuação em conflitos de menor escala e pela até aqui fracassada iniciativa para acabar com a Guerra da Ucrânia emulando termos de Vladimir Putin.

Ao mesmo tempo, a Casa Branca é o fiel da balança de qualquer decisão prática sobre o tema no Conselho de Segurança da ONU, órgão decisório máximo das Nações Unidas em que Washington costuma exercer seu poder de veto em favor de Tel Aviv. Isso inclui eventual aprovação de um Estado da Palestina como membro da organização.

Pesa ainda para o foco no conflito durante a reunião global deste mês o fato de que o governo Trump cancelou vistos de autoridades da ANP para o evento —a sede da ONU é em Nova York. O presidente americano ameaça com a mesma medida autoridades de outros países com os quais tem rusgas recentes, incluindo o Brasil.

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