Hamas aceita parte do plano de Trump para Gaza e diz estar pronto para negociar

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA

BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Hamas disse nesta sexta-feira (3) que concorda com a libertação de todos os reféns israelenses e abrirá mão de governar a Faixa de Gaza sob os termos do plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o fim da guerra com Israel. O grupo terrorista assinalou, contudo, que está pronto para começar negociações, ainda com mediadores, para discutir detalhes de implementação.

Em comunicado por vídeo horas depois, Trump disse: “Obrigado aos países que ajudaram imensamente, todos estavam unificados para que essa guerra terminasse e de ver paz no Oriente Médio, e agora estamos muito próximos [dessa paz]. Obrigado, e todos serão tratados de forma justa”.

Antes, Trump havia respondido positivamente ao comunicado do Hamas, dizendo em sua rede social acreditar que o grupo “está pronto para uma paz duradoura”.

“Israel deve parar imediatamente os bombardeios contra Gaza para que possamos retirar os reféns de forma rápida e segura! Por enquanto, é muito perigoso fazer isso”, escreveu. “Estamos em discussões sobre os detalhes que serão acordados. Isso não é só sobre Gaza, é sobre a tão buscada PAZ no Oriente Médio.”

O governo israelense ainda não se pronunciou publicamente. O líder da oposição, Yair Lapid, ofereceu ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu o apoio parlamentar necessário para que o acordo possa ser fechado sem que os membros extremistas do governo possam derrubá-lo -Netanyahu se mantém no poder graças a um frágil equilíbrio de uma coalizão que contém partidos pequenos de extrema direita.

Dois dos líderes desses partidos, os extremistas Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, já disseram que aceitar o plano de paz proposto por Trump seria como assinar um acordo de rendição e reconhecer a derrota de Israel no campo de batalha. Dessa forma, o apoio de Lapid no Knesset, o Parlamento israelense, pode ser essencial para que Netanyahu possa encerrar a guerra -se houver vontade política do próprio premiê para tanto.

O Hamas, por sua vez, estava sob intensa pressão de países árabes, incluindo Qatar, Egito, Jordânia e Arábia Saudita, e dos EUA para responder ao plano de paz apresentado por Trump na última segunda (29). Nessa sexta, o presidente americano havia repetido o ultimato que fez durante a semana ao dizer que um “inferno total” seria lançado sobre o grupo terrorista caso não houvesse resposta até o domingo (5).

À rede qatari Al Jazeera, um membro da liderança do Hamas que não quis se identificar disse que não seria possível aceitar a proposta de Trump sem mais negociações e que a libertação dos reféns provavelmente demoraria dias. Os israelenses sequestrados pelo grupo terrorista há quase dois anos estão espalhados pela Faixa de Gaza e em poder de outros grupos armados aliados do Hamas.

O plano de Trump prevê que a libertação aconteça em 72 horas, o que o membro do Hamas ouvido pela Al Jazeera disse ser pouco realista. As famílias dos reféns voltaram a pedir nessa sexta que Netanyahu trabalhe para fechar um acordo que traga de volta os 20 que ainda estariam vivos e os 28 corpos dos restantes.

O tema dos reféns é um dos poucos que possuem diretrizes claras na proposta americana. Depois, o texto diz que, assim que todos os reféns forem soltos, Tel Aviv deverá libertar 250 palestinos prisioneiros condenados à prisão perpétua, além de 1.700 moradores de Gaza detidos após o ataque de 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e menores de idade detidos nesse contexto.

O Hamas concordou também com uma das exigências vistas como mais trabalhosas do plano: aceitou abrir mão do poder na Faixa de Gaza e entregá-lo a um governo tecnocrático, como queria Trump. Entretanto, o grupo terrorista afirma querer participar da “estrutura nacional palestina” que ajudará a formar esse governo.

Ainda não está claro de que forma essa participação se daria, e o Hamas afirma estar disposto a mais negociações para que se chegue a um acordo. Ao mencionar uma participação, o grupo parece buscar uma forma de evitar uma rendição completa, ao mesmo tempo em que arrisca ver o plano rejeitado por Israel -Netanyahu disse repetidas vezes que não permitiria que o Hamas continuasse no poder de forma alguma.

“Outras questões mencionadas na proposta do presidente Trump sobre o futuro de Gaza e os direitos legítimos do povo palestino estão conectadas a uma posição nacional unificada e leis internacionais e resoluções relevantes”, disse o Hamas em comunicado. O plano de Trump previa, por exemplo, que a administração tecnocrática de Gaza seria palestina, mas sua supervisão seria americana e árabe, com o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair à sua frente.

Especialistas já alertaram que a possibilidade de tutela dos palestinos por uma entidade multilateral não é respaldada pelo direito internacional.

No comunicado de sexta, o Hamas não se posicionou a respeito de outra exigência feita por Trump e por Israel: a de que entregue suas armas a uma força policial palestina independente.

Um membro do Hamas disse à Al Jazeera que o grupo está disposto a negociar também essa questão com os EUA e Israel por meio dos mediadores Qatar e Egito. Outra autoridade da facção afirmou à agência Reuters que o Hamas não vai se desarmar até o fim da ocupação de Israel -termo que deixa vago se isso se refere à retirada total e parcial de Israel em Gaza ou de todos os territórios palestinos, o que incluiria a Cisjordânia.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que governa parcialmente a Cisjordânia, disse que a Palestina está em um momento decisivo e reafirmou que pretende realizar eleições um ano após eventual cessar-fogo no conflito. Abbas afirmou ainda que um esboço de Constituição temporária está em produção para servir de base para transição a um Estado palestino.

O Egito disse que trabalhará “com todos os esforços” junto a países árabes, europeus e os EUA para garantir um cessar-fogo permanente em Gaza, e o Qatar disse já ter iniciado trabalho de coordenação para que “a guerra possa terminar”. O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, disse estar esperançoso com a resposta do Hamas e esperar que todas as partes trabalhem para encerrar o conflito.

Na proposta de Trump, há uma breve menção a um Estado palestino, que aparece apenas como consequência do que o texto chama de programa de reformas da Autoridade Palestina e da própria reconstrução de Gaza, deixando, portanto, a questão em aberto.

Nas últimas semanas, como forma de tentar pressionar Israel, aliados como França, Reino Unido, Canadá e Austrália reconheceram unilateralmente a Palestina como Estado.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta sexta que o compromisso do Hamas de devolver os reféns “deve ser concretizado sem demora” para que possa haver “progresso decisivo em direção à paz”. O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou em nota que “depois de dois anos, essa é a melhor chance” para o fim do conflito.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo