São Paulo, 15 de agosto de 2025 – A menor aversão ao risco global beneficiou o mercado financeirona semana que passou. Com exceção do índice de preços ao consumidor, os indicadores americanosdivulgados recentemente, principalmente o IPC, reforçaram o sentimento – quase unânime – de que osjuros americanos deverão ser cortados por três vezes neste ano, iniciando em setembro.
A próxima semana não reserva balanços – a temporada se encerrou e com saldo positivo – e tem umaagenda de indicadores domésticos esvaziada, com destaque para o IBC-Br de junho, logo na segunda.Os investidores deverão seguir centrados nos eventos externos e no avanço da pauta econômica noCongresso. No âmbito geopolítico, merecem atenções as negociações de paz na Ucrânia e asconversas comerciais entre Estados Unidos e seus mais relevantes parceiros.
Nos Estados Unidos, para a semana que se inicia, os analistas aguardam a divulgação da ata doúltimo encontro do Federal Reserve. Outro evento importante é o simpósio em Jackson Hole,organizado pelo Fed Kansas, que recebe autoridades de bancos centrais, e terá a apresentação dopresidente da instituição, Jerome Powell. No ano anterior, foi neste evento que Powell sinalizou oinício do período de cortes de juros.
No Brasil, a semana foi marcada pela confirmação do desaquecimento da economia e inflação baixodo esperado, cenário projetado pelo Banco Central para iniciar o ciclo de cortes na Selic. A semanatermina com o sentimento de que as reduções poderão iniciar ainda em dezembro. O IPCA de julhoveio abaixo do esperado e os números do varejo recuaram – ao contrário do projetado. Como sinal dealerta, fica o crescimento do setor de serviços, contrariando as expectativas.
Após o anúncio no dia 13, o mercado fica de olho na tramitação do plano de contingência dogoverno federal para enfrentar o tarifaço de Donald Trump e sua recepção pelos setores maisbeneficiados. Politicamente, o governo deverá manter o tom de confronto, faturando, ainda, em cimada melhora da popularidade. Na semana que passou, não houve recuo e a tensão persistiu, tanto dolado americano como do Brasil.
Às 13h40 da sexta, 15, o Ibovespa marcava 136.197 pontos, com uma valorização de 0,21% na semana.O dólar comercial estava cotado a R$ 5,3919, com uma queda semanal de 0,81%. As taxas DIs para 2029abriram a semana remunerando 13,300% ao ano e estão encaminhando o fechamento a 13,075%.
A semana reserva poucos indicadores domésticos e todos serão divulgados na segunda-feira. Às 8h,a FGV divulga o IGP-10 de agosto. Às 8h25min, o Banco Central libera o boletim Focus, com asprojeções do mercado para os principais indicadores da economia brasileira. Um pouco mais tarde,às 9h, o mercado ficarão conhecendo o IBC-Br de junho, prévia do Banco Central para o PIB dopaís.
Política
As atenções do mercado, no âmbito político, estão voltadas para a tramitação da MedidaProvisória do Plano de Contingência anunciado nesta semana pelo governo federal. Envolvendocréditos de R$ 30 bilhões, o plano, de forma geral, agradou o empresariado, que ainda avalia odetalhamento das ações. O mercado calcula o impacto fiscal das medidas e aguarda a tramitação noCongresso.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, na quarta-feira (13/8), o Plano Brasil Soberano,conjunto inicial de medidas para mitigar os impactos econômicos da elevação unilateral, em até50%, das tarifas de importação sobre produtos brasileiros anunciadas pelo governo norte-americanono último dia 30 de julho.
O plano é composto por ações separadas em três eixos: fortalecimento do setor produtivoproteção aos trabalhadores; e diplomacia comercial e multilateralismo. As ações buscam protegerexportadores brasileiros, preservar empregos, incentivar investimentos em setores estratégicos eassegurar a continuidade do desenvolvimento econômico do país.
As medidas direcionam R$ 30 bilhões do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para crédito comtaxas acessíveis, além de ampliar as linhas de financiamento às exportações; prorrogar asuspensão de tributos para empresas exportadoras; aumentar o percentual de restituição detributos federais, via Reintegra; e facilitar a compra de gêneros alimentícios por órgãospúblicos.
A cerimônia de lançamento do plano foi marcada pelo tom duro nas falas de Lula e de seusministros. Houve pouco avanço nas negociações comerciais e a tensão entre Brasil e EstadosUnidos ganhou novos capítulos. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lamentou o cancelamento doencontrou marcado com o secretário do Tesouro americanos, Scott Bessent, voltando a culpar EduardoBolsonaro e o discurso da extrema direita.
Por enquanto, a postura do governo Lula no enfrentamento da crise diplomática não deve mudar. Otom duro vem ajudando Lula a recuperar a popularidade e, neste momento, o governo retoma oprotagonismo na corrida eleitoral. A direita recuou estrategicamente e avalia até quando Lula vaicolher frutos desse enfrentamento.
Lula consolidou a estratégia de conversar com os chefes de estado dos países que compõem o Brics,movimento iniciado na semana passada. No final de semana passado, discutiu a questão das tarifascom o russo Putin e ao longo da semana também telefonou para o chinês Xi. Voltou a falar em moedacomum dos Brics e disse que o Brasil não irá se curvar frente às exigências norte-americanas.Donald Trump classificou o Brasil como um mau parceiro comercial e Lula rebateu a acusação. Aaposta neste momento é de confronto e aproximação com os Brics para enfrentar o tarifaço.
Internacional
A semana ficou na expectativa da reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin, que foi marcada paraacontecer nesta sexta-feira no estado norte-americano do Alasca. A pauta principal é algum acordode cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia, mas sem muitas esperanças de que isso possa seratingido. Putin não cede nas exigências de reconhecimento do território ocupado, neutralidademilitar da Ucrânia e da não aprovação da sua inserção na OTAN.
Trump se reuniu com líderes europeus antes da reunião com Putin, e assegurou que quem tem quedecidir sobre o território ucraniano são os seus habitantes. Porém, há um grande grau deincerteza sobre o resultado deste encontro a própria Casa Branca havia declarado que essa reuniãoera um ‘exercício de escuta’ para o presidente dos EUA.
Mas o que chamou a atenção mesmo foi a divulgação do índice de preços ao produtor dos EUA, quesubiu para 0,9% em junho, bem acima das previsões de alta de 0,2%. Os analistas apontam que astarifas já estão fazendo efeito no preço dos produtos, e por enquanto vêm sendo absorvidas pelaindústria. Mas acreditam que, cedo ou tarde, ela será repassada ao consumidor.
Mais dados econômicos se juntam: as vendas no varejo dos EUA subiram 0,5% em julho em base mensalos preços de importação subiram 0,4% e a produção industrial caiu 0,1%. Na China, as vendas novarejo subiram 3,7% em base anual, abaixo da expectativa de 4,6%, o que traz preocupação sobre oconsumo interno chinês em vista das tensões comerciais entre EUA e China.
Para a semana que se inicia, os analistas aguardam a divulgação do índice de confiança dasconstrutoras, construção de novas residências, os estoques de petróleo, a ata do FED, as vendasde casas usadas, o índice do Fed Filadélfia de atividade industrial, e os pedidos deseguro-desemprego.
A zona do euro publica o saldo da balança comercial e da conta corrente, a leitura revisada doíndice de preços ao consumidor, e a confiança do consumidor. A Alemanha divulga o índice depreços ao produtor e a leitura revisada do PIB do segundo trimestre. O Reino Unido divulga oíndice de preços ao consumidor e as vendas no varejo. O Japão vai publicar o saldo da balançacomercial e o índice de preços ao consumidor. A China terá a decisão de política monetária doPBOC.
Teremos também as leituras preliminares dos PMIs dos setores industrial e de serviços de agostodos EUA, Japão, zona do euro, Alemanha e Reino Unido. Outro evento importante é o simpósio emJackson Hole, organizado pelo Fed Kansas, que recebe autoridades de bancos centrais, e terá aapresentação do presidente da instituição, Jerome Powell. No ano anterior, foi neste evento quePowell sinalizou o início do período de cortes de juros. No final da temporada de balanços,teremos os resultados de duas empresas, da Home Depot e do Walmart.
Empresas
Com o fim da temporada de balanços, os investidores agora devem monitorar o andamento dassinalizações das companhias nas reuniões públicas e informes divulgados nas apresentações dosresultados. Um exemplo é o Banco do Brasil, que reportou números abaixo das expectativas na noitede quinta-feira (14) e, na manhã de hoje, disse na teleconferência, que 2025 será um ano deajustes e revisão de processos até que consiga entregar o quarto ou quinto melhor resultado de suahistória.
O mercado também segue atento aos próximos passos da avaliação ambiental do Ibama (InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em relação à simulação deemergência que a Petrobras irá realizar na Foz do Amazonas, também conhecida como “AvaliaçãoPré-Operacional (APO)”. A APO é o último teste para liberação da perfuração do poço depetróleo no trecho da Margem Equatorial localizado na costa do Amapá. As partes chegaram a umacordo em reunião realizada na última terça-feira (12). A expectativa é que o Ibama anuncie adata da APO nos próximos dias. Ainda há detalhes a serem alinhados antes de uma definição finaldevido ao difícil acesso à região, o que torna a operação complexa para o deslocamento deequipes e equipamentos.
Na quarta (13), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), soltou uma notacomemorando o acordo entre o Ibama e a Petrobras na véspera. Em postagem nas redes sociais,Alcolumbre disse: Recebo com grande alegria a notícia do avanço nas etapas para a pesquisaexploratória de petróleo na Margem Equatorial. Foi definida a realização de um exercício desimulação, com duração estimada de três a quatro dias, para testar a capacidade de resposta dasequipes. A previsão é que ocorra no próximo dia 24, a depender da avaliação técnica do Ibama eda Petrobras. Essa conquista é um marco para o Amapá e para o Brasil, resultado do trabalhoconjunto de vários atores que defendem um futuro energético sustentável. Parabenizo e agradeço atodos os envolvidos!
BANCO DO BRASIL
O lucro líquido do Banco do Brasil diminuiu 60,2% no segundo trimestre, para R$ 3,78 bilhões,enquanto o resultado ajustado – que remove os efeitos de ganhos oudespesas não recorrentes – ficou positivo em R$ 3,04 bilhões, caindo 66,1% em relação a um anoantes. No primeiro semestre de 2025, o banco teve lucro líquido ajustado de R$ 11,2 bilhões econtábil de R$ 9,8 bilhões, quedas de 40,7% e 44,7%, na comparação anual, respectivamente.
A carteira de crédito do Banco do Brasil aumentou 11,2%, para R$ 1,3 trilhão no 2T25. O valorconsidera carteira de crédito classificada adicionada das operações com títulos e valoresmobiliários privados (TVM privados) e das garantias prestadas. A carteira PF avançou 8,0% para R$342,6 milhões, a PJ aumentou 14,7% para R$ 467,9 milhões e a Agro cresceu 8,0% para R$ 404,9milhões.
A instituição também anunciou uma deliberação do seu conselho de administração pela revisãodo payout para o exercício 2025, fixando-o em 30%, via juros sobre o capital próprio (JCP) e/oudividendos. A decisão foi tomada com base nos balizadores constantes na Política, em especial, osresultados do banco, a necessidade de caixa, a declaração de apetite e tolerância a riscos, suasmetas e projeções de capital, perspectivas dos mercados de atuação presentes e potenciais, amanutenção e expansão da capacidade operacional. Considerando a necessidade de convergência parao novo payout, o BB disse que os pagamentos de juros sobre capital próprio referente ao primeirosemestre de 2025 já foram realizados integralmente em 21 de março e 12 de junho de 2025.
O cronograma de pagamentos previsto para o segundo semestre de 2025 permanece inalterado, conformedisposto no Fato Relevante de 19 de fevereiro.
O BB também revisou seu guidance para 2025 para Carteira de Crédito e a retomada dos intervalospara as linhas de Custo do Crédito, Margem Financeira Bruta e Lucro Líquido Ajustado, a partir deuma reavaliação dos impactos do cenário atual e em linha com as melhores expectativas correntesda administração para 2025. Assim, a meta para Carteira de Crédito, que tinha a previsão devariação no intervalo entre 5,5% a 9,5% foi revisada para uma variação entre 3,0% a 6,0%. Nosemestre, o indicador cresceu 10,3%.
A projeção para carteira Pessoas Físicas passou de uma variação 7,0% a 11,0% para 7,0% a 10,0%,tendo variado 8,0% no 1S25; Empresas mudou de variação entre 4,0% a 8,0%, para 0 a 3,0% e realizou15,2%; Agronegócios, reduziu de variação de 5,0% a 9,0%, para 3,0% a 6,0% e realizou 8,0%; acarteira Sustentável mudou para variação de 7,0% a 11,0%, para 7,0% a 10,0%, com 10,6% realizado.
Os indicadores Margem Financeira Bruta, Custo do Crédito e Lucro Líquido Ajustado, passaram de “Emrevisão” para as seguintes projeções (em R$ bilhões): 102,0 a 105,0; 53,0 a 56,0 e 11,2 21,0 a25,0.
Foram mantidas as previsões para “Receitas de Prestação de Serviços” e “DespesasAdministrativas” (ambas em R$ bilhões), de 34,5 a 36,5 e 38,5 a 40,0.
Cynara Escobar, Dylan Della Pasqua, e Vanessa Zampronho / Safras News
Copyright 2025 – Grupo CMA