Imigrantes na Europa e América do Norte ganham até 30% menos do que nativos, diz estudo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As políticas anti-imigratórias sistemáticas —lê-se ações de repressão a imigrantes como as de Donald Trump, nos Estados Unidos— compõem o principal fator que ameaça esgarçar ainda mais a diferença salarial entre estrangeiros e nativos em países de alta renda da Europa e da América do Norte.

Um estudo publicado pela revista Nature concluiu que, para além de discriminações racistas e xenofóbicas às quais imigrantes podem ser diretamente submetidos quando empregados no país de destino, o que mais influencia a disparidade salarial resultante em todo o sistema é outro fator: o acesso desigual a empregos de maior remuneração.

Na prática, ambas as questões parecem tratar do mesmo aspecto. O levantamento liderado pelo pesquisador Are Skeie Hermansen, da Universidade de Estocolmo, analisou dados de mais de 13,5 milhões de trabalhadores e aponta que somente um quarto da diferença total nos rendimentos dessas pessoas é causada por preconceito direto —isto é, quando os imigrantes recebem menos mesmo que realizem a mesma tarefa que nativos.

Do lado mais pesado da balança, estão as oportunidades efetivas de emprego a pessoas imigrantes que, na média, recebem remunerações menores. É esse desequilíbrio nos ganhos possíveis o responsável por 75% da disparidade de renda ante nativos.

Em países como Espanha e Canadá, pessoas imigrantes recebem, em média, 29,3% e 27,5% menos que cidadãos nascidos nesses locais. Quando comparados somente àqueles empregados na mesma empresa, com o mesmo cargo, os dois países também lideram a lista, com 7% e 9,4% de diferença, respectivamente.

Na prática, isso significa dizer que um cargo que remunere 1.500 dólares canadenses (R$ 5.916) a um nativo paga algo em torno de 1.359 dólares (R$ 5.360) a um imigrante com as mesmas tarefas. E, em um cenário geral, se a média salarial ronda os € 2.400 (R$ 15.180) para espanhóis, a título de exemplo, imigrantes no país recebem em média € 1.697 (R$ 10.730).

Essas disparidades caem com o passar das gerações. Os filhos da primeira leva de imigrantes vivem, no geral, uma desigualdade menor, ainda que também tenham o acesso em empregos com menores remunerações como o principal fator mantenedor da diferença de ganhos.

O amplo estudo envolveu equipes de ao menos 11 universidades e instituições de ensino, além de outras cinco agências governamentais e empresas de pesquisa, e as autoridades estatísticas dos nove países observados. Para uma análise geográfica mais aprofundada, os dados foram separados também por regiões de origem dos imigrantes.

As pessoas nativas do continente africano e do Oriente Médio são as mais afetadas pelas disparidades salariais. É também nesse grupo, no entanto, que se observa a maior mobilidade de progresso entre a geração imigrante e seus filhos.

Entre os motivos pelos quais os imigrantes terminam em empregos com menores remunerações, os pesquisadores destacam os contextos acadêmico e profissional dos quais vêm. Ainda reiteram, no entanto, que possíveis níveis de escolaridade ou especialização mais baixos não são totalmente responsáveis pelas variações de renda observadas.

“Essas conclusões destacam a importância de políticas como cursos de idioma, treinamentos profissionais, programas de auxílio na busca por trabalho, melhoria no acesso aos sistemas de educação nacionais, reconhecimento de qualificações estrangeiras e programas de integração”, que, segundo o texto, podem resultar em maior “acesso a informações e redes relevantes para o mercado trabalho”.

Neste contexto, as ações anti-imigração promovidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, minam os dois âmbitos pelos quais as diferenças de renda se alargam. Por um lado, a promoção de políticas contrárias à diversidade e inclusão —neste caso, especialmente racial— ameaçam empregos de imigrantes que, partindo do mesmo patamar acadêmico e profissional, podem ser prejudicados diretamente por seus empregadores.

Por outro lado, em um aspecto mais generalista —e que afeta os três quartos dos fatores que mais influenciam a disparidade—, as diretrizes públicas anti-imigrantes fomentam o que o passar das gerações começa a mitigar: a concentração das pessoas estrangeiras em locais de emprego que, não somente pela formação prévia, oferecem remunerações mais baixas que a média geral.

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