Itaú oferece até 10 salários adicionais a demitidos por baixa produtividade no home office, diz sindicato

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em negociação mediada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 2ª Região, o Itaú Unibanco ofereceu o pagamento de indenizações aos cerca de mil funcionários demitidos no início de setembro sob justificativa de baixa produtividade durante o home office, segundo o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Procurado, o banco disse que os termos finais do acordo ainda estão sob segredo de Justiça, a pedido do sindicato, e que o tribunal “conduziu as partes a um ambiente de conciliação e entendimento mútuo, contribuindo significativamente para a prevenção da judicialização coletiva e individual”.

De acordo com os sindicalistas, a proposta, apresentada nesta segunda-feira (6), envolve uma parcela fixa de R$ 9.000, o pagamento da 13ª cesta-alimentação e um adicional variável. Para quem trabalhou até 23 meses no banco, serão quatro pisos salariais do Itaú. Para quem trabalhou mais de dois anos, serão seis pisos salariais mais meio salário por ano trabalhado, com teto de dez salários.

Os impactados pela demissão em massa devem deliberar sobre a proposta em assembleia híbrida nesta quinta-feira (9). Se aprovada, a adesão à proposta deve ser individual em até seis meses.

Neiva Ribeiro, presidente do sindicato e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários avalia, a proposta como positiva.

“Ainda assim, reafirmamos nossa indignação e repúdio com relação à demissão em massa e a forma como a mesma foi conduzida pelo Itaú, reforçando também que a mobilização em torno do futuro do home office, da privacidade e transparência em ferramentas de monitoramento, seguirão até que os bancários, não só do Itaú, tenham seus direitos assegurados”, diz Neiva.

Segundo ela, o banco não aceitou fazer a reintegração dos funcionários, como inicialmente pleiteado pelo sindicato.

O banco afirmou, em nota, que os desligamentos não são demissão em massa. “Tratam-se de desligamentos plúrimos, nos quais foram consideradas as condições individuais de cada colaborador, sem objetivo de redução de quadro, e com fundamentação objetiva vinculada à aderência à jornada de trabalho e à atividade digital aferida em sistemas corporativos, sempre em conformidade com a legislação brasileira e com as políticas internas.”

RELEMBRE O CASO

Após quatro meses de monitoramento dos funcionários em regime híbrido ou totalmente remoto, por meio de softwares como o xOne, que coleta dados como tempo de uso do computador, o Itaú identificou cerca de 2.000 funcionários com poucas horas de atividade e inconsistências entre o saldo positivo do banco de horas e a jornada efetivamente trabalhada.

Em email enviado a funcionários, ao qual a Folha teve acesso, o banco diz que em “alguns desses casos, os mais críticos, chegaram a patamares de 20% de atividade digital no dia e ainda assim registraram horas extras naquele mesmo dia, sem que houvesse causa que justificasse”.

“Atitudes como essas prejudicam a todos, pois desgastam relações de trabalho, comprometem o ambiente de colaboração e minam a liberdade que conquistamos nos modelos mais flexíveis, como o modelo híbrido”, completou o banco em seu comunicado interno.

Esse levantamento foi repassado aos gestores responsáveis, que justificaram os números de cerca de metade dos nomes listados. Seria o caso de pessoas cuja natureza de trabalho não requer o uso contínuo de notebook, ou que utilizavam outra máquina ou que estavam passando por alguma questão de saúde. Mesmo assim, eles foram advertidos.

Os demais foram dispensados, independentemente de sua performance. Muitos dos demitidos haviam batido metas e recebido promoções.

Foram avaliados todos os empregados em regime híbrido ou totalmente remoto, o que representa cerca de 60% de 95 mil funcionários do banco, segundo último balanço. Ou seja, cerca de 1,75% foram demitidos.

A Folha ouviu de alguns profissionais dispensados que, se estivessem ociosos, as demandas estariam atrasadas, o que não era o caso. Eles também relatam que comunicavam aos superiores estarem livres para novos serviços, mas que ouviram da chefia que era assim que a área funcionava, sendo necessário esperar que demandas entrassem no sistema.

Muitos também relatam passar horas em reuniões pela plataforma Microsoft Teams. A desenvolvedora do xOne afirma que o monitoramento leva em conta sistemas de videoconferência e chamadas.

Ao contra-argumentar, os funcionários teriam ouvido de seus coordenadores que eles não tinham poder de decisão sobre o desligamento, que teria sido uma decisão da liderança do banco.

Advogados trabalhistas dizem que a fiscalização do teletrabalho é legal, desde que prevista em contrato e comunicado aos funcionários.

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