Livro mostra como manipulação e visão reducionista da história dão lugar a fascismo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para Jason Stanley, a democracia começa -e pode terminar- na sala de aula. Em “Apagando a História: Como os Fascistas Reescrevem o Passado para Controlar o Futuro”, o filósofo mostra como as batalhas em torno da educação não são simples disputas pedagógicas, mas parte de um projeto político para criar uma narrativa única da nação, apagar memórias incômodas e formar cidadãos dóceis, prontos para seguir líderes que prometem simplificar um mundo complexo.

Stanley identifica cinco características recorrentes da “educação fascista”: exaltação da grandeza nacional, culto à pureza, insistência na inocência da pátria, papéis rígidos de gênero e a demonização da esquerda.

Essa matriz, lembra ele, reaparece em iniciativas como a campanha organizada contra o 1619 Project, uma iniciativa de repensar a história dos EUA a partir da chegada dos primeiros escravizados africanos ao território, no século 17. Também aparece na deturpação da teoria crítica da raça e em tentativas de eliminar referências à diversidade sexual e de gênero dos currículos americanos. O objetivo não é apenas ignorar a escravidão, o genocídio indígena ou a contribuição de imigrantes não brancos, mas instalar no lugar um mito em que a grandeza americana estaria restrita a seus fundadores brancos.

O livro conecta essas práticas a experiências históricas. O nazismo reescreveu a história alemã para excluir a contribuição judaica e legitimar o expansionismo. As leis de segregação racial Jim Crow, nos EUA, criaram por décadas uma ordem autoritária sem necessidade de um ditador carismático. A lição, segundo Stanley, é clara. Não é preciso um líder fascista para haver sistemas fascistas. Estruturas institucionais podem cumprir essa função com a mesma brutalidade.

Essa chave de leitura ganha força quando o autor analisa a guerra da Ucrânia. Para ele, a invasão russa não se sustenta apenas em objetivos militares, mas em uma narrativa revisionista: a de que a Ucrânia seria uma nação “artificial”, destinada a ser parte da Rússia. O apagamento deliberado da história e da identidade ucranianas fornece a justificativa ideológica para a violência. Moscou não busca apenas ocupar território, mas destruir a capacidade de um povo de narrar seu próprio passado.

Jason Stanley nasceu em 1969, é filósofo e professor, e tornou-se uma das principais vozes sobre autoritarismo no século 21. Em 2024, transferiu-se de Yale para a Universidade de Toronto, citando a deterioração política dos EUA. É autor de “How Propaganda Works” (2015), sobre os mecanismos da manipulação retórica, e de “How Fascism Works” (2018), que analisa os elementos centrais do autoritarismo moderno.

Com escrita clara e exemplos contundentes, “Apagando a História” mostra que a memória coletiva é o campo onde se decide se sociedades permanecerão democráticas ou se deixarão capturar por narrativas únicas. Democracias exigem pluralidade de perspectivas; já regimes autoritários sobrevivem apenas pelo esquecimento. Proteger a história, em toda a sua complexidade e contradições, é proteger a própria democracia.

Apagando a História

Preço R$ 56 (224 páginas)

Autoria Jason Stanley

Editora L&PM (2025

Avaliação Bom

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